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Música: beleza e coesão social

O que é música? É harmonia. São tradições. Memória. Inspiração. Celebração. Chama. Coesão social. Cura. Oxigênio. Em seus estilos. Está no cotidiano. E nos cinquentenários. Está na alegria dos homens. E nos réquiens. Nos momentos de dor. Nos instantes de amor. Tem requebro da percussão. E solenidade do cello. Compareceu, em 1989, à celebração da primavera de Gorbachev. Com as cordas de Shostakovich.

Celebrou as Olimpíadas de Paris na melodia de La Vie em Rose. Foi fraternalmente executada por israelenses e palestinos, juntos em orquestra, regidos pelo maestro Daniel Barenboim. Judeu argentino com cidadania palestina.    
Assim é a música. Presente nas ruas de New Orleans lembrando o jazz negro, imortal. Alegrando a beira-mar de Havana nos acordes do Buena Vista Social Clube. Iluminando o centro histórico de Lubiliana, na Eslovênia. Nos seus incrivelmente animados bailes noturnos.

O século XVII foi das artes plásticas. Bernini e Rembrandt. El Greco e Vermeer. Velazquez e Caravaggio. E da literatura: Cervantes e Shakespeare. Por seu turno, o século XVIII foi da música: Bach, Handel, Vivaldi, Scarlatti. Bach (1685-1750) soube fazer tudo em música: o kantor religioso, cantatas, paixões, fugas. O cravo bem temperado. O concerto triplo para piano, violino, flauta e orquestra. Era o tempo das realezas, do absolutismo. E da preparação das arquiteturas iluministas. Nas enciclopédias francesas.

Bach teve muitos filhos. Musicais. Haydn, Gluck. E Mozart (1756-1791). Não há uma classificação para Mozart. Sua obra é um clarão. Irradiante. E doloroso no plano pessoal. Ganhou a vida precariamente. Dando aulas e concertos. Mas sua invenção melódica é incomparável. Sua música é, algumas vezes, cosmopolita. Outras vezes, romântica. E, sempre, brilhante. Sua obra é diversificada. Vai das sonatas às óperas, Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, a fantástica Dom Giovanni. E o célebre Réquiem (1791).

Então, aparece o sol. No século XVIII, surge a figura mais poderosa da história da música: Beethoven (1770-1827). Um eixo clássico. Em torno do qual a música girou. E inovou. Foram nove sinfonias, sonatas, quartetos. Na Nona sinfonia (1823), Beethoven introduziu a voz humana. Um coral. Na forma do poema de Schiller (Ode à alegria). Na terceira fase de sua vida, Beethoven já estava surdo. Seu estilo mudou completamente. Saiu do triunfalismo. E assumiu uma expressão complexa, enigmática. Talvez a surdez o tenha liberado das convenções. E autorizado a ousar um céu mais elevado. Napoleão musical, Beethoven inspirou o tom dramático de Wagner. E estimulou o som programático de Brahms.

O século XIX foi vestido de romantismo. Preparando o paradoxal século XX. Sede de grandes conquistas científicas e tecnológicas. E destino de duas trágicas guerras mundiais. O prenúncio de um dos traços do século XX veio com a música: o nacionalismo. Com o polonês Frederico Chopin (1810-1849). E, em seguida, com o russo Igor Stravinsky (1882-1971). Chopin viveu pouco. Vítima da tuberculose. Mas o suficiente para que ele deixasse sua marca na biografia da música. A simpatia pelos poloneses facilitou a carreira de Chopin. Ele criou novo estilo pianístico. Forte, determinado, nacionalista. Essas cores assumiram intensidade na Polonaise militar. A polonidade de Chopin foi uma evidência musical. E um sintoma político. 
      
Por sua vez, Igor Stravinsky, egresso da burguesia culta de São Petesburgo, foi influenciado por Tchaikovski. E por Debussy. Após o fracasso da revolução de 1905, os intelectuais russos abandonaram o marxismo. E assumiram a poesia simbolista. O teatro de Stanislavsky. E a música de Stravinsky. O pássaro de fogo (1910). A sagração da primavera (1913). Obras difíceis. Experimentais. Uma música nova para um novo século. Ele é o contrário do nacionalismo russo. Mistura Bach e jazz. Mozart e Weber. Espelha o caos de novos costumes. Obra lapidada pelo gênio. Contemporâneo.    

Música é voo. Input. E saída. Para um remanso, um canto, um descanso. Paz. 
 


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