42% dos brasileiros dizem que a vida foi muito afetada pela fumaça derivada da crise de queimadas
Percentual de entrevistados que enxergam grande impacto da fumaça é maior no Centro-Oeste e no Norte do país
Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira mostra que 42% dos brasileiros consideram que tiveram a vida muito afetada pela fumaça dos incêndios que atingem parte do país há dois meses.
O levantamento aponta que em uma escala de zero a dez — em que quanto mais baixo o número respondido, menor a percepção do impacto das queimadas— 42% dos entrevistados afirmaram terem a vida afetada no maior nível possível (entre 9 e 10).
Já outros 25% responderam terem sido impactados em um nível entre 7 e 8, 18% disseram considerar serem afetados entre 4 e 6, e 14% afirmaram serem pouco ou nada afetados pela fumaça (de 0 a 3). Por outro lado, 1% não soube responder.
Leia também
• Lula diz a aliado que acidente foi "grave" e que médicos pediram para esperar "três ou quatro dias"
• Quem são as vítimas de acidente com equipe de remo de Pelotas
• Nossa Senhora de Fátima: peregrinos brasileiros têm encontro especial com Santa, em Portugal
O Datafolha mostra que o percentual de entrevistados que enxergam grande impacto da fumaça é maior no Centro-Oeste e no Norte do país (57%). Em seguida, aparecem o Sudeste (42%), Nordeste (37%) e Sul (36%).
A pesquisa ouviu 2.029 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 7 e 8 de outubro, em 113 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, dentro do nível de confiança de 95%.
Saúde impactada
O Datafolha também questionou os entrevistados se a saúde foi afetada pela crise de queimadas. Para 34% houve muito impacto (de 9 a 10). Já 19% afirmaram observar pouca ou nenhuma alteração (de 0 a 3).
Entre as regiões do país, o problema é percebido por uma maior parcela da população do Centro-Oeste e do Norte, onde 43% afirmam ter tido muito impacto. O índice é de 35% no Sudeste, e de 33% no Nordeste, enquanto o Sul aparece na lanterna, com 23%.
Origem dos incêndios
Fazendeiros, empresários e advogados donos de propriedades rurais foram identificados pelo governo federal como responsáveis pelos megaincêndios florestais no Brasil neste ano. Levantamento do Globo revela que o Ibama aplicou R$ 451 milhões em multas contra 138 alvos por queimadas na Amazônia e no Pantanal.
É o maior valor já cobrado pelo órgão. A maioria dos autuados é acusada de destruir e danificar vegetação nativa com o fogo e sem autorização da autoridade ambiental.
A Advocacia-Geral da União entrou com cinco ações civis contra infratores ambientais por destruir áreas em Altamira (PA), Boca do Acre (AM), Buritis (RO), Lábrea (AM) e São Felix do Xingu (PA), sobretudo com fogo. A AGU cobra um total de R$ 89 milhões. A Polícia Federal abriu pelo menos 85 inquéritos em 2023 e 2024 para apurar a autoria dos incêndios.
Uma das maiores queimadas neste ano, em uma área de 333 mil hectares, equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo, foi atribuída ao advogado Luiz Gustavo Battaglin Maciel e ao fazendeiro Ademir Aparecido de Jesus, que possuem fazendas em Corumbá (MS). Procurados, ambos não se manifestaram.
No mês passado, cada um foi multado em R$ 50 milhões (o teto máximo permitido por lei, que define R$ 5 mil por hectare destruído). Nos autos, eles negaram a responsabilidade pelo fogo.
Segundo um relatório do Ibama, o incêndio começou em uma área reivindicada pelos dois e demorou 110 dias para ser controlado, além de atingir outros 135 imóveis rurais. Os fiscais afirmaram que “não há vestígios de combate ao incêndio” da parte dos dois e houve negligência na adoção de “medidas de prevenção e controle do uso do fogo”, como a colocação de aceiros (faixa de terra que serve como barreira para propagação de incêndios).
Para o instituto, Battaglin e Aparecido não tomaram nenhuma providência porque o fogo possibilitou a abertura de pastagem para gado. “Nenhum dos dois supostos proprietários informou estar utilizando a área por meio de atividade pecuária”, diz o relatório. “Contudo, ficou constatado que existe gado distribuído de forma esparsa pela área”.
Outra prova apontada pela agência é que o local não é uma área de passagem de terceiros a quem se pudesse atribuir o foco inicial do fogo. O Ibama fez uma vistoria na área em setembro e compartilhou os laudos com o Ministério Público Federal.