Sáb, 06 de Dezembro

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Doenças na gengiva podem acelerar declínio em pacientes com Alzheimer

A relação entre saúde bucal e bem-estar do organismo vem sendo cada vez mais reforçada pela ciência. Nos últimos anos, estudos apontaram uma associação direta entre a doença periodontal — inflamação crônica da gengiva causada por bactérias — e a progressão do Alzheimer. A forma mais comum de demência entre pessoas idosas. Embora pareça uma condição localizada e tratável, a periodontite pode representar um risco sistêmico grave, principalmente entre indivíduos com funções cognitivas comprometidas.

A doença periodontal começa sutilmente, muitas vezes com uma gengivite que causa sangramento leve. Se não tratada, evolui para a periodontite, uma infecção mais profunda que compromete os tecidos de sustentação dos dentes. A principal causa é a acumulação de placa bacteriana e tártaro, que irritam e inflamam as gengivas. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas sofrem de alguma forma de doença periodontal no mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 20% da população adulta apresenta quadros moderados a graves da condição.

Em pessoas com Alzheimer, o risco é ainda mais acentuado. A dificuldade para manter uma rotina de higiene bucal eficaz, somada à deterioração progressiva das habilidades motoras e cognitivas, torna o ambiente oral mais propenso à proliferação de bactérias. Esse desequilíbrio pode desencadear processos inflamatórios que afetam não somente a cavidade bucal, mas também o sistema nervoso central.

A inflamação crônica, quando presente no organismo de forma contínua, contribui para o agravamento de doenças neurodegenerativas. Não é necessário que a bactéria responsável pela infecção oral invada diretamente o cérebro. A simples persistência do estado inflamatório já é suficiente para acelerar o declínio cognitivo, interferindo na memória, no raciocínio e na qualidade de vida do paciente.

Diante desse cenário, especialistas recomendam um plano de cuidados odontológicos específico para pessoas com Alzheimer, desde os estágios iniciais da doença. Escovações supervisionadas, visitas periódicas ao dentista e exames preventivos são medidas essenciais para controlar a evolução da periodontite. A adesão a essas práticas pode evitar não só a perda dentária, mas também impactos mais graves à saúde cerebral.

A integração entre a odontologia e as áreas de neurologia e geriatria é uma urgência no cuidado multidisciplinar dos pacientes com Alzheimer. Profissionais da saúde, familiares e cuidadores devem estar atentos aos sinais de infecção gengival: como sangramento, mau hálito persistente e retração gengival, e agir com rapidez para controlar o quadro.

Ao proteger a saúde bucal dos idosos, a sociedade atua diretamente na prevenção de complicações sistêmicas graves. Cada dente preservado, cada inflamação evitada representa uma medida a mais na proteção do cérebro. Levar a saúde bucal a sério é, hoje, um passo fundamental na luta contra a progressão da demência.

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