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OPINIÃO

Cana, Nordeste e Brasil

Desde os primeiros passos da colonização portuguesa ao Novo Mundo e no particular à Pernambuco, a cana de açúcar esteve presente como importante elemento estratégico no processo de consolidação da ocupação.

Já explorada há décadas pelos portugueses na Ilha da Madeira, os colonizadores trouxeram para cá a título de experiência mudas de cana, inicialmente plantadas nas imediações de Itamaracá em 1518, criando a base agrícola para adiante implementar o primeiro engenho de açúcar conhecido como “Engenho Capitão” pertencente ao capitão Pero Capico.

Pero Capico, administrador colonial português, foi quem ergueu em Igarassu a Igreja Nossa Senhora da Conceição a primeira igreja do Brasil em alvenaria. 

Desde então, transcorridos mais de quinhentos anos, a atividade canavieira se estabeleceu e conseguiu subsistir a despeito de grandes dificuldades, consolidando-se como a mais longeva de nossas atividades, permanecendo até hoje como um dos mais importantes pilares de sustentação econômica e social no Nordeste.

Outrossim, preocupa-nos a carência de atenção governamental, do ponto de vista da proteção à tradicional atividade canavieira, carro chefe do emprego agrícola e industrial na região mais carente do Brasil.

Desde a extinção do IAA, Instituto do Açúcar e do Álcool em 1988, a primeira agência reguladora criada em 1933 no governo Vargas para garantia da interação harmônica entre os agentes da cadeia produtiva, trabalhadores, fornecedores de cana e usinas, garantindo a competitividade econômica entre o Nordeste e o Centro Sul, observamos crescente comprometimento da atividade canavieira na Região em relação ao Sudeste, dificuldade potencializada por outros fatores como os episódios de seca no Nordeste, recomendando há muitos anos blindagem em relação ao recorrente fenômeno climático como o processo de irrigação na zona canavieira, indispensável à sustentação da atividade do ponto de vista agronômico e por consequência social, garantindo o emprego em grande parte da Mata litorânea nordestina.

O recente episódio das tarifas americanas impostas ao Brasil, que atingiu fortemente o Setor no Nordeste, e que ensejam medidas de caráter emergencial como proteção às Usinas e produtores de cana atingidos, oferece ao Setor oportunidade única e imperdível para inserir os projetos de proteção à atividade canavieira há muito concebidos e apresentados ao governo aguardando até hoje sua implementação.

Os referidos projetos denominados de “Renovar” (renovação canavieira) e “Águas do Norte” (captação de águas pluviais e irrigação) dariam forte contribuição na geração de postos de trabalho, projetando no médio prazo retorno do investimento requerido pela via do aumento da produção e por consequência da contribuição tributária setorial. 

A iniciativa seria desenvolvida no modelo PPP (parceria público-privada) de forte efeito multiplicador em mais de cinquenta municípios localizados na Zona da Mata canavieira de Pernambuco, no particular e uma vez ampliada no Nordeste como um todo.

Igualmente importante, no conjunto das medidas que compõem o “Plano de Contingencia” anunciado pelo Governo Federal, a possibilidade de aprovação da MP 1309 já protocolada junto ao Congresso Nacional, propondo subvenção econômica no valor de R$ 12,00 por tonelada de cana produzida no Norte-Nordeste, visando restaurar o sentido econômico da atividade, face ao comprometimento decorrente das tarifas que foram impostas ao Brasil pelo governo norte americano comprometendo nossas relações com o antigo e tradicional parceiro comercial, gerando em contrapartida como reação a iniciativa americana, a ampliação das operações em parceria com os chineses, com o qual já vimos desenvolvendo conversações.

A cana-de-açúcar continua presente no Brasão de Pernambuco não como um mero enfeite mas como um símbolo maior de nossa resiliência. 

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