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"Narcomansão" que sediou festas com Pablo Escobar vai virar laboratório da polícia na Colômbia

Primeiro presidente esquerdista do país determinou que a "narcomansão" apreendida sirva aos trabalhos de identificação de restos

Mansão Montecasino, em Medellín, foi local de reuniões e festas de chefes do narcotráficoMansão Montecasino, em Medellín, foi local de reuniões e festas de chefes do narcotráfico - Foto: Jaime Saldarriaga/AFP

Numa mansão com torneiras de ouro e banheira em formato de ostra, líderes paramilitares e traficantes de drogas planejaram seus crimes em Medellín. A luxuosa propriedade foi apreendida em 2010 e em breve se tornará um laboratório forense para identificar milhares de desaparecidos na Colômbia.

Na opulenta casa Montecasino ocorreram assassinatos de candidatos presidenciais e massacres de camponeses, segundo depoimentos de ex-assassinos a serviço de seus proprietários, os irmãos Carlos, Vicente e Fidel Castaño, chefes do esquadrão de extrema direita Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC).

Os senhores do tráfico de drogas, como Pablo Escobar, frequentavam reuniões e festas no local.

A construção com muros de mármore e extensos jardins passou em 2015 para as mãos da Unidade de Vítimas, entidade responsável pela assistência aos afetados pelo conflito armado. A organização alugou a propriedade a particulares.

Mas agora, por ordem do presidente Gustavo Petro, o primeiro esquerdista no poder na Colômbia, o Montecasino será administrado por especialistas em Medicina Legal. A autoridade forense terá ali um laboratório para identificar restos ósseos de pessoas desaparecidas num país com mais de 111 mil vítimas deste crime ao longo de seis décadas de conflito interno (número superior ao número combinado após as ditaduras da Argentina, Brasil e Chile no século XX).

Para Luz Galeano, líder comunitária de 60 anos, é uma esperança em meio à longa busca pelo marido, Luis Laverde, desaparecido em 2008.

— Procuro por ele em todo e qualquer lugar, mas até agora não ouvi nada — disse à AFP a vendedora de roupas e produtos de beleza, segurando um retrato de Laverde. — [O laboratório] é algo com que sonhamos e continuamos a sonhar (…), para que inclua todas as vítimas de desaparecimento.

"Limpeza espiritual"
Galeano perdeu o contato do marido desde que ele foi sequestrado em um ônibus. Naquela época, Medellín era palco de uma perseguição de paramilitares contra habitantes de setores controlados por guerrilheiros.

A mulher quer que o laboratório se chame Casa Rayo de Luz, "para apagar todo aquele horror que ali aconteceu e começar a sentir que há uma limpeza espiritual".

Claudia Patricia Vallejo, diretora da Unidade de Vítimas do departamento de Antioquia, disse à AFP que "ninguém poderia imaginar que todos os crimes e humilhações ocorreram naquela casa". Segundo ela, sabe-se que "muitas pessoas foram torturadas" no local.

No dia da sua posse, 7 de agosto de 2022, Petro comprometeu-se a utilizar os bens apreendidos dos criminosos como "base de uma economia produtiva" em benefício dos mais necessitados. A atribuição foi dirigida especialmente à Sociedade de Ativos Especiais (SAE), entidade público-privada vinculada ao Ministério da Fazenda que administra milhares de imóveis em situação de confisco.

A SAE vende, leiloa ou aluga essas propriedades. Seu presidente, Daniel Rojas, garantiu que quando chegou à entidade, há dois anos, apenas 21% das propriedades geravam rendimentos, embora muito baixos.

Ele também denunciou uma suposta rede de corrupção. Recentemente, a Controladoria alertou sobre o desaparecimento de relógios Rolex e cavalos Paso Fino que representavam perdas milionárias. A oposição também denuncia supostos maus procedimentos do atual governo.

Castelo neogótico
Em 1898, um acadêmico e diplomata iniciou a construção de um castelo de duas torres em estilo neogótico em Chía, município que faz fronteira com Bogotá.

Durante mais de um século, o Castelo Marroquín funcionou, entre outros, como cabaré e hospital psiquiátrico até ser adquirido por Juan Camilo Zapata, integrante do Cartel de Bogotá.

O integrante daquela organização de tráfico de cocaína foi assassinado em 1993, e o local passou para as mãos da SAE. Nos últimos anos, a entidade tinha contrato de locação com uma empresa que organizava casamentos e shows.

Seguindo orientação de Petro, o contrato de locação será dissolvido para que o castelo seja entregue à Universidade Pedagógica estadual, com cerca de 9 mil alunos.

Além do castelo, onde está prevista a construção de um museu, a universidade receberá 33 dos 70 hectares de floresta ao redor para a realização de atividades académicas, culturais e esportivas.

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