Seg, 22 de Dezembro

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opinião

A FIDEM, 50 anos

“O Recife de então se espalha, aonde o levavam suas garras. Se esgueirando entre as línguas secas, que a maré entre os dedos deixa”.

João Cabral de Melo Neto
Uma Evocação do Recife


 
Pernambuco. Gestão José Francisco de Moura Cavalcanti (1975-79). Uma reforma política profunda. Substituição da geração de antigos pessedistas da era Agamenon Magalhães. João Roma, Fabio Correa, Augusto Novaes. Por uma equipe de jovens técnicos. Pós-graduados. E admitidos por concurso público. Com visão estruturante do estado. Resultado: uma coleção de obras fundantes. O complexo industrial, portuário, ecológico, de Suape. O Centro de Convenções, em Olinda. O Terminal Integrado de Passageiros - TIP. O Centro de Hemoterapia e Hematologia de Pernambuco – HEMOPE. E a Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife - FIDEM.

A FIDEM foi criada pela lei estadual 6590, de 1975. Vinculada à Secretaria de Planejamento. Contou com duas diretrizes de governo. Essenciais à sua consolidação: garantia de recursos orçamentários e o escudo político do governador. Só foram admitidos técnicos com reconhecida experiência em planejamento e urbanismo. Formou-se competente time de arquitetos, urbanistas, economistas, engenheiros e advogados. Time dirigido por Laudo Bernardes e Moisés Agamenon de Andrade.

Duas iniciativas programáticas distinguiram a qualidade do trabalho da FIDEM: a organização de atividades por nucleações ou polos. E a lei 9860, de 1980, estabelecendo a proteção de mananciais para garantir a oferta de água à população metropolitana.

O desenvolvimento de atividades por nucleações fixou a orientação para quatro polos: primeiro polo, a área central do Recife, com vocação comercial; o segundo polo, a Oeste, sediando o Terminal de Passageiros e o estádio de futebol, com função de descentralizar equipamentos coletivos; o terceiro polo, ao Sul, nucleado em Suape, com vocação exportadora; e o quarto polo, ao Norte, com acentuação turística, histórica e industrial. A região metropolitana do Recife abrange 3,3% do território estadual. E acolhe 42,7% de sua população.

Gilberto Freyre escreveu: o tempo é tríbio. O passado está no presente. Que está no futuro. Portanto, o que há é presente. É a construção permanente do ser. E do fazer. O problema são as interrupções. Os intervalos. No caso da política urbana, no Brasil, os hiatos são graves.

No capítulo metropolitano, Pernambuco tem o que mostrar. A FIDEM é uma jovem senhora. Completa cinquenta anos. E o acervo de suas realizações é imenso. Na informação cartográfica; no planejamento territorial e econômico; e na formação de recursos humanos. Sob a inspiração de muitos gestores. Com obra certificada na taça do cinquentenário: Paulo Roberto Barros e Silva e Osvaldo Vieira de Melo.    

O tempo também é memória. Na irresistível pedagogia de erros e acertos. Aristóteles, em A Política, escreveu: “O homem, único ser que possui a palavra, possui o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Ora, é a comunidade dessas coisas que faz a família e a cidade”. Penso. Família e cidade. Feitas do sentimento do bem e do mal. De que resultam o justo e o injusto. Lançando um olhar sobre a paisagem brasileira, há muito que fazer.
 


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