Sáb, 06 de Dezembro

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OPINIÃO

Crises são parteiras. A inviabilidade Trump

E Goyanna? Goyanna é uma história do futuro. Faz parte de uma trilogia da tri-raça: trincheiras das mulheres de Tejucupapo (1646); Tabocas (1645); e Guararapes (1648 e 49). Tem um dos quatro Institutos Arqueológicos e Históricos do Império (1870). E, ao mesmo tempo, fabrica carros com robôs. Stellantis. Com a tecnologia mais avançada de veículos produzidos no Japão, na China e nos Estados Unidos. E sedia uma das mais importantes produções de plasma sanguíneo no país, na Hemobrás.

Goyanna é uma mescla do tempo. Juntando fazeres dos séculos XVII e XXI. Na síntese convivial da diversidade cultural. Na festa da comunidade quilombola da povoação de São Lourenço de Tejucupapo, de raiz africana. Festa do carrego da lenha levada pelos negros, missa rezada pelos católicos e, à noite, queima da fogueira. É um contraponto à guerra tarifária de Trump.

Trump não é só o atraso. Favor não confundir tradição, necessária, e senso conservador, natural, com reacionarismo. Reacionarismo é planismo, anticiência, antivacina. E antidemocrático. Plutocrata. Concentrador de poder. Destruidor de acervo de conquistas multilaterais e comerciais de nações abertas e plurais. Afrontando obra de definição da liberdade política. Transnacional. Nascida na Filadélfia de George Washington, em 1776. E anunciada por Danton e Marat, com a queda da Bastilha, em 1789.

Toda crise é parteira. Traz em si, nas suas entranhas maternais, a semente da restauração. Do renascimento. Da reinvenção. Do caminho de saída. Dou dois exemplos: um latino-americano. E, outro, da guerra fria, nos anos 60. 

O primeiro exemplo: assumindo a presidência da República, em lugar de Tancredo Neves, levado pelos fados, José Sarney teve que estabilizar a política. A política civil e a política militar. No caso da política militar, ele mobilizou a energia da Força executando o projeto Calha Norte, na Amazônia. Ao gosto dos militares. Mas, logo veio uma tensão com a Argentina. Com propósitos iniciais de fabricar armas atômicas. 

Foi um choque. Armamento atômico na América Latina seria um desastre social. E um risco político. Sarney tomou o avião. Desembarcou em Buenos Aires. E acertou com Raul Alfonsin assinatura de tratado proibindo a fabricação de bomba atômica. Rápido e certeiro. Não se falou mais nisso.

Segundo exemplo: na primeira metade dos anos 60, o planeta estava no auge da guerra fria entre Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. John Kennedy, de um lado, e Nikita Krushev, de outro lado. Secretamente, os soviéticos construíam uma base de foguetes em Cuba, a 180 quilômetros de Miami. Ao saber, Kennedy estabeleceu um cordão marítimo de navios de guerra em torno da ilha. O confronto estava armado. Até o último instante, antes do confronto entre as duas marinhas, o mundo perigou à beira da destruição nuclear.

A solução diplomática veio com acordo baseado em dois pontos. A Rússia desistia da construção da base de foguetes em Cuba. E, em troca, os Estados Unidos desconstruía a base de foguetes, no Báltico, apontados na direção do território soviético. Assim foi feito.

Moral da história: um gole singular de sensatez acaba com a chance da destruição coletiva. Trump está rodeado de yes men. Mas começa a sofrer reveses internamente. Reação do Judiciário, de universidades, de órgãos públicos. E de plutocratas seus apoiadores. Neste sábado, fez um recuo quanto aos produtos eletrônicos. Com medida fiscal de incentivo aos fabricantes. Ou seja, a solução está vindo do ventre do poder.

Soluções de conflito surgem da confluência entre ações de dentro para fora e de fora para dentro de cada adversário. É calibração para romper a resistência à racionalidade. A egolatria é grande. Mas não maior do que as instâncias globais. Assistidas pelo silêncio chinês.

E Goyanna continuará firme. Canavial. Frutífera. E fluvial. Escrevendo serenamente a história do futuro.
 

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