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Os celtas também estiveram em Paris

Com a queda de Granada (1484), teve fim a dominação moura na Península Ibérica. Contudo, grande parte dos territórios já havia sido retomada pela força da Espanha em meados do século X, tendo como líder Cid, El Campeador. 

Inúmeros povos contribuíram para a formação da Península, após tempos pré-históricos e durante a ocupação moura. Assim, podemos relacioná-los: os iberos, os fenícios, os lígures, os gregos, os celtas, os cartagineses, os romanos, os suevos, os visigodos e os árabes. Alguns outros como os sílingos, os alanos e vândalos, também estiveram presentes e, por certo, várias migrações de celtas contribuíram na formação dos celtiberos no início da história da Península. Logo depois, chegaram os romanos, conquistando a Ibéria no século III a. C. 

Transformada em província romana, a Península, mais tarde, foi sacudida pelos bárbaros do Norte que se derramaram sobre o Império Romano – os visigodos, os vândalos e os alanos – os quais invadiram a Espanha, quando os visigodos se estabeleceram e criaram um Império durante um século de ocupação.  Em 711, quando tornou-se visível o enfraquecimento da conquista dos bárbaros, surge sobre a Espanha o árabe, já vitorioso no Norte da África, vencendo os visigodos e estabelecendo-se na Península por oito séculos, revelando-se em todo o seu apogeu. Mas, em 739, alguns anos após a conquista árabe, as lutas contra a dominação foram-se acumulando, ganhando força e se expandiram, quando surge no Norte da Península um Estado cristão-espanhol, nascido do núcleo dos guerrilheiros asturianos: é o reino de Leão, asturo-leoneses, do qual surgirá Portugal. 

Os celtas, já citados anteriormente, desenvolveram-se na Europa Central e teriam chegado até a Ásia Menor, entre 600 a.C. a 600 d.C. Durante toda a sua existência, foi um povo que se preocupou com uma evolução cultural, atingindo o que eles chamavam de “Cultura La Tène”, o notável saber celta. Na Antiguidade clássica, foram reconhecidos por dois sábios, Hecateu de Mileto e Heródoto, os quais analisaram diversas tribos celtas com as mesmas características culturais. Da Europa Central, fixados na Península, percorreram as regiões da França, das Ilhas Britânicas, da Bulgária e da Turquia, em busca de melhores locais de sobrevivência para as suas tribos, as quais eram reunidas por laços culturais. A exemplo de outros povos da Antiguidade, os celtas apresentavam uma divisão de classes em sua sociedade, tais como: os druidas (aqueles com maiores conhecimentos em relação aos demais, os quais eram também guardiões das leis e os que poderiam cumprir funções religiosas); os nobres e guerreiros (eram aqueles que faziam parte da elite social e também eram classificados como excelentes homens de lutas e hábeis cavaleiros); os homens livres (aqueles que se dedicavam ao trabalho agrícola); e os escravos (eram, geralmente, estrangeiros prisioneiros de guerra). Os celtas eram politeístas e praticavam inúmeros rituais religiosos ao ar livre, pois acreditavam que a natureza era sagrada. 

Notícias recentes da arqueologia na França revelam que arqueólogos franceses encontraram uma necrópole celta da Idade do Ferro, de 2.300 anos, com diversos artefatos, entre espadas, pulseiras e fíbulas, confeccionadas em ferro. As espadas ainda estavam na bainha e, uma delas, apresentava decoração de suástica. As fíbulas, em número de 18, confeccionadas com uma liga de cobre e ferro, traziam ornatos com folhas de prata, revelaram os arqueólogos. 

As espadas, consideradas as peças mais valiosas da descoberta, apresentavam os cabos e as bainhas ornamentadas com pedras preciosas e, uma delas, curiosamente, tinha o desenho de suástica. Ainda foram revelados, após minuciosos exames de raio – x, minúsculos símbolos – um círculo e uma lua crescente – incrustados na extremidade da lâmina, ornatos decorativos que levaram os arqueólogos a identificarem que tais artefatos teriam sido confeccionados no início do século 4 a.C. Uma outra espada continha algumas argolas de suspensão, provavelmente para ser conduzida na cintura, e “fragmentos de tecido presos na oxidação metálica na parte posterior da bainha”, revelaram os pesquisadores. Ainda, na necrópole, os arqueólogos encontraram um vaso funerário decorado com tiaras pintadas, e afirmaram ao the Independent: “esta necrópole pode ser comparada a sítios bem conhecidos em Champagne, na bacia de Paris, ou na Borgonha”. 

Hoje, os celtas se estabeleceram no norte da Espanha, na região que corresponde à Galiza, à Astúrias e à Calábria.                                                                                                                                                           

Fonte: AH – Jornalista – phtml.      

 

* Membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e professor titular da UFPE.

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