Sex, 05 de Dezembro

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Vaticano

Leão XIV marca continuidade da reforma sinodal e do trabalho de Francisco, dizem especialistas

Filipe Domingues e padre Pedro Leite analisam o significado da eleição do primeiro papa norte-americano da história da Igreja

Robert Francis Prevost, o Papa Leão XIVRobert Francis Prevost, o Papa Leão XIV - Foto: Tiziana Fabi/AFP

A escolha do cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, no segundo dia de conclave, representa, segundo especialistas, não apenas um marco geográfico inédito — sendo o primeiro pontífice proveniente dos Estados Unidos —, mas também a reafirmação do projeto de reforma sinodal, impulsionado pelo Papa Francisco, a partir de 2021, com o objetivo tornar a Igreja mais participativa e colaborativa. 

Para Filipe Domingues, mestre em História Social e doutorando em Ciências da Religião, a escolha pelo cardeal americano reforça a continuidade da linha de Francisco, tanto simbolicamente quanto por seu perfil. “Ele tem Francisco até no nome”, brincou, ao destacar o nome do meio de Robert Francis Prevost. Filipe vê na eleição um gesto incomum de homenagem e continuidade. “Estava no círculo direto de amizade do papa Francisco”, afirmou, ao lembrar que o agora Papa Leão XIV já ocupava uma das posições mais influentes da Cúria Romana como prefeito do Dicastério para os Bispos.

Leão
Domingues também chamou atenção para a escolha do nome “Leão”, o décimo quarto pontífice a adotá-lo. Segundo ele, o nome evoca referências históricas como Leão XIII, ligado à doutrina social da Igreja. “Foi quem escreveu a encíclica Rerum Novarum, que estabeleceu as bases do socialismo cristão”, pontuou. Na avaliação do historiador, essa escolha nomeia um papa “com preocupações sociais e com o mundo do trabalho”.

“O nome Leão é muito forte. Leão I enfrentou Átila, o rei dos hunos, no final do Império Romano, em sua decadência. Leão III nomeou e coroou Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Já Leão XIII — o último Papa com esse nome — é uma referência à doutrina social da Igreja. Ele foi um Papa da segunda fase da Revolução Industrial”, disse o historiador

Padre Pedro Ivo Leite, teólogo e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), enxerga o nome Leão com duplo significado: remete tanto a Leão XIII, quanto a Frei Leão, companheiro de São Francisco de Assis.

“O seu nome é uma prova disso: de um lado é uma evocação a Leão XIII - papa da sensibilidade social; do cuidado com os operários e sindicatos. De outro lado, é resgate da memória afetiva do Frei Leão - amigo íntimo de São Francisco de Assis. Na história da Igreja já conhecemos a dupla Francisco-Leão. Agora, de novo, no processo de reforma, vemos essa profecia se realizar”, disse.

Representatividade
A eleição de um norte-americano também carrega, segundo Filipe, uma mensagem de representatividade. “Os EUA são o terceiro país com maior número de católicos no mundo. Assim como foi importante ter o papa Francisco para a América Latina, agora há representatividade para a América do Norte.” Apesar da predominância de cardeais conservadores nos Estados Unidos, Filipe avalia que Prevost tem um perfil mais moderado e conciliador.

Padre Pedro também destacou a trajetória de Prevost na América Latina, sobretudo sua atuação no Peru. “É um múltiplo sinal: esperança para a igreja que vem desse continente de mártires; possibilidade de unidade na própria Igreja dos EUA; e um gesto de defesa de migrantes e refugiados.” Para ele, a ênfase de Leão XIV na paz em seu primeiro discurso deve ser lida como uma escolha programática. “Ele se coloca como agente da paz, da comunhão e da unidade.”

O sacerdote vê em Leão XIV a continuidade da “reforma missionária-sinodal” impulsionada desde o Concílio Vaticano II e aprofundada pelo papado anterior. Para ele, a eleição indica que o colégio cardinalício reconhece essa direção como central para o futuro da Igreja. “É um sinal claro de que o bispo de Roma deve estar afinado com a grande reforma que vem acontecendo no interior dessa comunidade eclesial”, disse o padre Pedro.

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