Morre Helmut Kohl, o chanceler da reunificação da Alemanha
Este católico praticante surpreendeu a todos ao propor em 28 de novembro um plano de 10 pontos que seria concluído com a unificação alemã.
O ex-chanceler Helmut Kohl, pai da reunificação da Alemanha, morreu nesta sexta-feira (16) aos 87 anos, indicou o seu partido CDU e o jornal Bild, do qual os diretores eram próximos desta figura da história da Alemanha contemporânea.
"Estamos de luto", indicou a União Democrática Cristã (CDU) em sua conta no Twitter depois da morte daquele que foi o chanceler por mais tempo, entre 1982 e 1998, da Alemanha do pós-guerra.
Kohl faleceu "esta manhã em sua casa de Ludwigshafen", no sudoeste do país, indicou o jornal Bild.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que lhe tirou o poder do partido em uma batalha interna, reagiu consternada.
Segundo ela, Kohl "mudou (sua) vida de forma decisiva" pelo papel desempenhado pelo ex-dirigente da reunificação do país.
Hohl foi "uma sorte para nós, os alemães", acrescentou, em Roma, Merkel, que cresceu na antiga Alemanha oriental e começou sua carreira política quando da reunificação alemã, em 1990.
O ex-chefe de redação do jornal Bild, Kai Diekmann, padrinho do segundo casamento de Kohl, saudou a memória do ex-chanceler que tinha problemas de saúde e usava cadeira de rodas desde 2009.
"Obrigado. Pela unidade alemã. Pela Europa. Por tantas coisas incríveis adicionais. Helmut Kohl, 1930-2017, descanse em paz", escreveu no Twitter.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, saudou a memória deste homem que foi "a própria essência da Europa".
Kohl foi "um dos maiores" líderes da Alemanha do pós-guerra, disse o ex-presidente americano, George H. W. Bush (pai).
Colosso
Apesar das piadas das quais foi objeto durante toda a sua carreira por sua imagem e jeito provinciano, a ação e o papel do ex-chanceler nas mudanças provocadas pela queda do bloco soviético se tornaram unânimes há muito tempo.
Em uma pesquisa realizada pelo influente jornal Bild em 2011, seus compatriotas escolheram Goethe como a principal figura alemã de todos os tempos, colocando Kohl em quinto lugar, a única personalidade viva dessa classificação junto com o ex-chanceler social-democrata Helmut Schmidt.
Gigante político
Antes da queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, ninguém teria apostado que o chanceler que comandava a República Federal da Alemanha (RFA) desde 1982 poderia entrar para a História.
Este católico praticante nascido em uma família da pequena burguesia de Ludwigshafen, sumariamente enfraquecido por uma rebelião interna em seu partido, a União Cristã Democrata (CDU), surpreendeu a todos no fim de 1989.
De repente, "foi como se o espírito de [Konrad] Adenauer tomasse conta dele", escreveu Stanley Hoffmann, professor de Ciência Política em Harvard. Como o primeiro chanceler do pós-guerra, "Helmut, a pera" (como chamavam os seus críticos depreciativamente) se impôs como "um dos maiores líderes da Europa do pós-guerra", segundo George Bush pai.
Este homem de físico imponente - 1,93 m de altura e um peso considerado "segredo de Estado", mas que fica próximo aos 150 kg - atingiu o estatuto de gigante político.
Em 28 de novembro, diante da surpresa geral, apresentou um plano de 10 pontos para alcançar a reunificação. Hábil estrategista, utilizou sua simplicidade e firmeza para conseguir que o líder soviético Mikhail Gorbachev retirasse o Exército Vermelho, e par convencer os seus aliados americanos, franceses e britânicos, temerosos de uma grande Alemanha.
"Com a simplicidade de seus objetivos, Kohl autenticou o caráter inofensivo de seu país", considerou Jürgen Busche, um de seus biógrafos. Menos de um ano depois, em 3 de outubro de 1990, a Alemanha dividida desde 1945 estava reunificada.
Uma Europa de paz
Paralelamente, o chanceler perseguiu a outra grande aventura de sua vida política: a construção de uma Europa de paz e de prosperidade, fundada em grande parte na amizade franco-alemã.
Nascido em 3 de abril de 1930 em uma Renânia destruída pelos combates entre os dois países, Helmut Kohl cultivou uma profunda amizade com o presidente francês François Mitterrand, simbolizada pela fotografia na qual pode-se ver os dois de mãos dadas no campo de batalha de Verdun, durante o 70º aniversário do início da Primeira Guerra Mundial em 1984.
Ambos construíram o novo rosto da União Europeia com o Tratado de Maastricht, em 1992, e a introdução do euro como moeda única (virtual antes de física) em 1999.
O final da carreira de Helmut Kohl, que estabeleceu um recorde de longevidade no poder em seu país (1982-1998), esteve obscurecido pelo escândalo das caixas-pretas de seu partido.
Depois de negar, o político reconheceu ter recebido doações ocultadas para a CDU. Merkel, que aprendeu política em sua sombra, aproveitou o episódio para afastá-lo e iniciar sua ascensão.
Aposentado desde 2002, o ex-chanceler viveu desde então com discrição, principalmente devido aos graves problemas de saúde. Em 2009, quando teve que ficar na cadeira de rodas como consequência de uma fratura no quadril, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que paralisou a parte inferior de seu rosto e afetou a sua fala.
Os sobressaltos de sua vida privada, expostos em vários livros e jornais alemães - desavenças com seus filhos, a polêmica sobre o papel de sua nova esposa após o suicídio de sua primeira mulher que estava doente, Hannelore, em 2001 - acabaram obscurecendo os últimos anos de sua vida.

