Sáb, 06 de Dezembro

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CONFERÊNCIA CLIMÁTICA

UE defende seu imposto sobre carbono na COP30

Uma das medidas ambientais da UE, conhecida como "imposto sobre o carbono" nas importações, é um dos pontos de atrito nas negociações climáticas da ONU durante a conferência

União EuropeiaUnião Europeia - Foto: John Thys / AFP

A União Europeia defendeu, nesta segunda-feira (17), que chegou a hora de precificar o carbono, uma proposta recebida com receio na COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Belém, que entrou em sua fase decisiva.

A ONU, por sua vez, advertiu para o risco de obstruções em temas como a adaptação às mudanças climáticas e as finanças, questões-chave das negociações, que oficialmente terminam na próxima sexta-feira (21).

Nesta segunda, a COP30 passou para o nível ministerial e a presidência da conferência, a cargo do Brasil, anunciou que fará sessões noturnas para ampliar os debates.

O anfitrião também aproveitou a sessão plenária para apresentar aos outros países recantos naturais da Amazônia, imortalizados pelo renomado fotógrafo Sebastião Salgado, falecido em maio passado aos 81 anos.

"Peço-lhes que abordem rapidamente os temas mais difíceis", disse o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell. "Não podemos nos dar ao luxo de perder tempo com obstruções", acrescentou.

Protecionismo 
Uma das medidas ambientais da UE, conhecida como "imposto sobre o carbono" das importações, é um dos pontos de atrito em Belém.

"A precificação do carbono é algo que devemos buscar com o maior número possível de países e o mais rápido possível", disse Wopke Hoekstra, comissário europeu do Clima, entre os presentes na reunião.

O argumento dos europeus é que permitir a entrada de produtos que não atendam aos padrões ambientais da UE representa uma concorrência desleal.

China, Índia e outros países aliados consideram que esse Mecanismo de Ajuste na Fronteira por Carbono (CBAM), da UE, é na verdade uma barreira ao comércio.

Em fase de testes desde 2023, o CBAM se concentra nas importações de produtos que geram altas emissões de carbono, como o aço, o alumínio, o cimento, os fertilizantes, a eletricidade e o hidrogênio.

Sua aplicação integral está prevista para 2026.

"Muitas delegações fizeram referência explícita ao CBAM da União Europeia como o novo capítulo" no tema do protecionismo, explicou à AFP uma fonte negociadora latino-americana sob a condição do anonimato.

Reagir às más notícias 
Por outro lado, os Estados insulares, apoiados por países latino-americanos e europeus, pedem que a COP reaja às últimas más notícias de projeções climáticas e peçam aos países para aumentarem seus compromissos atuais.

No entanto, grandes economias, da China à Arábia Saudita, não querem uma decisão que implique que até agora não estão fazendo o suficiente.

Por fim, muitos países do Sul, especialmente os africanos, querem lembrar aos países desenvolvidos a insuficiência de seu financiamento para os países em desenvolvimento.

O Brasil também pretende levar adiante um "mapa do caminho" para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, cujas emissões são as grandes responsáveis pelo aquecimento global.

"Arca de Noé" 
É "uma espécie de Arca de Noé para que a gente possa olhar para nós mesmos e dizer [que] cada um de nós construiu esse processo", disse a ministra de Meio Ambiente e Mudança do clima, Marina Silva, referindo-se ao mapa do caminho.

A iniciativa é apoiada por países como França, Espanha e Colômbia, mas enfrenta a oposição de grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.

"A ideia é ver de que maneira costuramos esse mapa do caminho, definimos um calendário e marcos concretos", algo fundamental para manter "viva" a meta do Acordo de Paris de conter o aquecimento global a +1,5ºC, disse a ministra espanhola para a Transição Ecológica, Sara Aagensen.

Nesta segunda, centenas de indígenas marcharam em Belém para pedir que os combustíveis fósseis sejam deixados para trás, e especialmente a exploração de petróleo na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.

"Manter a floresta em pé é manter a gente em vida, é manter nosso futuro", disse à AFP João Gabriel Gama, de 20 anos, indígena do povo Kumaruara, do Pará.

Os indígenas criticaram o projeto de exploração de petróleo na bacia da foz do rio Amazonas, aprovado recentemente e apoiado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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