O preço da praticidade: por que a segurança virou prioridade no mercado financeiro?
Nos últimos anos, o Brasil emergiu como um dos líderes globais em inovação no mercado financeiro. Ferramentas como o Pix, o open finance e plataformas de investimento acessíveis transformaram o relacionamento entre pessoas e dinheiro, promovendo agilidade, praticidade e autonomia para o investidor. Esse avanço, no entanto, traz um novo desafio: como proteger um ecossistema cada vez mais digitalizado sem comprometer a experiência do usuário?
À medida que a tecnologia ganha protagonismo, cresce também a sofisticação dos riscos. Ataques como phishing (tentativas de enganar o usuário para obter dados sensíveis, como senhas e informações bancárias, por meio de e-mails ou sites falsos), engenharia social e fraudes com identidade se tornam mais frequentes e complexos. O prejuízo não se resume às perdas financeiras — envolve a quebra de confiança, a exposição de dados sensíveis e o abalo na credibilidade das instituições.
Nesse novo cenário, a segurança da informação deixou de ser apenas uma questão técnica. Hoje, ela representa um compromisso ético, regulatório e estratégico. Inclusive, a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em 2020, foi um marco nessa transição. Ao estabelecer regras rigorosas para o tratamento de dados pessoais, a legislação impulsionou investimentos em tecnologia, revisão de políticas internas e a criação de áreas especializadas em privacidade e compliance. Mais do que atender à lei, esse movimento fortalece a relação com o investidor e sustenta a reputação das empresas.
Mas, garantir a privacidade dos dados não é uma responsabilidade exclusiva das instituições. O investidor digital também tem um papel ativo nessa equação. Práticas simples — como adotar senhas fortes, ativar a autenticação em dois fatores, manter os aplicativos atualizados e desconfiar de links desconhecidos — podem fazer toda a diferença na prevenção de fraudes.
É igualmente importante que os usuários estejam atentos à postura das instituições financeiras com as quais se relacionam. Transparência, responsabilidade e clareza sobre o uso de dados são indicativos de um compromisso genuíno com a segurança da informação. E esse compromisso está se tornando, cada vez mais, um diferencial competitivo.
Do ponto de vista regulatório, o Brasil segue na direção certa. A atuação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) tem se consolidado com base técnica e visão estratégica. Além disso, há uma tendência positiva de alinhamento com padrões internacionais, como o GDPR (União Europeia) e o PIPEDA (Canadá), o que amplia a proteção jurídica e favorece um ambiente de negócios mais seguro e confiável.
A tecnologia, quando usada com responsabilidade, é uma aliada poderosa. Soluções como criptografia de ponta a ponta, biometria, autenticação multifatorial e análise comportamental com inteligência artificial permitem detectar ameaças antes que causem danos. Mas é preciso cautela: essas ferramentas devem respeitar os princípios da LGPD, especialmente em relação à finalidade do uso dos dados e à transparência com o usuário.
Privacidade e segurança são pilares indissociáveis da confiança. E confiança é, hoje, o ativo mais valioso do mercado financeiro digital. O futuro do setor dependerá da capacidade de equilibrar inovação com ética, tecnologia com humanização — e regulação com uma experiência positiva para o investidor. Só assim será possível construir um ecossistema financeiro verdadeiramente seguro, transparente e sustentável.
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