Qua, 24 de Dezembro

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OPINIÃO

Nojenta e perigosa

Quando a gente atravessa o Cabo da Boa Esperança (já passei dos 50, para quem ainda não sabe), começa a lembrar de fatos ocorridos no passado - bons e ruins. Do nada, ressurge uma passagem que gostaríamos de esquecer e outras que nos fazem rir, até pelas circunstâncias como ocorreram. Lembrei de duas, ambas em salas de aulas. A primeira, o personagem se chamava Antônio. O professor estava dando aula e o aluno batucando na mesa. O professor, incomodado, falou: para aí, Macumba! Durante anos, ninguém o chamava por outro nome. E ele aceitou numa boa, como uma homenagem.

No outro episódio, a professora chamou José Leão (o “Leão” é fictício) para escrever algo no quadro (lousa ou quadro negro/verde). Ele levantou-se devagar e foi caminhando em passos lentos. A professora, impaciente, pediu pressa e acrescentou “parece uma lesma”. Surgia um novo nome para o personagem: Zé Lesma, que, com o tempo, se transformou em Zelê. Após o término do curso médio, cheguei a reencontrar um (Macumba): era matemático e atuava em outros ramos; Zelê, por sua vez, sumiu.

É bom ressaltar que os fatos ocorreram antes do Brasil se tornar tricampeão, em 70. Se fosse na atualidade, o colégio, o diretor, a coordenadora e os professores estariam sendo processados e os dois personagens estariam em terapias, coisa e tal.

Volto ao presente para dizer que Noé se equivocou quando colocou na arca as baratas, as muriçocas (pernilongos), os maruins, os percevejos e as lesmas - moluscos rastejantes, nojentos e perigosos que vêm causando elevados danos às lavouras. São hermafroditas e possuem órgãos genitais masculinos e femininos. Um único molusco é capaz de se autofertilizar e produzir filhotes. Não é só: as lesmas são hospedeiras de outros bichos causadores de problemas abdominais, em pessoas e animais; provocam áreas de congestão e necrose. Os infectados apresentam náuseas, vômitos, diarreia, constipação intestinal, febre e podem ir a óbito.

Em suma, não devemos chamar pessoas de lesmas. Mas podemos chamar coisas com outros nomes. Se existe cidade sol, cidade luz, também podemos ter as cidades-jabutis. Na mesma época do Zelê, conheci alguns municípios da Zona Rural. Voltei algumas vezes e, mais recentemente, há cerca de dois meses. De lá pra cá, andaram que nem um jabuti (ou cágado): devagar, quase parando. Zero desenvolvimento, perda de população e com mesmo índice de pobreza de 50 anos atrás. As igrejas (evangélicas e católicas) funcionam bem. A renda do município vem da participação no Fundo de Participação dos Municípios (FPM), da pouca arrecadação do comércio, das aposentadorias e dos programas de auxílio do governo. Triste, muito triste. Enquanto isso ...

*Executivo do semento de shopping centers
 

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