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CIÊNCIA

Música na sala de cirurgia acelera recuperação e diminui estresse, aponta estudo

Pesquisa em Nova Déli indica que estímulos sonoros reduzem uso de anestésicos e estabilizam sinais vitais

Estudo mostra que música na sala de cirurgia acelera recuperação e diminui estresseEstudo mostra que música na sala de cirurgia acelera recuperação e diminui estresse - Foto: BBC/Reprodução

Sob anestesia geral e imersa no silêncio artificial imposto pelos remédios, uma paciente indiana teve sua cirurgia acompanhada por um elemento incomum: música instrumental tocada em fones de ouvido.

Segundo um novo estudo do Maulana Azad Medical College e do Lok Nayak Hospital, em Nova Déli, essa intervenção simples reduziu a necessidade de anestésicos e analgésicos durante a remoção da vesícula biliar e ainda acelerou a recuperação no pós-operatório.

Publicada na revista Music and Medicine e divulgada pela BBC nessa segunda-feira (24), a pesquisa oferece uma das evidências mais consistentes de que a exposição à música enquanto o paciente está inconsciente pode modular a resposta fisiológica ao estresse cirúrgico e diminuir, ainda que modestamente, o uso de propofol e opioides.

"Nosso objetivo é a alta precoce após a cirurgia", afirma a Dra. Farah Husain, anestesista e musicoterapeuta certificada que coordenou o estudo. "Os pacientes precisam acordar lúcidos, alertas e, idealmente, sem dor. Melhor controle da dor significa também menor resposta ao estresse".

O estudo envolveu pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica, cirurgia rápida e de recuperação curta. Durante o procedimento, todos receberam o mesmo conjunto de medicamentos — prevenção de náuseas, sedativo, fentanil, propofol e relaxante muscular — além de bloqueios regionais guiados por ultrassom, prática já consolidada na anestesia contemporânea.

Mesmo assim, o corpo reage: frequência cardíaca sobe, pressão arterial oscila e hormônios do estresse disparam, especialmente durante a intubação. A música, dizem os pesquisadores, pode suavizar esse efeito.

"A laringoscopia e a intubação são consideradas as fases mais estressantes da anestesia", explica a Dra. Sonia Wadhawan, diretora do departamento de anestesia. "Embora o paciente esteja inconsciente, o corpo responde com alterações hormonais e cardiovasculares".

O estudo partiu de uma constatação fisiológica conhecida: a audição é o último sentido a ser desligado. Mesmo plenamente anestesiado, o cérebro continua processando estímulos sonoros.

O ensaio clínico, realizado ao longo de 11 meses, acompanhou 56 adultos entre 20 e 45 anos, divididos aleatoriamente em dois grupos. Todos usaram fones com cancelamento de ruído; apenas metade ouviu músicas instrumentais relaxantes, escolhendo entre piano ou flauta.

Os resultados, segundo os pesquisadores, foram claros:

A ideia de que o cérebro anestesiado permanece parcialmente receptivo não é nova. Relatos raros de consciência intraoperatória — quando o paciente lembra trechos da cirurgia — já haviam mostrado que o inconsciente pode armazenar memórias implícitas.

Se experiências negativas podem ser gravadas, ponderam os autores, experiências positivas também podem.

"Estamos apenas começando a explorar como a mente inconsciente responde a intervenções não farmacológicas", afirma Husain. "É uma forma de humanizar a sala de cirurgia".

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