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RIO DE JANEIRO

Museu Nacional: reforma para reabertura completa do palácio ainda precisa de R$ 170 milhões

Após incêndio de 2018, espaço reabre parcialmente com exposição, nesta quarta-feira, para visita do público

Incêndio no Museu NacionalIncêndio no Museu Nacional - Foto: Vitor Abdala/ Agência Brasil

Sete anos depois das trevas, a luz entra pela claraboia que cobre um dos novos salões do Museu Nacional. Onde em setembro de 2018 um fogaréu destruiu séculos de pesquisa científica e de História, Andrea Costa, vice-presidente da instituição; Roberto Medronho, reitor da UFRJ; e Camilo Santana, ministro da Educação, anunciaram que, pela primeira vez após a tragédia, as portas se abrirão para o público. Nesta quarta-feira, visitantes, enfim, poderão passear por três salões do Palácio de São Cristóvão, alguns dos quais ainda têm as paredes com marcas do incêndio.

Para conhecer a mostra “Entre Gigantes: Uma experiência no Museu Nacional”, com peças como o meteorito Bendegó, que resistiu às chamas de 2018, é preciso agendar e retirar gratuitamente os ingressos no Sympla. Diariamente, 300 entradas serão disponibilizadas. Parte do trabalho de restauro do museu, ainda em andamento, também poderá ser vista. A experiência vai apenas até o fim de agosto.

Três salões recuperados poderão ser visitados: o que abriga o meteorito Bendegó, que resistiu às chamas de 2018; o local onde ficam a escadaria de mármore e o enorme esqueleto de uma baleia cachalote; e uma sala com esculturas em Carrara recuperadas que será modificada e pintada — a ideia é mostrar a transformação.

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O ministro da Educação prevê a abertura total do palácio entre 2027 e 2028. Ainda é necessário captar R$ 169,6 milhões do valor integral do projeto Museu Nacional Vive, que é de cerca de R$ 500 milhões.

— Foram R$ 330 milhões já captados. Faltam quase R$ 170 milhões. O governo federal trará mais recursos — prometeu Santana.

Verba pública e privada
Para os próximos anos, outras aberturas parciais são projetadas.

— Queremos abrir temporariamente três ambientes para acesso, aos poucos. Esse ato tem um simbolismo forte. São 207 anos desse espaço. Ele passou pelo incêndio em 2018, todo o Brasil acompanhou, mas é um espaço educacional, histórico e científico que vai gerar oportunidades para pessoas do Rio de Janeiro e de todo país — disse o ministro.

Andrea Costa, vice-presidente do museu, contou que um dos ambientes manterá viva a história, inclusive por meio das marcas que o fogo deixou. A Sala das Vigas, que já acomodou o Auditório Roquette Pinto, trará esse símbolo nas paredes:

— Lá foi onde começou o incêndio e vai ficar como está: com os tijolos, as vigas retorcidas, queimadas. Foi um evento tão dramático na história do edifício e da instituição que a gente resolveu deixar o espaço como um testemunho.

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Dos R$ 500 milhões do Projeto Museu Nacional Vive necessários para completar a recuperação, o BNDES contribuiu com R$ 100 milhões. Emendas parlamentares deverão aportar R$ 56,4 milhões; o MEC, R$ 44,3 milhões; o Ministério da Ciência, da Tecnologia e da Inovação, R$ 20 milhões. Da iniciativa privada, a Vale contribuiu com R$ 50 milhões; Bradesco, R$ 50 milhões; Itaú, R$ 10 milhões; e Cosan, R$ 7,3 milhões.

O orçamento ainda contou com doações de pessoas físicas — R$ 68 mil —, com valores de rendimentos financeiros — R$ 3,5 milhões — e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), R$ 200 mil.

Cachalote se destaca
Entre as peças museológicas recuperadas e as que farão parte da mostra, o esqueleto de 15,7 metros de comprimento de um cachalote chama atenção. Para que fosse instalado sobre a escada de mármore da entrada do Palácio, um restauro e uma preparação do material biológico precisaram ser feitos. O tempo de duração foi de dois meses. O procedimento teve etapas como consolidação óssea, pintura e até reposição de algumas estruturas esqueléticas do cetáceo, além do içamento e da afixação de peças, que pesam cerca de três toneladas. O museu lança uma campanha para que a população dê um nome ao esqueleto, o maior da América do Sul em exposição.

Na visitação recém-anunciada, o público também poderá ver de perto outros itens simbólicos do museu, como o meteorito Bendegó — que, claro, resistiu ao incêndio de 2018. Em outras etapas, adiante, doações de museus da Europa também poderão ser expostas.

Doações de objetos
As obras de reforma e restauração seguirão. Até o momento, foram concluídas as fachadas; as coberturas dos blocos 1, 2 e 3; a claraboia sobre a escadaria monumental de mármore; a restauração de esculturas centenárias de mármore de Carrara; a reprodução das centenas de réplicas de ornamentos artísticos e históricos; e a recuperação dos jardins históricos.

Larissa Graça, gestora técnica do projeto Museu Nacional Vive, informou que, para preservar a segurança do patrimônio, houve investimento redobrado em segurança, além dos exigidos pelos órgãos competentes.

— Essa questão é muito importante. Então, novos sistemas de segurança estão sendo adicionados ao prédio, além dos exigidos em norma para proteção: chuveiros automáticos, sprinklers, uma série de equipamentos que vão preservar o prédio e evitar que situações como aquela aconteçam.

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Roberto Medronho, reitor da UFRJ, universidade responsável por administrar o Museu Nacional, acrescentou que detalhes da construção original serão mantidos:

— O museu é um ícone educacional, científico, uma instituição de reputação internacional. Estamos buscando na restauração preservar ao máximo o que era no início.

Andrea Costa diz ainda que o museu recebeu mais doações de objetos de povos indígenas, de fósseis, inclusive de colecionadores particulares:

— A gente só não tem onde guardar tudo. Além disso, há muitas coisas prometidas, acertadas. Não estamos recebendo, de fato, porque estamos construindo os espaços para a guarda de reserva técnica.

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