Seg, 08 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
terremoto

Militares de Mianmar abrem fogo contra comboio de ajuda humanitária em região afetada por terremoto

Trabalhadores humanitários chineses teriam entrado em zona em que tropas da junta militar que governa o país estão combatendo um grupo rebelde que se opõe ao regime

Chefe da junta militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, visita sobreviventes do terremoto Chefe da junta militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, visita sobreviventes do terremoto  - Foto: Sai Aung Main/AFP

Militares do Exército de Mianmar abriram fogo contra um comboio humanitário da Cruz Vermelha Chinesa na noite de terça-feira, na região de Ommati, no norte do estado de Shan, uma das áreas afetadas pelo terremoto de magnitude 7,7 que provocou morte e destruição no país.

O incidente acontece em um momento em que as operações de busca e salvamento ainda tentam encontrar sobreviventes cinco dias depois do tremor, quando 2.886 mortos já foram confirmados pelas autoridades — e período no qual a junta militar que tomou o poder em 2021 não interrompeu os combates com grupos rebeldes pró-democracia.

O porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun, afirmou que tiros de advertência foram disparados contra um comboio de nove veículos não parou ao se aproximar de uma área de conflito. Os soldados teriam tentado usar um jogo de luz quando estava a uma distância de cerca de 200 metros para impedir a progressão dos veículos, mas ao não conseguirem, dispararam três tiros para cima.

 

Interlocutores do Exército de Libertação Nacional Ta'ang (TNLA), um grupo rebelde armado, disseram que as tropas do governo teriam disparado no comboio com "metralhadoras pesadas" enquanto os veículos seguiam a caminho de Mandalay. O grupo também afirma que a organização humanitária teria informado sua rota e seus planos de entrega de ajuda — o que os militares negam.

Equipes internacionais de ajuda e resgate têm chegado a Mianmar, incluindo da China, desde o terremoto matou e deixou milhares desabrigadas. Contudo, o acesso às áreas mais atingidas tem sido dificultado por estradas destruídas, telecomunicações precárias e a violência contínua entre a junta e grupos armados incluindo relatos de bombardeios das Forças Armadas contra posições rebeldes após o terremoto.

O estado de Shan em particular tem sido palco de intensos combates entre a junta e grupos armados de minorias étnicas que tomaram o controle de grandes áreas do território. A junta e o TNLA têm entrado em confronto perto da vila de Ommati, segundo Zaw Min Tun, acusando que "alguns grupos" estariam "tirando vantagem política" das missões de resgate.

Três grandes grupos armados de minorias étnicas anunciaram na terça-feira uma pausa de um mês nas hostilidades para facilitar a distribuição de ajuda humanitária muito necessária. As Forças de Defesa Popular, um grupo criado por dissidentes após o golpe militar de 2021, já haviam anunciado um cessar-fogo parcial após o terremoto.

No entanto, o líder da junta, Min Aung Hlaing, respondeu que "atividades de defesa" contra "os terroristas" continuariam.

"Se alguns grupos étnicos armados não estão atualmente envolvidos em combate [...], estão se organizando e treinando para realizar ataques", disse em um comunicado na noite de terça-feira.

A enviada especial da ONU para Mianmar, Julie Bishop, pediu a todas as partes que "concentrem seus esforços na proteção de civis, incluindo trabalhadores humanitários, e na prestação de assistência".

— Não se pode pedir ajuda com uma mão e bombardear com a outra — disse o especialista em Mianmar da Anistia Internacional, Joe Freeman.

Quando solicitado a comentar o incidente, o Ministério das Relações Exteriores da China disse a repórteres que o equipamento enviado pela Cruz Vermelha Chinesa havia chegado e que a equipe e os suprimentos estavam "seguros no momento".

"Pedimos a todas as partes em Mianmar que forneçam um canal desimpedido para ajuda", pronunciou-se na quarta-feira.

Fio de esperança
À medida que o tempo passa, a esperança de encontrar sobreviventes sobre os escombros vai mudando o perfil para uma operação de resgate de corpos. Contudo, alguns casos em particular continuam alimentando a esperança da população de encontrar seus entes queridos com vida.

Dois trabalhadores foram retirados dos destroços de um hospital de Naipidau, a capital do país, após cinco dias sob os escombros. Atordoado e coberto de poeira, mas consciente, um jovem de 26 anos foi retirado por uma passagem aberta entre as ruínas e resgatado em uma maca no meio da noite, segundo um vídeo divulgado pelo corpo de bombeiros.

O balanço atualizado divulgado pela junta militar é de 2.886 mortos e 4.600 pessoas feridas. O número de desaparecidos está em 373. O terremoto também provocou uma destruição generalizada no país, pobre e devastado por quatro anos de guerra civil. (Com AFP)

Veja também

Newsletter