Uma vida interrompida - Faculdade de Odontologia de Pernambuco
A Faculdade de Odontologia de Pernambuco teve o seu início por volta de 1952, no local onde hoje é o museu do homem do nordeste. Para fundar a nova Faculdade, que se tornou uma causa chamada de “os ideais de 1955”, Edrízio Barbosa Pinto convidou o docente Nelson de Albuquerque Melo, da Faculdade de Odontologia da Universidade do Recife e proprietário do Hospital Magitot, para participar do grupo de fundação da nova faculdade, que se instalaria na Várzea, em uma casa neoclássica, de propriedade do Professor Nelson, hoje tombada pela FUNDARPE, mas destruída e sem destino para o patrimônio histórico ou outras serventias institucionais. A fundação de uma nova Faculdade, conforme a sua Ata de Fundação, foi realizada aos 18 de março de 1955. Em 26/12/1957 foi publicado o Decreto nº 42.880, de 24 de dezembro de 1957, assinado pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que autorizou o funcionamento do curso de odontologia da Faculdade de Odontologia de Pernambuco, mantida pela Sociedade Civil Faculdade de Odontologia de Pernambuco, tendo a instalação ocorrido em 11 de janeiro de 1958, às 20 horas, na Rua do Hospício, n.494. E finalmente, em 18 de maio de 1960, o Conselho Nacional de Educação aprovou o seu reconhecimento. Nessa data, a Faculdade já se encontrava instalada em três prédios na Rua do Hospício, que apesar das reformas e ampliações, as instalações não correspondiam às necessidades de uma Instituição de Ensino moderna, com a missão de formar técnica e humanamente, dentistas capacitados. Havia também a visão de qualificar os seus professores em cursos em São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1972 a FOP foi transferida para Camaragibe, em um prédio do antigo Seminário Regional do Nordeste, com cerca de 2,0 hectares de área construída, onde funcionou até três anos atrás, quando teve a sua vida e sonhos interrompidos. Foi a IES que ao mesmo tempo que o Mestrado de Cirurgia da UFPE, liderados pelos professores Edrízo Pinto e pelo saudoso Professor Salomão Kelner, respectivamente, trouxeram para o Norte e Nordeste, juntamente com as IES’s Paulistas, os primeiros mestrados nacionais. Mas, o prédio da UFPE não ruiu, e continua mantido para o orgulho da comunidade científica, o que não aconteceu com a FOP. Hoje a Faculdade de Odontologia conta com Pós-Graduação Stricto Sensu com 3 programas (Odontologia – Hebiatria – Perícias Forenses), Pós-Graduação Lato Sensu (especialização e outros) com cursos de especialização e uma Residência em Cirurgia Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. O prédio da FOP teve o seu desabamento anunciado e continua de pé pois se trata de uma edificação de estilo brutalista, projetado pelo português de nascimento e influente arquiteto modernista no Recife, Delfim Fernandes Amorim (1917-1972) , que contava com salas de aulas teóricas e laboratórios de aulas práticas, diretoria, secretarias de graduação e pós-graduação, biblioteca, auditório e demais setores administrativos que realizavam as suas atividades de forma comprometida com os objetivos e missão da Faculdade, ser protagonista no ensino da odontologia no âmbito regional e nacional. Realizava atendimento à comunidade em todas as especialidades odontológicas através das clínicas que dispunha para a formação do discente. O peitoril ventilado, que em dias chuvosos permitia a ventilação sem deixar a chuva entrar no imóvel; e a telha canal sobre a laje, para reduzir o calor no interior da edificação, foram invenções e sutilezas próprias do arquiteto, ainda hoje referendadas no ensino de arquitetura internacional. A Faculdade de Odontologia de Pernambuco, pela sua natureza assistencial, participa com todo o corpo docente e discente de atividades extensionistas, no segmento da assistência, educação e pesquisa, vocacionalmente realiza ações de grande relevância social. Seus projetos são todos voltados à educação em saúde bucal à população, apoiando e incentivando Mutirões de Atendimento à comunidade, trabalhando junto aos alunos a solidariedade, a humanização e a cidadania, além de estabelecer parcerias com outras entidades, dando visibilidade à Universidade. Da noite para o dia a FOP perdeu os seus espaços físicos sem um plano B para imediato resgate da sua autoestima. Com o esforço incomensurável dos seu corpo docente e principalmente da gestão, distribuída pelo CISAM, HUOC e ITEP, locais distantes, principalmente o último, por habitar uma fauna específica, inadequada a uma Faculdade de Odontologia, e de difícil conciliação de horários; o tempo vem passando e aumentando a insatisfação dos estudantes. A insatisfação é compreendida e apoiada pelos seus mestres pois com o aval do valor monetário do espaço de Camaragibe, as autoridades governamentais poderiam agilizar a construção do novo e definitivo espaço, em local destinado pela UPE para ser o maior e mais completo centro de formação e assistência odontológica da América Latina, como nos anos em que lideramos a ALAFO (Associação de Faculdades de Odontologia da América Latina). O pernambucano merece continuar com o jargão: é no nosso Estado que o Rio Capibaribe se une ao Beberibe para formar o Oceano Atlântico. Precisamos conversar com a nossa governadora, que na solenidade de posse da nossa reitora, afirmou com força e entusiasmo o seu compromisso na construção da nova sede da FOP, e com sua sensibilidade com o sofrimento do nosso povo, pactuar o adiantamento de 20% do valor do prédio de Camaragibe e com esse recurso podermos voltar a sonhar e ter forças para continuar merecendo a confiança da sociedade e dos nossos alunos. Temos nos esforçado para colaborar com os nossos anfitriões provisórios, compreendendo que somos hóspedes incômodos, alunos fazem barulho, o que seria anormal, caso não houvesse a efervescência dos jovens, a manutenção física e dos equipamentos dos espaços dependem da convivência dos anfitriões. Resta à FOP colocar recursos de pesquisa de seus professores para adequar os locais que gentilmente, mas, insuficientemente, nos são cedidos. Apelamos para a nossa governadora, eleita democraticamente por nós, que compartilhe do nosso sonho, que já ocupou espaços tão emblemáticos, mas que agora precisa estar presente na manutenção do orgulho de ter aqui o nosso Oceano Atlântico.
* Ex Reitor da UPE, Gestor da Faculdade de Odontologia de Pernambuco da UPE **Professora Titular, Universidade de Pernambuco
