Por que o The Town e o Rock In Rio são festivais nacionais e o São João de Caruaru é regional?
Todo mundo sabe que no Brasil os títulos de grandes eventos não são definidos pelo tamanho do público ou grandiosidade da produção, mas, sim, pela influência midiática projetada para a sociedade. O The Town e o Rock In Rio são exemplos de dois grandes festivais que atraem milhares de pessoas e movimentam altas cifras, tornando-os centro de atenção nacional. Os gigantescos festejos juninos no Nordeste, por outro lado, também movimentam a economia e o público do país, com números consideráveis na geração de emprego e renda. O que há de diferente entre eles, para que um seja considerado nacional e o outro, regional?
A resposta para essa pergunta está dividida em dois pilares: alcance midiático e a nossa própria cultura nacional. Veja um exemplo: normalmente, quando falamos em comida regional, a lembrança mais viva é a culinária nordestina. Da mesma maneira, nem sempre as pessoas identificam que um evento que ocorre no sudeste é regional. A cobertura do The Town e o Rock In Rio é feita por grandes conglomerados do marketing, que vendem esses festivais como experiências universais e representam o símbolo de um Brasil moderno e globalizado. Enquanto isso, o São João de Caruaru surge na imprensa como uma festa regional; importante, sim, mas separada. Só nossa.
Esse enquadramento infelizmente reforça uma narrativa histórica, que mostra o Sudeste como o centro motor do Brasil, posicionando as outras regiões como sendo dependentes de tudo o que acontece em apenas quatro estados. Eu até diria dois estados apenas, Rio de Janeiro e São Paulo, pois o que ocorre em Minas Gerais e Espírito Santo também é considerado algo local. Mesmo que o The Town e o Rock In Rio tenham sua importância no calendário de eventos do País - e têm - também são festivais regionalizados, pois acontecem sempre em uma localidade específica, levando até o nome da cidade, como é o caso do Rock In Rio.
Também é importante tocar no assunto delimitação de território. Não é porque um evento acontece no Norte que ele pode ter seu formato aplicado da mesma maneira em todos os estados daquela região. É preciso estudar os costumes, o comportamento do público, a presença das marcas em cada localidade. Ou você acredita que podemos usar em Rio Branco (Acre) o mesmo modelo do Festival de Parintins, que acontece em Manaus? Até mesmo dentro de um único estado - como é o caso da Bahia - é fundamental perceber as diferenças. O oeste baiano, por exemplo, mal comemora o carnaval e possui um centro de tradições gaúchas. A diferença entre ser “nacional” ou “regional” não está na grandeza do evento, mas na lente pela qual escolhemos enxergá-lo.
___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.
