Sáb, 06 de Dezembro

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opinião

Paul Mickey, Eddie Pateta, Odete e o Nobel

A semana me inspirou a escrever uma crônica atual, que possa me servir de simples narrativa alegórica. Desejo apenas poder transmiti-la como uma  parábola ficcional, mesmo que funcione como uma espécie de via paralela em tom documental, dado um certo grau de realidade que sinto necessidade de expor. Afinal, é com essa pegada híbrida que pretendo relevar alguns nuances das relações pouco amistosas entre o Brasil e os EUA. Mas, de antemão, advirto aos leitores antenados que, quaisquer dimensões de uma realidade plena e identitária, devem aqui ser encaradas como meras coincidências. Prevalece a ficção.

Nessa perspectiva, até  posso garantir um entendimento comparativo. Por isso mesmo, realço o segredo ficcional sobre a quem cabe a culpa pelo assassinato de Odete Roitman, posto que isso deverá render mais capítulos à novela televisiva. Com tal percepção, penso que, no imaginário popular, tem vingado um interesse maior por uma outra novela, que possui densidade e consistência política. Refiro-me, justamente, àquela que tem envolvido as relações entre o Brasil e os EUA. Uma situação notória  que se estabelece pela roubada de cena desse exótico conflito diplomático, gerador de um desgaste no limite do inverossímil.

O que, precisamente, aconteceu nestes primeiros dias de outubro foram capítulos inesperados de algo como um tipico DR, enquanto desgosto para alguns e sedução para outras partes envolvidas. De um lado, decepção para os que se aventuraram pela consagração do furacão ideológico. Por outro, elogios formaram a essência da conversa embalada pelos líderes políticos antagônicos. Para a construção dessa parábola, precisarei recorrer aos fatos passados, onde nuances bizarros foram dados, sejam pelos aventureiros, como pelo poderoso soberano.

De pronto, evidencio as peripécias de uma dupla dinâmica, que aqui me faz recorrer, intencionalmente, a dois simpáticos personagens do mundo Disney: Mickey e Pateta. Ou melhor: Paul Mickey e Eddie Pateta. Em adição, como desfecho dessa aventura protagonizada por aquelas duas figuras, realço um desejo pelo prêmio Nobel, numa outra linha de raciocínio. Um registro que se consagrou justo no dia que a novela da TV trouxe à cena o capítulo sobre a morte deOdete. Aqui coincidem os primeiros anúncios de um prêmio tão esperado, um afago do soberano ao seu opositor e uma dúvida sobre identidades (quem matou Odete? Quem mudou o soberano?). Assim, pus sobre a mesa todos ingredientes desta minha parábola. Preciso, agora, combiná-los, conforme a receita que tenho em mente.

Com tais exercícios figurativos, consigo expressar o primeiro sinal de uma certa normalidade. Algo que se traduza pela sutileza daquilo que possa confundir ficção e realidade, evidenciado pelo tracejado de uma linha tênue, tão imaginaria quanto a das coordenadas geográficas. Nesse roteiro, terei que considerar as minúcias desse ambiente louco, com tanta perturbação das relações externas que, atualmente, atormenta o mundo civilizado.

Bem, o caso eu conto agora, da forma que ele provocou minha imaginação. Creio que não só para mim. Certamente, para outros tantos incrédulos que, diante de uma relação comercial mal conduzida, por pouco não assistiu ao total desmoronamento de séculos de boa diplomacia. Isso devido à narcose promovida pelo excesso de ideologia política. No ar, além dos aviões de carreira, uma carga de combustão explosiva. Nitroglicerina pura, destilada com fluidos ideológicos...

Assim, motivado por esse contexto de enfrentamento, nossos simpáticos personagens, saem das aventuras de sua ficção inofensiva, para assumirem a figuração de uma realidade indecente. Representam formas de "aventureiros", que vestiram o figurino de serem "nacionalistas americanizados", "acólitos do terror" e "golpistas de plantão". Constituem o pior retrato da nova parelha, agora assumida pelo destemido Paul Mickey e pelo atabalhoado Eddie Pateta, Tudo por conta de um tal movimento supremacista, cuja sigla lembra aquela pata feiticeira da Disney. Taí um fenômeno político de raiz profunda e que colocou os interesses individuais acima dos aspectos econômicos e coletivos. A pátria transparece ser uma concepção exclusiva para eles.

Assim, nesse meu enredo está em cena um tal Paul Mickey, que se põe como um esperto e ferrenho guardião daqueles interesses ideológicos, que só servem para contrariar uma falsa evidência nacionalista. Age tal e qual o seu inseparável amigo Eddie Pateta, que se move na trapalhada de ser um insólito político de carreira, que está fora do país e que ainda propaga padrões de inverdades anti-patrióticas. Sua mais patética assertiva que ilustra um insípido currículo foi, justamente, difundir que uma "intentona" sobre o Poder Judiciário seria tão fácil, que caberia a uma parelha simplória, representada por um sargento e um soldado. No fundo, um infame demérito hierárquico, em duas vias, que me transporta ate as trapalhadas do Sargento Tainha e do Recruta Zero, para manter uma coerência entre o teor da proposta e a impropriedade do proponente. Muito embora toda essa tolice   justifique a pitada de ironia que aqui promovo, vale lembrar que a impropriedade da sugestão envolve mais uma demonstração de apego ao golpismo. O que me parece ser um ato bem mais sério e relevante do que o exercício da aventura que aqui extravaso, na simplicidade deste texto. 

Dito isso, reitero ainda, que numa realidade em curso tão instigante, na qual destaco a velha dupla dinâmica, relembro que, das terras ianques, tais personagens impuseram um grande mal à economia do seu próprio país. Uma situação que só foi arrefecida com as surpresas causadas, recentemente, pelo seu líder e soberano. Este, dos corredores de uma ONU, fisicamente, decadente, sem escadas rolantes e teleprompter, até o registro de um telefonema inédito, pareceu querer mudar seu perfil. Do status de protagonista do mau-humor politico no mundo, foi incorporado agora um ser diferente, que se mostrou numa empatia até então desconhecida.. Será que é ele mesmo? Ou um robô humanizado pela técnicas de IA? Se o ser "transformer" rolou, de verdade, posso crer que da alquimia experimental se fez a química científica. E na melhor forma e dimensão de tê-la como um elemento favorável. Justo porque pode mudar conceitos, gerar clima de negócios e até desmentir os voluntarismos entreguistas de Paul e Eddie. Ou, os aventurismos amiúdes de Mickey e Pateta. Tanto faz. Com a química nos corpos, tudo pode mudar. Até deixar Paul e Eddie sem revisar o aprendizado encantador das tabelas periódicas dessa Química, que o Nobel reconhece.

Diante dessa situação, cairia bem que, nestes tempos de anúncio dos premiados, a essência dessa química, que foi capaz de aproximar líderes antagônicos, talvez faça o líder supremo merecer tal honraria. Na provável impossibilidade de conquistar o prêmio pela luta a favor de uma paz que ainda parece distante, o prêmio lhe caberia agora, pelos metabolismos de uma formulação química, que foi capaz de fazê-lo ter atração por um opositor político. Com direito a tudo que a psicologia, a antropologia e até a filosofia possam ainda explicar sobre o entendimento de como foi transformado, a tal ponto de reconhecer seu velho adversário como um "homem bom". Aqui, no meu enredo, a química da inteligência emocional tem lá seu valor para o Nobel. Seria legítimo?

Neste ponto final, reconheço que acabo de cair na real. E o melhor extrato desse momento é poder crer que o sentimento do concreto, seja na diplomacia, como no comércio exterior, está na sua expressão socioeconômica. Que a abstração dos embates políticos nunca supere os interesses ditados pelas trocas comerciais. E a boa diplomacia. Que Mickey não seja Paul. Pateta não seja Eddie. E que o Nobel caiba para quem de direito faça a ciência acontecer. Por fim, no girar contínuo do mundo, as boas relações exteriores precisam apenas fluir. Sem restrições e impeditivos. Até mesmo, sem minhas tolas parábolas.


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