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OPINIÃO

12 Milhões

Pink Moon (Lua Rosa) é um filme da jovem diretora holandesa (35 anos) Floor van der Meulen. Há, no filme, três personagens principais: o pai e dois filhos. Num jantar em família, a filha (29 anos) ouve do seu pai (74 anos) a decisão de não querer comemorar o aniversário seguinte. A partir daí se desenvolve o drama de uma filha, que não se conforma com a situação; o irmão, também presente, aparentemente, aceita a decisão. O pai tem boa situação financeira e é saudável e descobre caminho do uso de um pó letal por meios ilegais. Iris, a personagem, vai morar na casa do pai e fica ao seu lado até o dia “D”. A diretora conseguiu dar - como direi? - uma leveza diferente para um cenário complexo e sem unanimidade.

O modus operandi que será adotado pelo pai, no filme, é diferente do método (morte assistida) que alguns países já adotam legalmente, como Suíça, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Colômbia e alguns estados norte-americanos (Califórnia, Washington, Oregon etc.). 

Saio da Holanda e aterrizo no Brasil e a primeira tijolada que cai sobre a minha cabeça é um número: 12 milhões. O número é equivalente à população da capital do estado de São Paulo ou o dobro da população do Rio de Janeiro. É o tamanho da soma das populações de Brasília, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte e Manaus. Não é prêmio da Mega-Sena. 12 milhões é o número de brasileiros que não sabem ler nem escrever, o equivalente a 7% da população brasileira. O otimista pode dizer que 93% dos brasileiros sabem ler. Para mim, a notícia é triste, péssima, inaceitável. Três estados do NE (Alagoas, Piauí e Paraíba) estão com os piores índices: 17,7%, 17,2% e 16,0%. Há um município (Alto Alegre, RO) que tem 36,8% de analfabetos. 

Trago aqui o pensamento do neurocientista francês Michel Desmurget, autor do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”. Recomenda a redução do tempo de uso recreativo de telas e o aumento na leitura. E diz que quando a leitura é mais complexa, mantém-se a superioridade do papel em relação aos celulares, notebooks, laptops e similares. Assino embaixo de (quase) tudo que ele (M. Desmugert) nos ensina. 

Como brasileiro, fico envergonhado em dizer que o Brasil é o lanterninha no quesito leitura comparado com outros países latinos. Na França e nos EUA, cada pessoa lê de cinco a sete livros por ano. No Brasil, cada brasileiro lê o equivalente a 1,8 livro por ano. Se quisermos “abrir” por áreas, alguns estados das regiões Norte e Nordeste ficarão com média de menos de um livro por ano. 

E qual a relação entre o filme e essa média de leitores? - Fácil. Nesse caminhar, já começamos a prática consciente do suicídio assistido na educação.

“Um país que não sabe ler (ou não gosta, não pratica), nunca vai conseguir mudar a realidade onde (sic) vive”. (Prof. Lukas Cardoso).

*Executivo do segmento de shoppings centers

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