Divino contraponto
Francisco nos contemplou com seu legado seu sucessor o agora Papa Leão XIV, nascido Robert Prevost, Norte Americano e Latino Americano, que inicia seu mandato vitalício de paz, harmonia e fraternidade em divino contraponto ao seu conterrâneo o antagonista presidente americano, com arroubos de belicista soberba, no exercício do curto mandato que lhe resta como gestor da nação mais poderosa da Terra que tinha tudo para ser a “Great” da paz entre os povos.
Estávamos precisando de um Leão para o enfrentamento de tempos tão difíceis como o que ora atravessa a humanidade, quando surge como um verdadeiro milagre para socorrer a todos nós o Leão que nos faltava, compensação aos “greats” do ódio, da crueldade, da desumana ameaça ostensiva ou velada, como principio, meio e fim.
A ascensão do Agostiniano Prevost ao trono de São Pedro, traz ao nosso conhecimento importante informação histórica para o Brasil e em especial para Pernambuco, representada pela iniciativa do Deputado abolicionista, o pernambucano Joaquim Nabuco há mais de um século em fevereiro de 1888, quando foi recebido em audiência privada pelo Papa Leão XIII em Roma, não na condição de diplomata, nem como representante oficial, mas sim como militante na luta pela liberdade dos escravizados, Nabuco não se conformava com o discreto silêncio da Igreja em relação a execrável e cruel escravidão.
Sendo assim, aproveitando-se de surpreendente chance representada pela publicação dos bispos brasileiros que haviam editado pastorais, sugeriu que os fieis dessem cartas de alforria como presente ao papa Leão XIII pelo seu jubileu sacerdotal.
No dia 10 de fevereiro, ele foi recebido por Leão XIII em audiência privada, sozinhos com portas fechadas.
Nabuco descreveu a cena vivenciada por ele como um dos momentos mais importantes de sua vida, “uma conversa íntima com Deus, tendo o Papa como intérprete”.
Ao pedido de Nabuco, ouvido com extrema atenção pelo Papa, um mandamento moral para tocar a consciência católica contra a escravidão no Brasil, o Papa respondeu “Ce que vous avez à coeur, L'Église aussi L’a à coeur” (“o que você tem no coração, a Igreja também tem no coração”), completando “Ce mot jê le dirai, vous pouvez en être sur” (“Essa palavra eu direi, pode ter certeza”), completando, “Quando o Papa tiver falado, todos os católicos terão que obedecer”.
Obs.: Contido em registro de Joaquim Nabuco “Minha formação” datado de 1900.
A história não se encerra aí, pois quando a notícia chegou ao Brasil, a reação foi intensa, o governo conservador, alarmado com a pressão vinda de Roma, tenta atrasar a publicação da encíclica prometida, outrossim a história correu mais rápido do que a diplomacia, e em 13 de maio de 1888 finalmente a escravidão foi abolida no Brasil, através da Lei Áurea assinada pela princesa Izabel, com reconhecida contribuição do pernambucano e grande homem público Joaquim Nabuco.
Como gesto final, Leão XIII enviou a Princesa Izabel a Rosa de Ouro, condecoração importante e simbólica confirmando o apoio do Vaticano à Liberdade, enfatizando que o movimento abolicionista brasileiro não foi só local, mas também universal.
Por tudo isso, ao escolher o nome Leão XIV, o novo Papa não apenas acena ao passado, acena a um trono moral.
Leão XIII restaurou o papel da Igreja como voz da verdade acima dos interesses políticos. Leão XIV, que herdou os princípios humanísticos e morais do seu antecessor e inspirador, Leão XIII, é a nossa derradeira esperança como contribuição para um mundo melhor.
Obs.: A título de curiosidade histórica, Leão XIII recebeu em audiência dois importantes nordestinos, o pernambucano Joaquim Nabuco e o cearense Padre Cícero.
Finalmente é importante lembrar no dia 13 de maio de 2025 que a abolição da escravatura no Brasil ainda não foi concluída, continua em processo, em pensamento, palavras e obras, amém.
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