L'Oréal vai retirar termos como 'clareador' de seus produtos
Várias empresas estão em movimento semelhante após protestos antirracistas pelo mundo
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A gigante francesa do setor de cosméticos L'Oréal decidiu remover alguns termos, como "clareador", da descrição de seus produtos, em um contexto mundial de protestos antirracismo. "O grupo L'Oréal decidiu remover os termos branco/clareador (white/whitening), claro/clareamento (fair/fairness, light/lightening) de todos os seus produtos destinados a homogeneizar a pele", afirmou a empresa em comunicado publicado em inglês, neste sábado (27), sem dar mais detalhes.
A decisão foi tomada depois que a filial indiana da Unilever anunciou na última quinta-feira (25) que mudaria o nome de seu creme para clarear a pele, o "Fair&Lovely" (algo como "Clara&Bonita"), diante de uma campanha considerada racista.
A multinacional anglo-holandesa do setor de alimentação e de cosméticos prometeu não usar mais o termo "claro" ("fair"), afirmando estar "comprometida com celebrar todos os tons de pele". Nos Estados Unidos, em especial, mas também na França, na Índia, ou na Austrália, as marcas estão sob pressão, diante da amplitude dos protestos contra o racismo que se espalharam pelo mundo todo. As manifestações foram deflagradas após o caso de George Floyd, um afro-americano que morreu após ser sufocado, por quase nove minutos, por um policial branco em Minneapolis.
Cremes clareadores em Bollywood
Na Índia, os cremes clareadores são altamente cobiçados, especialmente entre as estrelas de Bollywood. Uma de suas atrizes mais conhecidas, Priyanka Chopra, foi amplamente criticada nas mídias sociais por apoiar o movimento "Black Lives Matter" e, ao mesmo tempo, continuar sendo embaixadora de uma dessas marcas.
"Essa nunca foi a nossa intenção. Uma pele saudável é uma pele bonita", acrescenta a Johnson and Johnson, que anunciou o fim de suas linhas Neutrogena Fine Fairness e Clear Fairness da Clean & Clear.
Mudanças em vários países
Nas últimas semanas, surgiram várias empresas decididas a mudar identidades visuais cheias de estereótipos raciais. A American Quaker Oats (da PepsiCo) prometeu remover, até o fim do ano, sua "Aunt Jemima" de seus produtos. "Tia Jemima" é uma mulher negra que ilustra embalagens de "maple syryp" (ou xarope de bordo) e de preparo para panquecas há 130 anos.
Até o editor das cartas Magic, uma referência para os amantes dos jogos de carta, anunciou ter removido várias imagens com representações, ou alusões, racistas. Na Austrália, os doces "Red Skins" e "Boys", fabricados há décadas pela Allen's, em breve mudarão de nome, devido às suas "conotações", prometeu o grupo Nestlé.
A fabricante de alimentos Mars disse estar "pensando" em mudar seu famoso Uncle Ben's, a imagem de um homem negro que aparece estampada em seus produtos. Já a Colgate-Palmolive anunciou que pretende "reexaminar" seus cremes dentais Darlie, vendidos na Ásia, cujo nome significa "creme dental para pessoas negras" em chinês.
Alguns grupos decidiram suspender sua publicidade nas mídias sociais, acusados de permitir a proliferação de comentários de ódio. Verizon, Honda, Ben & Jerry's (Unilever), Patagonia ou North Face participam de uma campanha de boicote do Facebook, lançada por organizações da sociedade civil americana.
Já a Apple lançou uma iniciativa de "igualdade e justiça racial" de US$ 100 milhões para educação, parcerias e empresas de propriedade de pessoas negras. A PepsiCo anunciou um plano de US$ 400 milhões em cinco anos "para apoiar comunidades negras e aumentar sua representação" dentro do grupo.
Para além da mudança de nome dos produtos, no entanto, as empresas mostram um grande atraso em sua diversidade, principalmente entre os cargos de gerência. De acordo com um relatório de 2019 do Boston Consulting Group, apenas três afro-americanos e 24 mulheres administram as 500 maiores empresas, em termos de receita, nos Estados Unidos.

