Maioria dos mil feridos na explosão em porto no Irã recebe alta dos hospitais; número de mortos sobe
Tragédia pode ter relação com um erro no armazenamento e manuseio de carga de produtos químicos
A explosão no maior porto comercial do Irã no último sábado deixou ao menos 46 mortos, de acordo com um novo número divulgado nesta segunda-feira pela agência oficial de notícias Irna.
A tragédia ocorreu no porto de Shahid Rajaee, próximo ao Estreito de Ormuz, no sul do país, onde passam 85% das mercadorias do país e um quinto da produção mundial de petróleo.
Fontes citadas na imprensa internacional apontam que a explosão pode ter relação com um erro no armazenamento e manuseio de uma carga de produtos químicos destinada ao programa de mísseis da nação persa.
"O número de mortos no incêndio no porto subiu para 46", anunciou a agência de notícias oficial Irna nesta segunda. Ainda de acordo com a agência, a maioria dos mil feridos já recebeu alta dos hospitais.
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O sentimento de luto começou a se transformar em revolta após a explosão no porto de Shahid Rajaee, deixar dezenas de mortos e milhares de feridos. O Ministério da Saúde do Irã, citando poluentes tóxicos transportados pelo ar, declarou estado de emergência e instruiu as pessoas a ficarem em casa pela detonação no porto.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, determinou uma “investigação exaustiva para descobrir qualquer negligência ou intenção” como causa do incêndio e explosão subsequente, que afetou a área adjacente ao porto e cujo impacto foi sentido até 50 km de distância, segundo a agência de notícias Fars.
O presidente iraniano, Masud Pezeshkian, que também havia determinado a abertura de uma investigação, visitou ontem à tarde o local, cuja área afetada ainda estava em chamas.
"Vamos tentar nos ocupar das famílias que perderam seus entes queridos e vamos atender os feridos", afirmou Pezeshkian, segundo imagens retransmitidas pela televisão iraniana. Em uma foto divulgada por seu Gabinete, o mandatário aparece ao lado de um homem ferido na explosão.
As autoridades fecharam as estradas que levam ao local da explosão, e os meios de comunicação iranianos são os únicos habilitados a fazer imagens da região.
Manuseio inadequado
Sob condição de anonimato, uma fonte ligada à Guarda Revolucionária do Irã disse ao jornal americano New York Times que a explosão foi provocada por um carregamento de perclorato de sódio, um ingrediente importante na fabricação de combustível sólido para mísseis e foguetes.
A informação é similar à conclusão de uma análise da Ambrey Intelligence, uma consultoria privada de risco marítimo, que avaliou que os incêndios intensos que se espalharam entre os contêineres antes da explosão eram resultado do “manuseio inadequado de uma remessa de combustível sólido destinado ao uso em mísseis balísticos”.
A consultoria, citada pela rede britânica BBC, afirmou também ter conhecimento de que um navio de bandeira iraniana teria entregado "um carregamento de combustível de foguete de perclorato de sódio no porto em março de 2025".
A cúpula do regime iraniano, porém, nega qualquer relação entre a tragédia e seus programas militares. Sem fazer nenhuma referência a fins bélicos, o serviço de alfândega iraniano afirmou em um comunicado divulgado na TV estatal que a explosão provavelmente foi causada por um incêndio em uma "unidade de armazenamento de produtos químicos".
Em uma declaração também à TV estatal, o porta-voz do Ministério da Defesa, Reza Talaei-Nik, disse que "não havia e não há atualmente nenhum carregamento (...) de combustível militar ou de nível militar" na área do acidente.
O posicionamento oficial não convenceu alguns iranianos. As informações citadas pelas fontes internacionais repercutiram nas redes sociais do país, e questionamentos sobre o suposto carregamento de combustível sólido ganharam projeção. Muitos culparam as autoridades por incompetência.
Ajuda da Rússia
Em meio à pressão popular que se inicia, o governo tenta determinar a extensão dos danos ao crucial porto, localizado perto da cidade costeira de Bandar Abbas e que conta com muitos armazéns espalhados por 2.400 hectares, o equivalente a cerca de 3.400 campos de futebol.
Por meio de sua Embaixada em Teerã, a Rússia, aliada de Teerã, informou ter enviado ao país "vários aviões com especialistas" do Ministério de Situações de Emergência para ajudar em terra. A explosão ocorreu no momento em que as negociações nucleares entre o Irã e os Estados Unidos, inimigos há quatro décadas, aconteciam em Omã. Israel, que suspeita que a República Islâmica esteja buscando armas nucleares, vem travando uma guerra oculta contra seu inimigo declarado, Teerã, há anos para conter sua influência regional.

