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SAÚDE

Orthorexia nervosa: entenda a obsessão por alimentação saudável

Novos estudos mostram que pessoas perfeccionistas têm mais chance de desenvolver o problema, ainda não reconhecido como doença

Alimentação saudável é importante, mas não deve virar uma obsessãoAlimentação saudável é importante, mas não deve virar uma obsessão - Foto: Freepik

Você conhece a ortorexia nervosa? Condição, que tem tido reconhecimento cada vez maior na literatura científica, embora ainda não seja reconhecida nos manuais psiquiátricos, se refere a uma obsessão por alimentação saudável acompanhada de comportamentos restritivos.

Uma metanálise publicada no periódico Current Nutrition Reports revela que a ortorexia está significativamente ligada ao perfeccionismo, a traços obsessivo-compulsivos e a sintomas de transtornos alimentares.

Embora, à primeira vista, a condição pareça fazer parte de uma busca por uma vida mais saudável, paradoxalmente, essa atenção extrema à dieta está cada vez mais associada à desnutrição, à perda de relacionamentos e à redução da qualidade de vida.

 

Enquanto os transtornos alimentares tradicionais, como a anorexia nervosa, focam na quantidade de comida e no controle de peso, a ortorexia, ou ON, é caracterizada pela fixação na qualidade e pureza dos alimentos.

Os indivíduos podem evitar rigidamente alimentos que consideram impuros, como açúcar, laticínios ou produtos não orgânicos, o que leva à desnutrição e ao isolamento social.

Apesar desses danos documentados e do aumento na notificação de sintomas em estudos recentes, a ON não é oficialmente reconhecida no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o que complica o diagnóstico e tratamento.

Esta revisão abrangente, teve como objetivo preencher essa lacuna, esclarecendo a prevalência global dos sintomas da ON e identificando as características psicológicas que os impulsionam.

Os pesquisadores encontraram associação moderada da ON com os transtornos alimentares tradicionais e quadros obsessivo-compulsivos. O perfeccionismo foi um preditor significativo.

Para os pesquisadores, "esses achados destacam a necessidade urgente de critérios diagnósticos padronizados e ferramentas de triagem validadas".

Entenda melhor a ON
A condição foi denominada pela primeira vez por Steven Bratman em 1997, a ortorexia nervosa, do grego ortho, que significa correto , e orexi, que significa apetite, é classificada como um transtorno alimentar.

De acordo com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, a maioria dos estudos de prevalência foi realizada na Europa e na Turquia. "Uma avaliação recente determinou uma prevalência de cerca de 1%, semelhante à de outros transtornos alimentares."

As principais características da condição são:

Foco obsessivo na escolha, planejamento, compra, preparo e consumo de alimentos;

Percepção da comida como fonte de saúde em vez de prazer;

Angústia ou repulsa na proximidade de alimentos proibidos;

Crença exagerada de que a inclusão ou eliminação de determinados tipos de alimentos pode prevenir ou curar doenças ou afetar o bem-estar diário;

Mudanças periódicas nas crenças alimentares, enquanto outros processos permanecem inalterados;

Julgamento moral dos outros com base em escolhas alimentares;

Distorção da imagem corporal em torno da sensação de impureza física em vez do peso;

Crença persistente de que as práticas alimentares promovem a saúde, apesar de evidências de desnutrição.

Comportamento compulsivo e/ou preocupação mental relacionada a práticas alimentares afirmativas e restritivas que o indivíduo acredita promoverem a saúde ideal;

A violação de regras alimentares autoimpostas causa medo exagerado de doenças, sensação de impureza pessoal e/ou sensações físicas negativas, acompanhadas de ansiedade e vergonha;

As restrições alimentares se intensificam com o tempo e podem chegar a incluir a eliminação de grupos alimentares inteiros, além de envolver "limpezas" (jejum parcial) progressivamente mais frequentes e/ou severas, consideradas purificadoras ou desintoxicantes. Essa escalada geralmente leva à perda de peso, mas o desejo de emagrecer está ausente, oculto ou subordinado à ideia de uma alimentação saudável.

As principais consequências observadas, ainda de acordo com o NIH, são:

Desnutrição, perda de peso grave ou outras complicações médicas decorrentes de dieta restritiva;

Angústia intrapessoal ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional secundário a crenças ou comportamentos relacionados a uma alimentação saudável;

Uma imagem corporal positiva, autoestima, identidade e/ou satisfação excessivamente dependentes da adesão a comportamentos alimentares autodefinidos como saudáveis.

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