Discord: A Plataforma que está levando adolescentes à automutilação
Falo como médico, com mais de meio século de profissão, que já atendeu inúmeros adolescentes marcados por cortes nos braços, cabelos tingidos com cores gritantes e olhares que escondem um profundo sofrimento. Muitos deles foram meus pacientes. Outros, filhos de pacientes e amigos.
Por trás de muitos desses casos, existe um nome: Discord. Uma plataforma que, sob a aparência de bate-papo e jogos, abriga grupos que fazem apologia ao crime, à automutilação e ao suicídio. Não é exagero — é realidade.
E não se enganem: a polícia não consegue bloquear completamente esses grupos. A rede é rápida, anônima e escapa ao controle. Enquanto isso, adolescentes vulneráveis são atraídos por influências perversas que legitimam a dor como caminho e a morte como saída.
Por isso, digo sem rodeios: pais, tomem o celular dos seus filhos, tenham as senhas, leiam as conversas, investiguem os grupos que frequentam. Não se escondam atrás do discurso de “respeitar a privacidade”. Um adolescente não precisa de privacidade para se destruir. Precisa de proteção.
A omissão custa vidas. Muitos vão chorar filhos mortos porque ignoraram os sinais dentro de casa. A internet não é neutra. Se você não vigiar, alguém — ou algo — o fará — e pode não ser para o bem.
A adolescência é frágil. Se os pais não estiverem presentes, a internet estará — e nem sempre com boas intenções.
Estudos recentes revelam que, entre 2011 e 2022, o Brasil registrou mais de 720 mil notificações por automutilação e 104 mil internações por esse motivo . Em particular, entre jovens de 10 a 24 anos, as taxas de suicídio cresceram, em média, 6% ao ano, enquanto as de autolesão aumentaram 29% ao ano, de acordo com dados da Fiocruz Bahia em parceria com Harvard  . Esses números trágicos mostram que estamos diante de uma crise real e crescente de saúde mental juvenil — e ignorá-la é uma escolha irresponsável.
Dr. José Edson de Moura
Médico
