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OPINIÃO

As gárgulas que fascinam e guardam as catedrais medievais

A arte gótica marca, no Ocidente, o apogeu de um período, entre 395 e 1453 (queda de Constantinopla). A sua principal origem era conhecida sob o nome de opus francigenun, evocando a sua primeira manifestação na França. Contudo, os italianos dos séculos XV e XVI, estudiosos da Antiguidade, classificaram a Idade Média como um período de bárbaros, associando-a aos Visigodos, batizando o estilo de Gótico – bárbaro por excelência.

Em toda a Europa, a unidade do gótico pode ser reconhecida, de certa maneira, porque os artífices andavam de cidade em cidade segundo as possibilidades de emprego, justamente na construção desses edifícios. A partir do século XII, surgiram novas condições de vida, as quais contribuíram para a criação de novos núcleos urbanos e, certamente, novas cidades importantes favorecidas pelos reis, modificando a estrutura da sociedade. 

A igreja poderosa havia absorvido a arte românica, mas, diferentemente, a arte gótica nasceu com as cidades e a catedral tornou-se o centro da cidade, onde grande parte dos eventos eram realizados em seu adro. As corporações das cidades contribuíam e construíam os templos, amplamente envolvidas em um sentimento religioso incomum e pelo orgulho cívico. Assim, foram construídas Notre - Dame, Amiens, Chartres e tantas outras. Admiravelmente, nenhum outro estilo de arte, revelou a exaltação mística com tamanha grandeza. 

Na arquitetura, o estilo gótico é caracterizado pelo arco de ogiva. Surgiu na França nos fins do século XII e, logo depois, expandiu-se por toda a Europa Ocidental, chegando até a pré-renascença, no século XIV, na Itália. A glória que as cidades alcançaram com as suas catedrais, belos edifícios religiosos, transformaram-nas em centros urbanos importantes na Europa. O arrojo vertical da igreja, com a sua estrutura de abóbadas, arcobotantes, pináculos e flechas, exprime, expressa e revela um entusiasmo e um misticismo religioso inigualável.

O mesmo fervor inspira a escultura gótica. Primordialmente, sacra, procura ilustrar e dignificar a igreja, onde o Cristo é cultuado e glorificado por toda a sua criação. Nas catedrais góticas, elas são numerosas e foram concebidas por vários artistas, resultando em suas diferenças na confecção e harmonia. A exuberância da escultura gótica manifestou-se, também, no exterior, nas representações grotescas. 

As gárgulas, no primeiro instante, foram confeccionadas para receberem as águas das chuvas, como um sistema de drenagem superior, evitando que estas águas escorram pelas paredes da catedral e que a umidade decorrente, não danifique as suas estruturas. Todavia, em torno dessas criaturas grotescas, bizarras e assustadoras, criou-se uma simbologia de medo e de respeito, acreditando-se, na Idade Média, em uma espécie de proteção que elas exerciam, afastando os maus espíritos e as forças do mal, guardando e protegendo as catedrais.  


A Catedral de Notre-Dame construída entre 1163 e 1345, com 182 anos de construção, na Ilha de La Citê, além de ser uma das mais antigas da Europa, é também, uma das maiores do mundo, é um dos mais fortes símbolos dos parisienses, estando presente no sentimento dos franceses. As suas gárgulas localizadas nas torres e no telhado, além de elementos decorativos, parecem estar vigilantes a tudo observando, como guardiãs do  edifício sagrado. 

Além de Notre-Dame, as gárgulas são vistas e contempladas por todas as catedrais e castelos da Europa; na Catedral de Milão, na Catedral de Roma, na Catedral de Florença, na Catedral de  Colônia, na Alemanha, no belo edifício de Chartres, na Catedral de Amiens e em tantas outras, cada uma delas com as suas peculiaridades, mas todas fascinantes e inseridas no simbolismo de guardar e proteger os seu edifícios sagrados.    

                      

* Arquiteto, membro de CEHM, membro de Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e professor titular da UFPE.

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