Sex, 05 de Dezembro

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opinião

À esquerda. À direita

O título deste artigo não trata de alguma orientação de trânsito nem tampouco uma rota de fuga, aborda sim, a política. E, para um lado ou outro, que não entremos em contramão nem derrapemos.

No Brasil é quase uma unanimidade se considerar de esquerda, quando essa colocação, no espectro político, passa por alguns vieses, senão vejamos:

O primeiro viés diz respeito à política como meio de conquista de poder. Neste espectro há os totalitaristas e os democratas. Na extrema esquerda e extrema direita estão os totalitaristas que se valem de meios democráticos para chegar ao poder e, conquistando, restringem liberdades de expressão, de imprensa, extinguem partidos, perseguem opositores, usam o poder militar para coerção e medo, exaltam a figura do chefe e o poder executivo se sobrepõe aos demais poderes. No centro, centro esquerda e centro direita encontram-se os que defendem a via democrática, com eleições livres, periódicas, com pluripartidarismo, liberdade de expressão e de imprensa, e separação dos poderes.

Há também o viés econômico, onde a esquerda defende a economia centralizada, com as atividades produtivas mantidas na mão do Estado e com várias restrições à iniciativa privada. Já a direita defende a não interferência total do Estado, onde a lei de mercado é o ente regulador. E o centro, centro esquerda e centro direita defendem a livre iniciativa, a economia de mercado, a propriedade privada e produtiva, todavia, com certa regulação do Estado, quer nas relações de trabalho, quer nas atividades ditas públicas, como educação, saúde, transporte, etc. O centro esquerda geralmente entende as atividades públicas como educação, saúde, transporte e o centro direita entende essas mesmas atividades como passíveis de concessões.

O viés mais conflitante é o dos costumes, entre os ditos progressistas e conservadores. E o grande embate envolve temas como ser contra a favor do aborto, ser contra ou a favor da liberação do uso de drogas, ser contra ou a favor da propriedade privada, inclusive propriedades produtivas, ser contra ou a favor da liberdade sexual, ser contra ou a favor da opção sexual de crianças e adolescentes, ser contra ou a favor da educação cívica ou religiosa, ou seja, na questão dos costumes há os progressistas extremos, há os conservadores ortodoxos, mas há os que toleram e aceitam, com ressalvas, alguns dos temas apontados acima, a exemplo do aborto em algumas circunstâncias, como o risco à saúde, que seriam os de centro e o gradiente vai mais ou menos da tolerância e aceitação de certas pautas.

Há ainda um outro componente que podemos classificar mais à esquerda ou à direita, que é, no dizer de Noberto Bobbio, ser mais ou menos partidário da igualdade. A esquerda mais extrema entende a igualdade para todos independente de deveres, todos têm direitos independente de deveres, sem obrigações, e a extrema direita entende a lei do mais forte, quase um darwinismo. Os que se aproximam do centro, tanto à esquerda quanto à direita, defendem que todos têm direitos, mas têm deveres também, e sim, a igualdade de oportunidades, entendamos, passa, obrigatoriamente, por educação igual para todos.

Por tudo que foi dito, se tomarmos o povo brasileiro, em quase sua totalidade, é democrata e não totalitário, é liberal com regulação do Estado no viés econômico e não centralista da economia planificada pelo Estado, é mais conservador em muitos aspectos e progressista em outros, mas jamais extremado e é partidário da igualdade, diga-se de oportunidades e não de forma indiscriminada, ou seja, direitos e deveres para todos.

Isto posto, finalizo citando Alberto Pasqualini: ”se os partidos (digo eu: e se os líderes) não guiarem seus passos sob inspiração de um corpo de princípios definidos, consentâneos com os sentimentos e as aspirações da sociedade....tornam-se entidades amorfas, fracas e efêmeras...”.

Portanto, é preciso observar onde o povo quer chegar, e qualquer coerção de rumo estará fadado aos reveses das forças contrárias.
Por fim, citando o grande filósofo Aristóteles, “o equilíbrio está no meio”. Se guinarmos demais à esquerda ou à direita corremos o risco de derrapar, sejamos centro, centro esquerda, centro direita, mas sempre centro, onde encontra-se o equilíbrio.
 

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