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Lampião, o número 1

Após anos de ataques a cidades sertanejas, a fama de Lampião ganhou o mundo, tanto que, ao morrer, sua cabeça foi requisitada por várias instituições, até mesmo da Europa, interessadas em estudar seu cérebro.

Neste 28 de julho de 2018 se comemora a morte daquele que foi considerado o bandido mais perigoso do Brasil na década de 30 do século passado: Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião. O “número 1”.

Nascido em Serra Talhada, nunca pisou em capital alguma. Construiu sua fama de mau percorrendo os sertões dos estados nordestinos. Morreu assassinado em Sergipe, na Fazenda Angicos, com um único tiro. Decapitado, teve seu corpo abandonado e sua cabeça levada para Alagoas, juntamente com a da sua companheira, Maria Bonita, e a de outros nove cangaceiros.

Após anos de ataques a cidades sertanejas, a fama de Lampião ganhou o mundo, tanto que, ao morrer, sua cabeça foi requisitada por várias instituições, até mesmo da Europa, interessadas em estudar seu cérebro.

Quem promoveu a morte de Lampião foi Getúlio Vargas que, dava início à sua ditadura do Estado Novo e não estava nada satisfeito com aquela bagunça no seu quintal. Era imprescindível pôr fim ao mito, até porque Lampião não era só um bandido que atuava há 16 anos despertando medos e paixões, mas uma força política que atendia interesses específicos regionais. Sem falar que, para o Estado Novo, Lampião representava algo bem demodê.

Muito se falou sobre o impacto que ele provocou na estética sertaneja. Lampião, de fato, deixou fortes influências na região, sentidas até os dias de hoje. Influências tão variadas que vão das roupas e acessórios usados por gente de todos os cantos à forma de atuação da polícia no Sertão – esse último aspecto, tema da reportagem especial da edição de fim de semana da Folha de Pernambuco, a Folha Mais.

Muitas lendas cercam esse mito. A força de Lampião supera o tempo, as evoluções sociais, o crescimento das cidades e as transformações impostas pela web. Lampião vai e vem no imaginário nordestino. Há quem o idolatre como um Hobin Hood, há quem o aponte como corrupto e ladrão, bandido da pior espécie. Muitas históricas o cercam e muito folclore.

Há quem acredite que o cangaceiro não morreu em Angicos, assim como em muitas outras ocasiões em que se noticiou seu fim. Foram muitos boatos, um deles, inclusive, foi notícia no jornal norte-americano The New York Times (que meses depois, de fato noticiou sua morte verdadeira).

Para alguns, após o episódio da decapitação em Sergipe – quando teriam usado um cabeça falsa para demostrar sua morte -, Lampião teria ido viver longe do cangaço, no interior do Brasil. Teria morrido entre as décadas de 60 e 70, conforme variadas fontes.

A lenda do cangaceiro faz lembrar a história mitológica de D. Sebastião, que partiu para a Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, e desapareceu, gerando a crença que voltaria para salvar o Reino de Portugal de todos os problemas. A falsa morte forjando mitos. Ninguém espera que ele, Lampião, volte, mas muitos se recusam deixá-lo ir...

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