Crônica das relações efêmeras: uma perspectiva filosófica e humanista
A busca incessante por desejos parece ser o motor que impulsiona a humanidade atual. Encontramo-nos em meio a uma crise de identidade. As relações pessoais tornam-se descartáveis, efêmeras, como se fossem objetos de consumo que pudessem ser substituídos a qualquer momento.
Nessa corrida desenfreada, perdemos de vista o principal foco: a construção de laços sólidos. Tudo isso é deixado de lado em prol de um olhar para si, egoísta, que prioriza o individual em detrimento do solidário.
Essa reflexão nos leva a entender que a educação e o crescimento são processos coletivos, que dependem da interação e da troca entre as pessoas.
Entre amigos, essa realidade torna-se ainda mais evidente. A amizade, que outrora era baseada em princípios de lealdade, confiança e respeito mútuo, hoje parece ser regida por interesses momentâneos e conveniências passageiras. Amigos são escolhidos e descartados com a mesma facilidade com que se troca algo que não “serve mais”, sem qualquer celebração ou descontentamento, tudo de forma hedonista, onde o “EU” é o centro.
A sociedade, como um todo, parece estar perdendo sua identidade. Não sabemos mais quem somos, pois estamos constantemente tentando nos moldar à imagem que acreditamos ser a mais desejável. Nesse processo, perdemos a noção do que realmente importa: tempos difíceis tornam pessoas fortes e tempos fáceis tornam pessoas fúteis!
Salomão, em provérbios, afirmava que "o homem de muitos amigos pode chegar à ruína, mas há amigos mais chegados que irmãos". Essa reflexão nos leva a questionar se estamos realmente fazendo o melhor de nós mesmos, ou se estamos apenas tentando nos adequar às expectativas alheias.
Confúncio afirmava: “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.
Estamos discutindo exatamente isso: a necessidade de discernir quem realmente é seu amigo. Cada indivíduo terá que enfrentar essa prova, transcendendo uma compreensão cética e superficial, expressa em ‘lato sensu’, para alcançar um entendimento mais profundo que seja significativo e gere valor.
É preciso, portanto, que façamos uma reflexão profunda sobre nossas atitudes e prioridades. Precisamos resgatar o valor das relações duradouras, baseadas em princípios sólidos e não em dopamina.
Neste ponto, é importante ressaltar a necessidade de sermos menos ansiosos, de buscarmos ter mais fleuma. A ansiedade, muitas vezes, nos impede de ver o quadro geral, de apreciar as pequenas coisas que realmente importam. Precisamos aprender a desacelerar, a apreciar o momento presente, a cultivar a tranquilidade.
Exercer mais solidariedade como combate ao egoísmo, ao egocentrismo e nos permitindo olhar além de nós mesmos, vendo o outro, entendendo suas necessidades e anseios. É um exercício de empatia.
Isso significa colocar a vontade do outro acima da nossa, esse sentimento tem que ser muitas vezes adestrado ao nosso eu animal.
Ousamos asseverar que precisamos abdicar das atrações vulgares para nos dedicarmos ao que realmente nos ajuda a amadurecer, a crescer, e por mais óbvio que pareça ser, sabemos todos o quão difícil é. Precisamos buscar aquilo que nos desafia e evoluir.
Ariano Suassuna, em uma de suas falas mais famosas, disse que "o otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso". Talvez seja essa a postura que devemos adotar diante da crise de identidade que enfrentamos: sermos realistas, reconhecendo os desafios que temos pela frente, mas mantendo a esperança de que é possível construir um futuro melhor.
Na busca desenfreada de saciar a si mesmo, uma carga demasiada de serotonina e dopamina mais se parece com uma ida a uma clínica para injetar hormônios do que o prazer de desfrutar a companhia do outro.
Finalmente, não menos importante e sem fugir do tema central, temos que apontar o mundo digital e as redes sociais como forças motoras para essa efemeridade que estamos a ressaltar. Elas nos oferecem uma infinidade de conexões superficiais, mas nos privam das conexões profundas e significativas que tanto necessitamos. Precisamos aprender a usar essas ferramentas a nosso favor, sem nos deixar consumir por elas.
Sejamos constantes no amor fraternal!
*Advogado e **Executivo
