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RECIFE

Moradores fecham Av. 17 de agosto em protesto à desapropriação para construção de ponte

Os protestantes alegam que a desapropriação dos seus imóveis está sendo conduzida de maneira irregular

Moradores da Vila Esperança protestam contra a desocupação de suas residências para a construção da Ponta Engenheiro Jaisme GusmãoMoradores da Vila Esperança protestam contra a desocupação de suas residências para a construção da Ponta Engenheiro Jaisme Gusmão - Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco

A manhã desta quinta-feira (24) começou com transtorno na Avenida 17 de Agosto, em Casa Forte, Zona Norte do Recife. Moradores da área fecharam uma das vias da estrada em protesto à desapropriação das suas casas para construir a ponte Jaime Gusmão, que fará a ligação do bairro à Iputinga, na Zona Oeste.

O protesto, iniciado bem no começo da manhã, foi finalizado por volta das 7h45. A Autarquia de Controle de Trânsito e Transporte do Recife (CTTU) esteve no local para guiar os veículos que ficaram congestionados na avenida.

Também foi enviada uma equipe do Corpo de Bombeiros para o local, que fez apagou o fogo causado pela queima de pneus que interditou uma das faixas na avenida. No momento, o trânsito segue normal novamente.

O protesto partiu dos moradores da comunidade Vila Esperança, que seria a principal afetada pela construção da ponte. De acordo com os residentes, cerca de 120 famílias já foram notificadas para sair de suas casas para construção não só da ponte, como também de um viário, que cortaria a rua, e alegam estar recebendo indenizações injustas da prefeitura como alternativas para o despejo.

"Além das 51 famílias que foram notificadas para sair, temos notícias para mais de 50 outras famílias recebendo cartas avisando o movimento da construção e tentando negociação. O problema é que muitas pessoas não possuem conhecimento o bastante para essa negociação, então os valores negociados estão muito baixos", revelou Helena Vicente, líder da comunidade Vila Esperança.

"Eu mesma fui afetada. Minha casa tem 107 m2, e recebi pouco mais de R$ 100 mil de indenização, o que é mais baixo do que deveria ser pago, porque eu mesma procurei casas com a mesma metragem que flutuam entre R$ 300 mil e R$ 400 mil. Para além da indenização, a prefeitura também prometeu a construção de conjuntos habitacionais para realocação dos moradores, que estão todos atrasados, enquanto alguns moradores precisam sair de suas casas agora e não podem pagar aluguéis ou comprar novos imóveis", completou.
 

Outra pessoa afetada foi Givanilda Lopes, 56 anos, que é manicure e mora há 33 anos na comunidade. Ela, que cuida de um filho com deficiência, afirma ter recebido uma indenização muito baixa e fez um apelo para que a situação seja resolvida de uma maneira melhor.

""Eu tenho um filho deficiente, não posso e não quero me mudar para qualquer lugar. Tenho que ir para um lugar calmo, para cuidar dele, e com o esses valores, não posso. É um absurdo o que está sendo feito e a prefeitura tem que conduzir isso melhor, porque esse viário pode passar por outro lado sem atrapalhar as nossas casas. Não queremos nos mudar e também não temos o dinheiro para comprar outra moradia digna", pontuou.

Segundo os moradores, o problema principal é a construção do viário que ligará a ponte à Avenida 17 de Agosto e que poderá provocar a saída de ainda mais famílias da comunidade em que vivem há muitos anos. Ao todo, estima-se que a Vila Esperança seja composta por mais de 200 casas.

"Precisamos de uma transparência maior, porque essa questão do viário, por exemplo, não é discutida ou disseminada, mas várias famílias estão sendo desocupadas imediatamente. É uma verdadeira zona de guerra se você for ver as áreas em que as demolições já começaram. As indenizações estão injustas e os conjuntos habitacionais prometidos não estão prontos, mas a obra continua e as pessoas ficam em alternativa", explicou José Diego, que vive na comunidade vizinha e acompanha de perto o que vem sendo vivido na Vila Esperança.

  • Moradores da Vila Esperança protestam contra a desocupação de suas residências para a construção da Ponta Engenheiro Jaime Gusmão. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Moradores da Vila Esperança protestam contra a desocupação de suas residências para a construção da Ponta Engenheiro Jaime Gusmão. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
  • Helena Vicente, moradora e líder comunitária da Vila Esperança. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Helena Vicente, moradora e líder comunitária da Vila Esperança. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
  • Givanilda Lopes, moradora da Vila Esperança. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Givanilda Lopes, moradora da Vila Esperança. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
  • Destroços de casas já demolidas para construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Destroços de casas já demolidas para construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
  • Destroços de casas já demolidas para construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Destroços de casas já demolidas para construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
  • Construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco
    Construção da ponte Jaime Gusmão que ligará os bairros de Iputinga, na Zona Oeste, ao de Casa Forte, na Zona Norte. Foto: Júnior Soares / Folha de Pernambuco

O que diz a Prefeitura
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura do Recife, que divergiu, através da Autarquia de Urbanização do Recife (URB), do que foi falado pelos protestantes, e garantiu ter realizado todas as desapropriações de maneira correta.

"A construção da ponte Jaime Gusmão e do habitacional Vila Esperança requer a desapropriação de 51 imóveis. Todos já foram negociados, incluindo 12 que foram objeto de negociação judicial, e 50 foram pagos. A URB esclarece que cada imóvel é avaliado individualmente e recebe um valor que varia de acordo com questões como existência de documentação legal, área construída e benfeitorias realizadas pelos moradores. Os valores oferecidos são baseados em tabela atualizada anualmente e validada pelos órgãos de controle, como Tribunal de Contas do Estado e Caixa Econômica Federal", revelou a URB em nota.

Ainda de acordo com a Autarquia, será construído "um conjunto habitacional, com 75 apartamentos, como opção de moradia para que as famílias residentes na Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) Vila Esperança/Cabocó, afetadas pela construção da Ponte Jaime Gusmão, possam permanecer no local. A obra começa nas próximas semanas, com investimentos em torno de R$ 13 milhões".

Na declaração, no entanto, a URB não menciona as casas que seriam afetadas pela construção do viário, uma das reivindicações principais da comunidade. Confira, abaixo, a nota na íntegra.

A Autarquia de Urbanização do Recife (URB) informa que a ponte Jaime Gusmão beneficiará diretamente cerca de 60 mil pessoas, criando uma nova ligação entre as zonas Oeste e Norte da cidade. É a primeira ponte a ser entregue na capital pernambucana em quase duas décadas e já está com mais de 80% de conclusão em sua etapa principal de obras, correspondente ao "tabuleiro" sobre o rio.

A construção da ponte Jaime Gusmão e do habitacional Vila Esperança requer a desapropriação de 51 imóveis. Todos já foram negociados, incluindo 12 que foram objeto de negociação judicial, e 50 foram pagos. A URB esclarece que cada imóvel é avaliado individualmente e recebe um valor que varia de acordo com questões como existência de documentação legal, área construída e benfeitorias realizadas pelos moradores. Os valores oferecidos são baseados em tabela atualizada anualmente e validada pelos órgãos de controle, como Tribunal de Contas do Estado e Caixa Econômica Federal.

A Prefeitura do Recife vai construir um conjunto habitacional, com 75 apartamentos, como opção de moradia para que as famílias residentes na Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) Vila Esperança/Cabocó, afetadas pela construção da Ponte Jaime Gusmão, possam permanecer no local. A obra começa nas próximas semanas, com investimentos em torno de R$ 13 milhões. Além disso, a comunidade ganhará também uma creche.

Os equipamentos serão construídos num terreno desapropriado pela Prefeitura do Recife, vizinho à ZEIS. O habitacional será dividido em dois blocos, um com 40 unidades e o outro com 35, contando com jardim, horta comunitária, playground e bicicletário. Os apartamentos medirão cerca de 40 m2 e os prédios terão tipologia do tipo térreo mais quatro pavimentos.

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