Dia do cliente. O que comemorar?
Hoje, 15 de setembro, comemora-se o dia do cliente. Qual o significado dessa data? Podemos entender cliente e consumidor como sinônimos? Semanticamente, sim, são polos ativos do ato de consumir. Então, por que a distinção? Um entendimento possível e razoável é que consumidor é simplesmente quem consome e cliente é o consumidor mais fidelizado e recorrente em determinado consumo. De maneira didática, todo cliente é um consumidor, mas nem todo consumidor é um cliente.
Essa data foi criada no Brasil nos anos 2000 com o objetivo de incrementar e aumentar as vendas num mês que, tradicionalmente, é desaquecido no comércio, estimulando campanhas e promoções que tratam o cliente como “amigo” e “parceiro” das empresas. E também e principalmente para marcar uma distinção com a data de 15 de março, dia do consumidor, quando aí prevalece a lembrança do consumidor como sujeito de direitos consumeristas.
Penso que mais importante do que a mera distinção linguística, precisamos refletir sobre o que é, o que significa ser consumidor/cliente em nossa sociedade contemporânea, onde o consumo apresenta-se como um processo estruturante, sobretudo quando projetamos o ato de consumir numa sociedade/cultura de massa.
É imperioso termos em mente que o consumidor/cliente tem papel de protagonismo em nossa sociedade, pois é fundamental para a sociedade de consumo, mais que criar produtos e serviços, é criar um mercado consumidor, através de infinitos artifícios de marketing, publicidade, acessibilidade, convencimento e criação de novas necessidades de consumo.
E ser consumidor/cliente nessa nova ordem representa consumir de maneira distinta de consumidores de outras épocas. Hoje o consumo tem que ser voraz, impensado, impulsivo e, contraditoriamente, incompleto, pois as sensações de plenitude e satisfação são condenadas.
Precisamos estar sempre ávidos por uma nova compra ou por uma nova experiência.
O consumo tem que ser rápido e desapegado, pois o desejo deve ser mais importante que a satisfação. Triste, lamentável, mas esse é o panorama e a realidade em nossa sociedade consumista.
Dessa forma, antes de comemorar, devemos nos questionar acerca das nossas ações como consumidores e clientes. Praticar um consumo refletido e consciente é possível e muito benéfico. Repensar nossas pautas de consumo, desfrutar do que compramos, e principalmente questionar se precisamos realmente abraçar tantas modas e tendências que são apresentadas e impostas a todo momento.
Não defendo aqui o radicalismo de “não consumir”, essa perspectiva não prospera, não tem viabilidade em nossa sociedade, mas prego um comportamento racional, não sejamos alienados e submissos ao consumismo. É possível e faz muito bem.
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