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CELULARES

Mais interação e melhor concentração nas escolas finlandesas após a proibição de celulares

A lei que proíbe os celulares durante as aulas entrou em vigor no dia 1º de agosto em toda a Finlândia

Um aluno da turma 9F mostra como deposita seus smartphones em uma caixa especial no início do dia na escola abrangente de língua sueca Kungsvagens Skola, em 21 de agosto de 2025, em Sipoo, Finlândia.Um aluno da turma 9F mostra como deposita seus smartphones em uma caixa especial no início do dia na escola abrangente de língua sueca Kungsvagens Skola, em 21 de agosto de 2025, em Sipoo, Finlândia. - Foto: Alessandro Rampazzo / AFP

Os adolescentes se reúnem no corredor e animam o ambiente com suas conversas durante o recreio em uma escola na Finlândia, onde o uso de celulares está proibido desde o início do ano letivo, em agosto.

Na Kungsvägens Skola, que atende alunos de 13 a 15 anos em Sipoo, uma cidade a nordeste de Helsinque, os professores recolhem os telefones pela manhã e os guardam em uma sala trancada até o final do dia escolar.

A transição para esse modelo "superou as expectativas", afirma a diretora, Maria Tallberg, à AFP.

"Claro que no começo reclamaram um pouco, principalmente porque não podem usá-los durante os intervalos, mas no fundo entendem o motivo", diz Tallberg.

"Muitos também nos disseram que não percebiam o quão viciados eram em seus telefones", acrescenta.

A lei que proíbe os celulares durante as aulas entrou em vigor no dia 1º de agosto em toda a Finlândia, um país conhecido pela qualidade do seu sistema educacional.

No entanto, vários municípios e instituições de ensino optaram por estender a proibição também aos intervalos.

A medida chega em um momento em que muitos países expressam preocupação pelo impacto do uso de smartphones na saúde mental e física dos jovens, assim como na educação.

Diversos relatórios, incluindo um da Unesco em 2023, alertam sobre o risco de que os celulares prejudiquem o aprendizado.

Vários países já adotaram restrições semelhantes, entre eles Coreia do Sul, Itália, Países Baixos e França.

"Muito diferente" 
As aulas agora estão mais tranquilas e os alunos menos distraídos, confirma Annika Railila, professora de química na Kungsvägens Skola.

"Antes, tínhamos que lembrá-los em quase todas as aulas de que os telefones deveriam ficar nas mochilas e que não poderiam ser usados durante as aulas", explica.

Segundo ela, os alunos também socializam mais durante o recreio. "Finalmente podemos ver seus olhares e rostos, o que é muito mais agradável do que cumprimentar alguém que está olhando para uma tela", aponta.

O ambiente tornou-se "muito diferente", opina Kie Lindfors, de 15 anos. "Agora falo mais com os outros e na escola temos uma sala com jogos de tabuleiro e outras coisas. Nos intervalos, vamos lá para jogar, é muito divertido."

Sua colega Lotta Knapas, por outro lado, acha "um pouco absurdo" que tirem seus telefones o dia todo. A escola ficou "mais barulhenta", reclama.

"Ensinar a lentidão" 
O ministro da Educação finlandês, Anders Adlercreutz, disse à AFP que esta lei foi aprovada após a queda nos resultados acadêmicos.

"Na Finlândia, como em muitos outros países, notamos um declínio nas competências de leitura e matemática (...) e eliminar as distrações na sala de aula ajuda", explica o ministro.

Adlercreutz insiste, porém, que isso não significa que as escolas estão virando as costas para o mundo digital.

"É importante que as crianças tenham livros físicos, mas também que desenvolvam competências digitais", afirma.

E acrescenta: "Em um mundo que muda tão rápido, o papel da escola talvez também seja ensinar a lentidão: ser um espaço onde se precise se concentrar em textos mais longos, focar em uma única tarefa e trabalhar com constância para alcançar um objetivo a longo prazo".

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