Netanyahu recua de decisão de demitir chefe do Shin Bet
Fontes oficiais afirmam, porém, que o primeiro-ministro continua entrevistando candidatos ao cargo e deve anunciar o substituto de Ronen Bar nos próximos dias
O governo israelense recuou nesta terça-feira da decisão de demitir o diretor do Shin Bet, Ronen Bar, um dia após ele anunciar que deixará o cargo em 15 de junho.
Segundo o jornal israelense Haaretz, a medida parece ter como objetivo evitar uma possível decisão da Suprema Corte que poderia estabelecer um precedente ao julgar as petições que contestavam a demissão de Bar.
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A proposta de cancelamento da demissão não foi acompanhada de parecer jurídico, o que contraria os procedimentos habituais do governo. Fontes oficiais informaram ao Haaretz que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, continua entrevistando candidatos ao cargo e deve anunciar o substituto de Bar nos próximos dias.
Na resolução que anulou a demissão, o governo declarou que “o primeiro-ministro acreditava desde o início que Ronen Bar deveria encerrar seu mandato de forma consensual e respeitosa, como ocorreu com o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel”.
O governo acrescentou que a renúncia de Bar “veio tarde demais – cinco semanas após a decisão de demissão – e a data mencionada em sua carta também é muito tardia.
No entanto, o processo de nomeação do próximo chefe do Shin Bet levará tempo, e esse período será usado para garantir uma transição ordenada”.
As fontes acrescentaram que a decisão de demissão do governo perdeu efeito a partir do momento em que Bar renunciou ao cargo.
Ainda assim, a liminar provisória emitida pela Suprema Corte, que impede a demissão dele, continuará em vigor até que a renúncia de Bar produza efeitos formais, o que impede a nomeação antecipada de seu sucessor.
Bar fez o anúncio durante uma cerimônia na véspera do Dia da Memória de Israel para os soldados mortos em combate, afirmando que assume a responsabilidade pela falha de segurança que permitiu o ataque do Hamas em outubro de 2023.
— Como chefe da organização, assumi a responsabilidade por isso. E agora, nesta noite especial, que simboliza memória, heroísmo e sacrifício, escolhi anunciar a implementação dessa responsabilidade e minha decisão de encerrar meu mandato como chefe do Serviço Geral de Segurança — declarou.
Ele também abordou sua disputa com Netanyahu, afirmando que a democracia israelense depende da independência do Shin Bet, a agência de inteligência interna do país.
— Esta é uma organização cujo funcionamento adequado é de importância incalculável para a segurança do Estado e para a democracia israelense — disse Bar. — Tenho lutado por isso no último mês, e nesta semana a infraestrutura necessária foi apresentada à Suprema Corte, e espero que a decisão que for proferida garanta que o Shin Bet seja preservado dessa forma.
Na semana passada, em uma declaração juramentada, Bar afirmou que Netanyahu tentou usar a agência de inteligência para benefício próprio e do governo, inclusive solicitando a vigilância de manifestantes contrários ao governo.
O primeiro-ministro rebateu, dizendo que Bar estava mentindo.
O embate entre os dois tem sido um dos exemplos mais dramáticos das crescentes tensões entre o Executivo de Israel e os demais poderes, com alguns temendo que o governo não respeitasse uma eventual decisão judicial que mantivesse Bar no cargo.

