Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
opinião

COP30: Brasil mostra soluções para conter crise climática

A Conferência do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA) em novembro, tem a expectativa de sair do discurso e avançar na implementação concreta de medidas para conter o aquecimento global. 

Desde o Acordo de Paris, em 2015, nenhuma COP foi tão aguardada. O tratado na França estabeleceu o compromisso de limitar o aquecimento a menos de 2°C, idealmente a 1,5°C — uma meta que já começamos a ultrapassar, aproximando-nos perigosamente do ponto de não-retorno climático.

O presidente-designado da COP30, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, tem liderado um apelo global por um verdadeiro "mutirão" de ações imediatas. Diante da urgência, o Brasil está bem-posicionado para liderar pelo exemplo.

Hoje, mais de 50% da matriz energética brasileira é renovável — a maior proporção entre as dez maiores economias do mundo. Um marco alcançado de forma gradual e estratégica, com impacto direto no desenvolvimento econômico e social.

A biomassa da cana-de-açúcar representa 16,7% da oferta total de energia no Brasil, superando a energia hidráulica e ficando atrás apenas do petróleo. Com a cana e o milho (cultivado como segunda safra após a soja), o etanol substitui 45,6% da gasolina no país. Isso ocorre via mistura obrigatória (atualmente 30%) e pelo uso direto de etanol hidratado em veículos flex, que compõem 86% da frota leve.

No caso do diesel, o biodiesel — produzido com óleo de soja, sebo bovino e outros óleos vegetais — substitui 15% do total consumido. Esses resultados decorrem do avanço tecnológico tanto na produção agrícola quanto na engenharia automotiva, utilizando áreas já cultivadas, sem ameaçar biomas nativos.

Vale destacar que a produção de biocombustíveis no Brasil não compete com a de alimentos — ela os impulsiona. Desde o início do Proálcool, a produção de açúcares cresceu de 7,1 para 128,4 milhões de toneladas, consolidando o Brasil como maior produtor e exportador mundial de açúcar. O milho e a soja transformados em biocombustíveis geram coprodutos como farelo e óleo, que fortalecem a pecuária e aumentam a produção de proteína animal com menor impacto ambiental.

Além disso, os biocombustíveis geram bioeletricidade, biogás, biometano, etanol de segunda geração, leveduras para alimentação e CO biogênico. E são certificados por sua intensidade de carbono, qualificando-se para usos como combustível sustentável de aviação (SAF), substituição do bunker marítimo e produção de bioplásticos.

O exemplo brasileiro mostra que é possível agir agora, sem depender de novas frotas ou infraestrutura. Combustíveis com até 10% de etanol e 20% de biodiesel podem ser utilizados em motores a gasolina ou diesel em qualquer lugar do mundo. Essa estratégia é tecnicamente viável, escalável, acessível, gera empregos, reduz emissões e fortalece a segurança energética.

Outro pilar fundamental que o Brasil leva à COP30 é o compromisso com critérios robustos de sustentabilidade. O país adota métricas de avaliação do ciclo de vida ("berço ao túmulo") para políticas públicas, superando abordagens limitadas como “tanque à roda”. 

O Brasil está na vanguarda ao adotar a avaliação do ciclo de vida, ou o critério “berço-ao-túmulo”, como métrica para definir objetivos de políticas públicas nas áreas de transporte e meio ambiente, de estímulo ao aumento de eficiência energética-ambiental na produção de veículos e de energia, e de certificação para a produção de combustíveis limpos e renováveis. 

Enquanto a grande maioria dos países ainda adota a limitada métrica “tanque-a-roda”, que avalia apenas as emissões de canos-de-escape, e que tem levado muitos países à armadilha da adoção de tecnologias que não avaliam a origem da fonte energética utilizada, o Brasil dá um salto ultrapassando a métrica “poço-a-roda”, que avalia a origem e a renovabilidade da fonte energética, e adota o definitivo e mais inclusivo critério “berço-ao-tumulo”.

Leis como o Código Florestal, RenovaBio, o Programa Mover e o Combustível do Futuro garantem esse alinhamento entre meio ambiente, mobilidade e energia.

O Brasil se coloca na vanguarda mundial ao ter implementado o Código Florestal Brasileiro e estar implementando de forma quase universal os objetivos de manutenção de reservas legais em áreas privadas, em níveis de no mínimo 20%, e que podem chegar a até 80% dependendo da região. Na COP da implementação, o Brasil pode mostrar ao mundo que é possível agir com eficácia, com base na ciência, promovendo uma transição energética justa, sustentável e inclusiva.
 


___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.

Veja também

Newsletter