Líder nato e bem amado no futebol pernambucano
Sujeito educado no trato com a imprensa, Carlos Alberto Silva também tinha o outro lado - não costumava levar desaforos para casa.
Em 1983, após dirigir o Atlético Mineiro, Carlos Alberto Silva, falecido nesta sexta-feira (20), foi convidado para assumir o Santa Cruz, presidido por Vanildo Aires. Nos primeiros dois turnos, o treinador amargou derrotas e viu Sport e Náutico conquistarem as etapas. Faltava o terceiro turno, dividido em duas fases. O mineiro já havia armado o time com o ex-júnior Zé do Carmo, o promissor lateral-direito Ricardo Rocha e o meio de campo com o experiente Ângelo, egresso do Galo mineiro. Na ponta de lança, um sergipano hábil e veloz, Henágio. O Santa engrenou, conquistou a última fase do terceiro turno, bateu o Sport na decisão e provocou o supercampeonato, que conquistou numa final com o Náutico. Carlos Alberto entrava de vez na história do futebol pernambucano.
Dois anos depois, fora contratado pelo Sport a peso de ouro pelo presidente Roberto Massa, que atendeu a todos os seus pedidos, inclusive a contratação de Henágio, o ídolo do histórico rival. Por um desses caprichos do futebol, o time rubro-negro nem chegou a disputar a final do Pernambucano, conquistada pelo Náutico diante do Santa. Mas por seu trabalho e sua seriedade, Carlos Alberto recebeu poucos dias depois da desclassificação um abaixo-assinado de mais de uma centena de torcedores do Sport, pedindo para que permanecesse no clube, em 1986, na temporada seguinte. Não era para menos, ele havia levado o Sport à fase final do Campeonato Brasileiro, fazendo uma campanha que chamou a atenção.
"Aquilo pra mim foi como as homenagens que fizeram a Telê Santana, após a perda do Mundial de 1982", comentou, em fevereiro de 2014, em conversa com este repórter numa de suas passagens pelo Recife para ser homenageado pelo Santa Cruz durante a passagem do centenário do clube. Carlos Alberto sempre foi muito grato aos pernambucanos, porque, aqui, sua carreira ganhou novo impulso. Recebeu convite para dirigir o Porto, onde foi campeão português em duas temporadas. Depois, dirigiu o La Coruña, da Espanha.
Sujeito educado no trato com a imprensa, Carlos Alberto Silva também tinha o outro lado - não costumava levar desaforos para casa. Certa vez, dirigindo o Sport, deixou o banco de reservas e deu um pique atrás do meia Neto, do Santa Cruz, jogador que havia dispensado do elenco rubro-negro. Após um clássico em que os tricolores bateram o Leão, o atleta resolveu ironizar o ex-comandante ao passar próximo a ele. A turma do deixa-disso entrou em cena para segurar o treinador, enquanto Neto seguia acelerado para entrar no túnel.
Título brasileiro
Em 1978, o Brasil vivia sob a ditatura militar, o almirante Heleno Nunes presidia a então CBD (Confederação Brasileira de Desportos), enquanto o capitão reformado do Exército, Cláudio Coutinho, acabara de ser "campeão moral" na Copa do Mundo conquistada pela Argentina. O Campeonato Brasileiro havia começado em março. Era o tempo do jargão "Onde a Arena vai mal, um clube no Nacional". Assim, o partido que apoiava o regime militar oferecia o circo ao povão e o Brasileirão inchava ano a ano. Em 78, foram 74 clubes.
Numa competição com o Palmeiras, de Ademir da Guia, o Internacional, de Falcão, Caçapava e Batista, e o Flamengo de Zico, Adílio e Cia, um time do interior paulista, como o Guarani, jamais seria considerado favorito. Era um acinte para os "grandes" do futebol. Mas eis que o Bugre resolveu se insurgir, assumindo o papel de David em meio aos gigantes da época.
Sob o comando do alviverde estava o mineiro Carlos Alberto Silva. Formado em Educação Física, dirigira a Caldense no ano anterior. Como o clube campineiro vivia uma crise financeira brava, o treinador resolveu promover alguns pratas da casa, mesclando-os a atletas experientes, como o goleiro Neneca (ex-Náutico) e o volante Zé Carlos (ex-Cruzeiro).
A mistura deu liga. O Guarani engrenou e saiu derrubando os gigantes Brasil afora. Após as fases iniciais, clubes de tradição sentiram o peso do Bugre. O bicampeão brasileiro Internacional levou de 3x0, em pleno Beira-Rio. O Vasco da Gama caiu em seu próprio reduto, perdendo os jogos eliminatórios.
Na final, o Palmeiras, com Emerson Leão no gol. E o Guarani passando por cima com um time que até hoje vive na memória de seus torcedores: Neneca, Edson, Mauro, Gomes e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. Desses, Renato, Zenon e Careca defenderam a Seleção Brasileira, com o terceiro transferindo-se depois para o São Paulo.
Pela Seleção Brasileira, Carlos Alberto foi vice-campeão olímpico em Seul, comandando um time que tinha a base tetracampeã em 1994, com jogadores como Taffarel, Dunga, Jorginho e Romário.

