Novos comandantes de Hamas operam em segredo
Especialistas acreditam que líder do braço armado do Hamas foi assumido pelo irmão mais novo do responsável pelos reféns levados para Gaza
Depois que Israel matou muitos de seus líderes, o Hamas nomeou novos comandantes para seus principais cargos, mas desta vez mantendo suas identidades em segredo para proteger suas vidas.
Israel prometeu aniquilar o Hamas em retaliação aos ataques de 7 de outubro de 2023 e lançou sua ofensiva em Gaza, enfraquecendo significativamente o movimento islamista palestino e destruindo grande parte do território.
O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, o comandante d seu braço armado, Mohamed Deif, e Yahya Sinwar, o mentor do ataque de 7 de outubro, foram mortos, assim como outros comandantes e figuras políticas.
Leia também
• Tesla suspende venda na China de importados dos EUA após tréplica de Pequim às tarifas de Trump
• Defesa Civil de Gaza afirma que bombardeio israelense matou 10, incluindo sete crianças
• Ex-diretora de museu denuncia roubo e venda ilegal de obras de Frida Kahlo
Mas, diferentemente de seus aliados do Hezbollah, que fomentaram um culto à personalidade em torno de seu líder assassinado, Hassan Nasrallah, como parte de sua identidade, o Hamas nunca deu muita importância aos seus altos escalões.
O grupo mantém segredo sobre os nomes de seus principais comandantes, especialmente os de seu braço armado, as Brigadas Ezedin al-Qassam.
"O nome do líder das Brigadas Ezedin al-Qassam permanecerá em segredo", disse uma fonte próxima ao grupo.
Especialistas acreditam que o cargo provavelmente foi assumido pelo irmão mais novo de Yahya Sinwar, Mohamed, a quem o Hamas colocou como responsável pelos reféns levados para Gaza após o ataque de outubro.
"A personalidade de Yahya Sinwar era bastante única", e seus apoiadores o consideravam um "herói", diz Laetitia Bucaille, professora de sociologia política no INALCO, Instituto de Estudos do Oriente Médio, em Paris.
O parentesco sanguíneo de Mohamed Sinwar com o comandante morto, somado à sua própria história nas brigadas, automaticamente lhe confere autoridade, afirma.
Liderança coletiva
Apesar dos golpes recebidos, o movimento não foi aniquilado como Israel gostaria.
Segundo Yaser Abu Heen, fundador da agência de notícias Safa, de Gaza, a perda de tantos líderes atingiu duramente o Hamas, "mas apenas temporariamente".
"Esses golpes não representam uma crise existencial; o Hamas tem sua própria maneira de administrar as instituições", diz. "Israel não será capaz de erradicá-lo".
Sob condição de anonimato, um membro do braço político do Hamas descreve como o executivo do movimento opera, como vota em suas decisões e como as implementa. Seus integrantes políticos são nomeados pelo Conselho Shura, o equivalente a um Parlamento, disse.
"Não saberemos os nomes dos novos líderes. Há uma estratégia para manter suas identidades em segredo e preservar um senso de poder coletivo", diz Leila Seurat, do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos, em Paris.
"Este não é um movimento baseado em liderança carismática", afirma.
Embora tenha sobrevivido até agora, o Hamas deve tomar a decisão mais difícil em relação ao seu futuro papel em Gaza e na luta palestina por um Estado próprio.
Israel, potências internacionais e até mesmo alguns palestinos estão pedindo ao movimento islamista que renuncie ao seu poder em Gaza.
A Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia ocupada com poderes limitados, está se oferecendo para administrar o território devastado, embora décadas de corrupção interna tenham contribuído justamente para a ascensão do Hamas.
Dentro do movimento islamista, crescem as discussões sobre se o poder deve ou não ser cedido.
Segundo fontes citadas pelo Soufan Center, em Nova York, "o debate interno se intensificou a ponto de alguns líderes políticos do Hamas estarem considerando romper com dirigentes militares em Gaza".
Essas divergências não são incomuns no movimento, destaca Seurat, relembrando crises sobre várias questões, como a Primavera Árabe e a aliança do grupo com o Irã.
No entanto, a guerra com Israel gerou um grande frustração entre os moradores de Gaza, fartos de um conflito que matou milhares de pessoas e reduziu seu território a escombros.

