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Mistério genético do homem invertido

Há 23 anos, Antônio Felipe dos Santos descobriu, em exame de rotina, que era portador de um dos maiores enigmas da medicina, a inversão dos órgãos do tórax e abdômen

Antônio Felipe dos Santos, portador do situs inversosAntônio Felipe dos Santos, portador do situs inversos - Foto: Henrique Jeneci/Folha de Pernambuco

À primeira vista o operador de multimídia Antônio Felipe dos Santos, 43 anos, é um homem comum. Mesmo numa observação acurada, na­da lhe parece estranho, fora do lugar. Difícil imaginar que ele guarda no corpo um antigo segredo genético da humanidade, o situs inversus totalis: inversão dos órgãos do tórax e abdômen. Esse é um dos mistérios que especialistas ao longo da história médica ainda tentam desvendar. O coração de Antônio Felipe bate do lado direito, o fígado formou-se à esquerda e o baço foi para o lado oposto. Sem falar na ausência inexplicável de um rim. A ciência aponta para um quadro de acidente da concepção.

“Eu sempre conto que tenho o coração do lado contrário, o fígado no lugar do baço e o baço no lugar do fígado, mas as pessoas não acreditam”, relata. Não acreditam porque sua aparência é absolutamente normal.

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O diagnóstico do situs inversus foi um susto no início, porque aconteceu ao acaso, quando tinha cerca de 20 anos de idade. “Apresentei um distúrbio hepático. Isso fez com que eu fizesse um monte de exames. Foi quando descobriram que eu era diferente. A princípio, eu não sabia nem o que era um situs inversus. Eram palavras completamente novas. Foi quando soube que eu também não tinha o rim esquerdo. Daí em diante, comecei a pesquisar”, relembra.

Entenda o situs inversus

Apesar de médicos falarem sobre sua situação com propriedade, tranquilidade, e narrar que outras pessoas também viviam com o situs, até hoje Felipe nunca cruzou com alguém que seja igual a ele. O fato de não conseguir falar de igual para igual com alguém, por um momento fez a curiosidade sobre a inversão dos órgãos ser substituída por um certo receio do que poderia ser descoberto de forma associada.

“Depois eu não quis mais me aprofundar no assunto. Passei a pensar apenas em ter saúde”, disse. Na família dele não há caso conhecido desta situação invetida. As duas filhas, de 12 e 9 anos, não têm qualquer alteração como a dele.

Antônio Felipe dos Santos, portador do situs inversos

Ao longo dos anos, apesar do assunto ter virado banal para ele, ainda é motivo de preocupação, principalmente para a mãe. “Ela acha que devo andar com algo escrito, um laudo. Fica repetindo: se acontecer alguma coisa vão abrir você no hospital e como vai ser com tudo trocado?”.

Ele também já provocou sensação de estranhamento até mesmo no hospital. Há uns sete anos, precisou fazer um check-up cardiológico de rotina no Procape e deu um susto nos residentes. Preparado para monitoramento cardíaco do lado esquerdo do peito, o operador de multimídia acabou não contando para os profissionais que era destrocardio (coração do lado direito) e gerou um rebuliço entre a equipe, que não visualizava frequência cardíaca. O episódio entrou para a conta de “causos” do invertido divertido. 

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