Orthorexia nervosa: entenda a obsessão por alimentação saudável
Novos estudos mostram que pessoas perfeccionistas têm mais chance de desenvolver o problema, ainda não reconhecido como doença
Você conhece a ortorexia nervosa? Condição, que tem tido reconhecimento cada vez maior na literatura científica, embora ainda não seja reconhecida nos manuais psiquiátricos, se refere a uma obsessão por alimentação saudável acompanhada de comportamentos restritivos.
Uma metanálise publicada no periódico Current Nutrition Reports revela que a ortorexia está significativamente ligada ao perfeccionismo, a traços obsessivo-compulsivos e a sintomas de transtornos alimentares.
Embora, à primeira vista, a condição pareça fazer parte de uma busca por uma vida mais saudável, paradoxalmente, essa atenção extrema à dieta está cada vez mais associada à desnutrição, à perda de relacionamentos e à redução da qualidade de vida.
Leia também
• Gordura no fígado atinge 4 em cada 10 adultos e exige cuidados com alimentação
• Corridas em alta: saiba qual a melhor alimentação antes e depois da competição
• Ultraprocessados já são quase um quarto da alimentação dos brasileiros
Enquanto os transtornos alimentares tradicionais, como a anorexia nervosa, focam na quantidade de comida e no controle de peso, a ortorexia, ou ON, é caracterizada pela fixação na qualidade e pureza dos alimentos.
Os indivíduos podem evitar rigidamente alimentos que consideram impuros, como açúcar, laticínios ou produtos não orgânicos, o que leva à desnutrição e ao isolamento social.
Apesar desses danos documentados e do aumento na notificação de sintomas em estudos recentes, a ON não é oficialmente reconhecida no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o que complica o diagnóstico e tratamento.
Esta revisão abrangente, teve como objetivo preencher essa lacuna, esclarecendo a prevalência global dos sintomas da ON e identificando as características psicológicas que os impulsionam.
Os pesquisadores encontraram associação moderada da ON com os transtornos alimentares tradicionais e quadros obsessivo-compulsivos. O perfeccionismo foi um preditor significativo.
Para os pesquisadores, "esses achados destacam a necessidade urgente de critérios diagnósticos padronizados e ferramentas de triagem validadas".
Entenda melhor a ON
A condição foi denominada pela primeira vez por Steven Bratman em 1997, a ortorexia nervosa, do grego ortho, que significa correto , e orexi, que significa apetite, é classificada como um transtorno alimentar.
De acordo com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, a maioria dos estudos de prevalência foi realizada na Europa e na Turquia. "Uma avaliação recente determinou uma prevalência de cerca de 1%, semelhante à de outros transtornos alimentares."
As principais características da condição são:
Foco obsessivo na escolha, planejamento, compra, preparo e consumo de alimentos;
Percepção da comida como fonte de saúde em vez de prazer;
Angústia ou repulsa na proximidade de alimentos proibidos;
Crença exagerada de que a inclusão ou eliminação de determinados tipos de alimentos pode prevenir ou curar doenças ou afetar o bem-estar diário;
Mudanças periódicas nas crenças alimentares, enquanto outros processos permanecem inalterados;
Julgamento moral dos outros com base em escolhas alimentares;
Distorção da imagem corporal em torno da sensação de impureza física em vez do peso;
Crença persistente de que as práticas alimentares promovem a saúde, apesar de evidências de desnutrição.
Comportamento compulsivo e/ou preocupação mental relacionada a práticas alimentares afirmativas e restritivas que o indivíduo acredita promoverem a saúde ideal;
A violação de regras alimentares autoimpostas causa medo exagerado de doenças, sensação de impureza pessoal e/ou sensações físicas negativas, acompanhadas de ansiedade e vergonha;
As restrições alimentares se intensificam com o tempo e podem chegar a incluir a eliminação de grupos alimentares inteiros, além de envolver "limpezas" (jejum parcial) progressivamente mais frequentes e/ou severas, consideradas purificadoras ou desintoxicantes. Essa escalada geralmente leva à perda de peso, mas o desejo de emagrecer está ausente, oculto ou subordinado à ideia de uma alimentação saudável.
As principais consequências observadas, ainda de acordo com o NIH, são:
Desnutrição, perda de peso grave ou outras complicações médicas decorrentes de dieta restritiva;
Angústia intrapessoal ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional secundário a crenças ou comportamentos relacionados a uma alimentação saudável;
Uma imagem corporal positiva, autoestima, identidade e/ou satisfação excessivamente dependentes da adesão a comportamentos alimentares autodefinidos como saudáveis.

