Italianos relatam à Folha situação no país em meio à epidemia de coronavírus
País europeu é o terceiro com mais casos no mundo, com mais de 650 casos e 17 mortes
País europeu mais atingido pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), a Itália vive uma série de restrições impostas pelo governo. O vírus começou a se espalhar no país a partir das cidades de Codogno e Vo', que ficam, respectivamente, nas regiões da Lombardia e do Vêneto, no Norte do país.
Os dados mais recentes, atualizados nesta sexta-feira (28), apontam para 655 casos confirmados e 17 mortes, números que posicionam a Itália em terceiro lugar em casos em todo o mundo, atrás apenas da China continental (78.824 casos) e da Coreia do Sul (2.337). Dos três casos suspeitos sob em investigação em Pernambuco, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), todos são de pessoas que estavam na Itália.
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A Folha de Pernambuco conversou com três italianos, que detalharam como está a situação no país em meio à epidemia. O médico aposentado italiano Celso Cavarero, de 73 anos, mora em Mondovi, localizada no Norte da Itália, região com maior número de casos no país. A cidade onde ele reside, a princípio, é considerada uma área livre do vírus. Apesar disso, há um clima de "medo generalizado", segundo o médico contou à reportagem.
"Escolas, museus e locais de encontro estão fechados em muitas regiões. As funções da Igreja estão limitadas para evitar contatos entre as pessoas. Esse medo generalizado, particularmente na região de Milão, fez as pessoas comprarem grandes quantidades de alimentos, com medo de ficarem presas na casa. Além disso, os estoques de máscaras de proteção e limpadores de mãos acabaram", disse Celso.
Ainda são registrados episódios de racismo contra chineses, como se fossem propagadores da doença. "Há também fenômenos de racismo interno, e as regiões do sul não querem a presença de cidadãos do norte. Na minha opinião, o clima de medo que gera esses fenômenos é o pior e mais grave efeito da epidemia, com implicações políticas que considero revoltantes. Muitos políticos se aproveitam disso. Os jornais tiveram um papel nisso: [esta semana] as primeiras vinte páginas do jornal que eu costumo ler eram dedicadas ao coronavírus", acrescentou o médico.
Apesar de não viver no epicentro da epidemia, Celso Cavarero afirmo que, a princípio, os moradores de Mondovi permanecem com um comportamento considerado "normal". "Não vi grandes mudanças. Basicamente, contatos muito próximos são evitados, as mãos são lavadas frequentemente e com maior cuidado, máscaras são compradas para serem usadas em caso de necessidade", detalhou, dizendo que tenta viver normalmente e sem se deixar influenciar pelas circunstâncias.
Estudante de Neuropsicomotricidade, Vincenzo Cicciarella, 29 anos, mora em Roma, capital localizada no centro do país. Segundo ele, ainda não há mudança no dia a dia na região. "Algumas precauções foram tomadas em toda a Itália, então também em Roma: sair o mínimo possível, quem pode trabalhar de casa que o faça sem sair, quem está doente que fique em casa até a doença passar. As recomendações principais são de limpar muitas vezes e muito bem as mãos e espirrar nos guardanapos e não entre as mãos", contou.
"Há pessoas que se preocupam demais, não deixando as crianças brincar, fechando as lojas, evitando sair de casa, e outras que não entendem que algumas precauções são necessárias, sobretudo nas áreas chamadas 'vermelhas', onde há o coronavírus e onde há novas regras. Acho isso normal, o povo é grande e claramente somos todos diferente. A mensagem que tem que passar é que, tomando alguns cuidados, o perigo de contágio é muito baixo", continuou Vincenzo.
Já o agricultor Giancarlo Volpato, 59 anos, que vive na região de Veneto, no Nordeste da Itália, classifica o sistema sanitário italiano como "muito sólido e eficiente". "Aqui na minha região não mudou em nada a nossa vida, continua como antes. Não estou nada preocupado e espero que a situação volte à normalidade o mais breve possível nas duas zonas isoladas do cordão sanitário, que está prontamente assistido para conter a difusão do vírus. Estou otimista e creio que a situação voltará logo à normalidade", pontuou. O italiano ressalta que pretende seguir os conselhos das autoridades sanitárias para não criar alarmismos.
*Com colaboração de Lourdes Viana Vinokur


