Meu querido Alan, Alanzinho, Z.
Você alimenta minhas memórias como alguém que bota gás naquelas lamparinas que alumiavam até o céu, pra onde eu espero que a gente vá, inclusive Baianin, que nunca mais vi. Mas o bem querer não diminui.
Quero homenagear dois caras que foram importantíssimos na minha vida e que me apontaram caminhos:
Nas conversas, nos atos, na generosidade e rara inteligência.
Eles São José Círio Ferreira de Farias e Carlos Rodrigo Castor.
CÍRIO E DIDIGO.
De Círio recebi respeito, informações preciosas de tudo que acontecia no mundo.
Quando ele voltava de férias ele vestia uma bacana CALÇA LEE E UM MOCASSIM de caubói. As meninas deviam se estapear, eu e os pobres mortais das chapadas calçando made in Seu Nozinho Siqueira. Que também era bom.
Aquilo devia ser a última novidade de Recife, São Paulo e Paris de la France: Igualité, Fraternité e Liberté.
Quanto a São Paulo, não confundir com o São Paulo de Dió, que é o melhor São Paulo e onde eu fiz felizes colheitas de milho, feijão, melancia e curumins anguria, o nosso maxixe. Hehehe. Ora bolas, Pitó.
Círio me revelou os festivais da Record, falou dos Beatles, de Roberto, do momento político do Brasil. Ouvi tudo maravilhoso/maravilhado, eu, um menino magrinho que naquele momento estava diante de um mestre que pegou na minha mão e me apontou o futuro. E eu emburaquei.
Ele ainda comprava pelo Reembolso Postal: revistas, pôsteres(um de Elvys é inesquecível), GIBIS e material de desenho, pois ele era um grande desenhista, tipo assim Ray Moore, primeiro desenhista do Fantasma.
Ele não me ensinou a comprar pelo Reembolso, paciência.
Em 1967 ele me presenteou com seus preciosíssimos gibis, cuidadosamente guardados numa maleta, só ele tinha a chave.
Foi, sem dúvida, o melhor presente que recebi em toda minha vida.
Alguns gibis ainda estão comigo e passarão para os meus filhos e netos.
CÍRIO, OBRIGADO POR TUDO E TANTO, meu amigo.
De Didigo, uma extraordinária amizade, algo que faz com que você acredite que o mundo vale a pena e que o homem é bom por natureza. Essa generosa amizade ele ofereceu a toda minha família e cabe aqui dizer que nós o amávamos muito, com o amor humano possível.
O seu encantamento foi doloroso para todos nós, a notícia nos impactou.
Se Círio trazia a informação político/social, para eu me armar, Didigo trazia a informação Pop.
Ele e os seus GENIAIS era inadmissível e inacreditável para nós.
Lá em casa tínhamos toda a coleção da revista o Cruzeiro, e John, Paul, George e Ringo estavam sempre por ali.
Pela primeira vez na vida eu quis ser bonito, vestir belas roupas e tocar guitarra, até porque, naquela época eu estava querendo ser John Lennon ou Alain Delon.
Estava cansado dos “foras” das meninas de Seu Sobreira e de Seu Zé Moisés. Se eu fosse Lennon ou Delon não ficava uma viva.
Como esses caras estavam longe e eu não tinha dinheiro para a plástica impossível, aí eu cismei de ser Didigo. Devia ter dito isso a ele.
Didigo jamais tratou a mim e aos meus com qualquer descortesia e falta de educação.
Esse é o jeito da família dele que eu conheço e gosto. E aí o felizardo sou eu!
Ele, DIDIGO, como CÍRIO, são dois fora da curva na compreensão do humano, demasiadamente humano.
Eles são homens de um novo tempo que um dia virá, se Deus quiser, e o mundo será melhor e o Senhor terá cumprido apelos desse povo pequeno e humano que somos.
DIDIGO, OBRIGADO POR TUDO E TANTO, meu amigo.
