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Metanol: danos em adolescentes são mais graves; entenda

Fatores fisiológicos, como menor peso corporal e sistema nervoso ainda em desenvolvimento, ajudam a explicar por quê

Metanol em SP: secretário diz que faz 'busca ativa' em bares onde pessoas foram intoxicadasMetanol em SP: secretário diz que faz 'busca ativa' em bares onde pessoas foram intoxicadas - Foto: Governo de São Paulo/Divulgação

O secretário de Saúde do estado de São Paulo, médico Eleuses Paiva, disse, em entrevista ao jornal O Globo, que há pelo menos dois menores de idade entre os casos suspeitos de contaminação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas no estado.

Segundo Paiva, os adolescentes ingeriram os produtos fora de casa. O cenário é preocupante, já que os efeitos tóxicos da substância podem ser mais nocivos entre os jovens.

"A quantidade de metanol letal é estimada em 30mL a 60 ml, mas é significativamente inferior entre crianças e adolescentes, já que ela varia de acordo com a idade e o peso. Então é um público mais suscetível aos efeitos nocivos do metanol por uma combinação de fatores fisiológicos, como a menor massa corporal e o sistema nervoso ainda em desenvolvimento — avalia Leonardo André Silvani, biomédico especialista em Patologia e Toxicologia.

Diego Rissi, perito legista e toxicologista na Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro e doutorando em Saúde Pública na Fiocruz, concorda que, embora não existam muitos estudos abordando o efeito do metanol entre adolescentes, faz sentido deduzir que os danos são maiores, por conta também do metabolismo:

"A grande questão está na capacidade de metabolização do indivíduo. Quanto mais e mais rápido ele metaboliza o metanol, mais produtos tóxicos serão formados. Então, de forma dedutiva, um fígado mais jovem e saudável vai metabolizar mais rapidamente, o que pode agravar o quadro".

O metanol é um álcool com estrutura química parecida com a do etanol, que é aquele utilizado nas bebidas alcoólicas. No entanto, o metanol não é seguro para consumo humano, sendo destinado apenas a aplicações industriais e laboratoriais, como para solventes, combustíveis e matéria-prima de outros produtos.

Isso porque, enquanto o etanol é metabolizado em acetaldeído e depois em acetato, que são menos tóxicos e liberados para fora do corpo por meio da urina, o metanol é quebrado em em formaldeído e, depois, em ácido fórmico. Esse último é o subproduto altamente nocivo para o organismo.

"E geralmente em adolescentes o consumo de bebidas alcoólicas ocorre de forma mais exacerbada, como em festas, baladas, expondo a um risco de uma dose maior caso a bebida tenha sido adulterada com metanol", complementa Silvani.

Sobre públicos mais suscetíveis, Rissi acrescenta que aqueles que têm o hábito de consumir bebidas alcoólicas com frequência, independentemente da idade, poderão estar em maior risco, já que as enzimas que quebram as duas substâncias no fígado são as mesmas:

"Uma coisa é fato, se a pessoa é um bebedor frequente de bebida alcoólica, ele terá mais dessas enzimas que metabolizam o etanol e o metanol devido ao processo da tolerância, portanto esses serão mais suscetíveis à intoxicação, já que os metabólitos tóxicos se formarão mais rapidamente e em maior proporção".

Até o momento, segundo o Ministério da Saúde, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) recebeu a notificação de 43 casos de intoxicação por metanol, sendo 39 em São Paulo (10 confirmados e 29 em investigação) e cinco em investigação em Pernambuco.

Além disso, foi confirmado um óbito, em São Paulo, e outros sete suspeitos (cinco em SP e dois em Pernambuco).

De acordo com a Secretaria de Saúde de São Paulo (SES-SP), os sintomas iniciais, de até 6 horas após a ingestão, são dor abdominal intensa, sonolência, falta de coordenação, tontura, náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, taquicardia e pressão arterial baixa.

Mais tarde, entre 6 horas e 24 horas, a intoxicação pode gerar para visão turva, fotofobia, visão embaçada, pupilas dilatadas, perda da visão das cores, convulsões, coma, acidose metabólica grave. O paciente pode evoluir para cegueira irreversível, choque, pancreatite, insuficiência renal, necrose de gânglios da base com tremor, rigidez, lentidão dos movimentos e morte.

"O metanol pode aparecer em bebidas alcoólicas de duas formas. Quando há fraude e adulteração, com alguém tentando reduzir custos ao substituir o álcool próprio para consumo (o etanol) por metanol, ou acidentalmente por erros em processos de destilação, quando partes da bebida que contêm metanol não são corretamente separadas, o que acontece principalmente em destilados produzidos de forma clandestina", diz Siddhartha Giese, analista químico do Conselho Federal da Química (CFQ).

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