O tempo sabe passar e eu não sei...
O saudoso letrista Aldir Blanc é um dos que assinam uma música que me toca bastante. "Resposta ao Tempo" é uma espécie de hino que me acolhe e fortalece minha percepção do que representa o saber viver. Nessa mesma linha, também admito que posso "caetanear" e, em bom tom, reafirmar que o "compositor de destinos e tambor de todos os ritmos" tem mesmo sua cota de soberania sensorial ou plenitude existencial. Assim, entendo que sou, assumidamente, um servo do tempo, no sentido de poder entendê-lo na sua grandeza, por mais sinuosa que seja a trajetória que a vida possa me traçar.
É isso. Vez por outra sou mesmo surpreendido pelos sinais implacáveis desse velho tempo. O danado é que ele "não sabe ficar" e, na maioria das vezes, "eu também não sei". E daí, haja desencontros e surpresas! Por tais situações, conto aqui a mais nova de tantas vividas e sentidas, pois o tempo costuma "bater na porta da frente". E sem muitos arrodeios.
Dias atrás, no bojo da comemoração dos 33 anos da empresa Copergás, vi-me de frente para um enorme painel. No mesmo, havia um referencial cronológico, onde se expunha os grandes momentos conquistados pela empresa. Confesso que, apesar de uma parceria de patrocinado validada há mais de uma década, nunca me vi diante da força impositiva de algumas informações relacionadas à empresa, que estavam guardadas pelo tempo. Em especial, duas expressas pelo painel e que compuseram a ordem de ocorrência dos fatos históricos da Copergás. Naquele momento, minha memória apontou para uma condição inesperada, justo a de ser um discretíssimo partícipe do que estava ali retratado.
De imediato, descrevo aqui um ponto, de traço bem pessoal, que não constava naquele painel. Antes do ato criador revelado como a primeira evidência cronológica (a Lei que fundou a empresa, em 1991), tive uma boa lembrança. Foi que, no decorrer do ano de 1990, na coordenação do Plano de Governo do candidato a Governador Joaquim Francisco, conduzi algumas reuniões de trabalho com o engenheiro Hélio Ênio e equipe, na intenção de reconhecer a iminência de uma distribuidora de gás natural, como um dos elementos estratégicos do plano em montagem.
Ou seja, inserimos no conjunto da proposta de desenvolvimento gerada para o então candidato, os alicerces do que viria a ser a Copergás. Uma vez Governador eleito, vale realçar que Joaquim Francisco fez por cumprir o que aquele Plano sugeriu, ao assinar, no seu primeiro ano de gestão, a lei que criou a empresa. Eu, particularmente, participei das discussões de Governo. Durante o período no qual exerci a Presidência do Complexo Industrial e Portuário de Suape. Portanto, parte interessada nas relações institucionais com a Copergás.
Dito isso, outra surpresa estava à frente. Ao voltar meus olhos para aquele painel e focar no ano de 1994, senti-me, de novo, como protagonista da história da Copergás. Mesmo que à época a empresa estivesse fora do desenho orgânico da área de desenvolvimento econômico (no caso, a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo), foi justo neste momento que a Copergás começou a operar. Precisamente, quando eu estava à frente da gestão governamental da área do desenvolvimento econômico. Um contexto inorgânico, mas que não me impediu de colaborar, de alguma forma. Afinal, a questão energética já era ali encarada como estratégica.
Em resumo, o tal painel foi, em larga medida, conivente com uma lembrança que estava letárgica dentro de mim. Algo que só mesmo o tempo, no seu instante certo, foi capaz de me refrescar a memória. Assim, diante dessas circunstâncias, reconheço que, aprofundar-se nas boas lembranças, representa o melhor presente que o tempo pode nos proporcionar. Assim, percebo que qualquer contribuição que faça por merecer algum reconhecimento fático, realmente, não tem preço.
Nessas horas, vale mesmo o legado que costuma consagrar uma riqueza com efeito geracional. Ou seja, algo tão bom quanto ter o privilégio de conviver com netos e poder dizer que valeu à pena. Por eles próprios, enquanto herdeiros desse mundo, suficientemente, capazes de entenderem que pais e avós têm o compromisso de traduzirem seus atos e suas atitudes, com o passar do tempo. Pela sociedade, que precisa se estabelecer de modo ético e consciente, na busca de um mundo mais harmonioso e sustentável.
Que valham, afinal, os esforços por essa vida mais propositiva. Mesmo que o tempo passe sempre como soberano e de modo implacável. E que, do lado de cá, a gente siga meio atônito, muitas vezes sem saber como passar diante dele.
Assim, o mundo gira. E eu, particularmente, sigo minha trajetória de vida.
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