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OPINIÃO

Estética e a criação do belo

A estética é uma forma de pensamento reflexivo. É a mente humana ponderando sobre a sua própria atividade ou ao meditar sobre a sua própria sensibilidade diante da emoção de um belo rosto ou de um atraente corpo.

 A palavra estética, no sentido moderno, foi abordada em 1750, pelo filósofo alemão Baumgarten, em lançamento da sua obra (em primeiro volume) - “A Esthética”. Todavia, já na Antiguidade, inúmeros filósofos e artistas discutiam sobre esse assunto, como Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Leonardo da Vinci, entre outros. Um esteta ou alguém que se permita falar sobre esse assunto não pode ignorar, sobretudo, a respeito do conhecimento real de suas ideias. Lamentavelmente, algumas pessoas, atualmente, tentam apagar tais passados filosóficos e artísticos. Por ora, lembrar-vos: a ignorância não possui virtude alguma e, certamente, perde todo o sentido da grandeza. 

Entre os gregos, houve uma mudança de atitude do século V para o século IV a.C., no sentido da delicadeza e do refinamento. A beleza era discutida em sua objetividade - o belo ou o feio das cousas se baseava nas qualidades do próprio objeto. E tais qualidades provocavam emoções pontuais ou negativas no olhar do espectador. Essa discussão foi dominante desde a Antiguidade até a Idade Média. Seria “Belo” aquilo que atrai, que aproxima, que expressa uma qualidade admirável. O Belo, portanto, é sempre composto daquilo que é equilibrado e harmônico; e, o feio, aquilo que causa pesadelo, objeção e repulsa. Na Idade Média, a relação da beleza era incorporada à religião cujo ato inspirava alumbramento divino.

Platão revelava dentre tantas afirmativas sobre o Belo “a existência do princípio abstrato, de intenso poder de realidade, do qual procederia toda a beleza concretamente e sensível”. Atribui-se ainda a Platão a citação: “o Belo é o esplendor da verdade, implícita no espírito platônico”.

A estética de Aristóteles estuda e exprime a realidade sensível. A Poética aristotélica, trata, particularmente, de tragédia na arte teatral, revelando a arte trágica purificar e harmonizar as paixões e as enobrecer. Assim, exercer uma espécie de purgação expelindo os maus humores e libertando a alma de anseios perigosos. Na estética moderna, ainda hoje, alguns aspectos de similitudes são encontrados no pensamento aristotélico. 

Entre os estetas modernos, a expressão: “a estética é a ciência do Belo”, para muitos, já a consideram superada ora por falta de conhecimento filosófico, ora por querer alargar o que chamamos de Epítetos Estéticos. Se não admitir a teoria platônica de um Belo absoluto, ou naquilo que Moacy Laterza (in memorian - UFOP/ MG) declamara “a beleza está contida nas cousas belas, nas partes belas”, experimentando o relativismo estético “o qual fez observar o que é declarado Belo por determinada pessoa ou grupo social pode não o ser para outra pessoa ou grupo social; trata-se simplesmente de um epíteto, cujo emprego não está submetido a nenhuma regra formulada (apesar das inúmeras tentativas para se descobrir semelhante regra, sob forma de definição do Belo”, Etienne Soriau (Chaves da Estética, 1973). 

No século XIX, o Romantismo trouxe à luz do mundo muitos valores estéticos consideráveis: o trágico, o dramático, o bonito, o gracioso e o sublime, fracionando, portanto, o epíteto Belo. Admite-se, pois, dentro da riqueza da sensibilidade estética, alguns acidentes estéticos, ou pela maior ou menor aptidão no emprego de epítetos estéticos. Sobre o conceito revelado pela Dra. Juliana Guimarães (Pós-Doutora em Saúde Coletiva UF/Ceará): “padrão de beleza é uma expressão usada para caracterizar um modelo de beleza que é considerado ideal em uma sociedade”. Revela, ainda: “a existência de padrões estéticos considerados ideais faz parte de todas as culturas”.

Em seu notável livro - Iniciação à Estética, o escritor Ariano Suassuna analisa o pensamento de Aristóteles sobre as categorias da Beleza em relação ao campo estético e revela os elementos de harmonia e desarmonia; grandeza e proporção. Então, baseado no campo estético da harmonia encontram-se: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico. Já no campo estético da desarmonia, deparam-se: o Risível, o Feio, o Horrível e o Cômico. 

O Gracioso seria a forma de beleza em pequenas proporções. O Belo, em um ser vivente, apresentaria imponência, dimensões, majestade, ordem e harmonia. A Beleza estaria contida, portanto, nas cousas belas, nas partes belas, formando um todo sem ser excessivamente pequeno, nem desmedidamente grande (alguns trechos da Poética). O Sublime concentra ou carrega a Beleza de forma grandiosa. É uma forma de beleza ligada à harmonia.

O Trágico, o terror e a piedade são despertados por uma ação, onde seriam mais adequados ao Teatro ou aos gêneros literários, como a Epopéia, o Romance ou a Novela. As formas ásperas e desarmônicas representam o Feio, ou até o Repugnante e, quando mostram-se em grandes proporções ou em movimento, chega-se ao horrível. 

Em um país imenso como o Brasil, diante de tamanha diversidade cultural, a existência de padrões estéticos considerados específicos ou ideais fazem parte de todas as culturas. Então, uma Bela mulher, no campo estético da harmonia teria, além de um belo rosto e um belo corpo - educação (bons modos) e também, obviamente, escolaridade. Em complementação jamais usar-se de vulgaridade, inclusive sabendo-se sentar-se, levantar-se e agir delicadamente em muitas formas de ser e fazer. Isto posto, não precisa ser um sábio ou um esteta para identificar um ser vivente Belo, Feio ou Horrível. Basta utilizar-se do bom senso, pois este é o princípio da harmonia para assim saber enxergar a Beleza ou o Belo.  

*Arquiteto, membro do CEHM, membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e Professor Titular da UFPE

 

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