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Overtraining: treino em excesso é risco à saúde

Pesquisa da USP aponta que, sem o tempo adequado de recuperação do esforço, exercícios em exagero provocam alterações negativas em estruturas vitais do organismo

Maria Augusta Casanova malha com orientação de profissionalMaria Augusta Casanova malha com orientação de profissional - Foto: José Brito/Folha de Pernambuco

Praticando musculação diariamente e futebol duas vezes na semana, o administrador Jonas Lima, 33 anos, teve uma lesão no tornozelo direito no fim do ano passado. Sem procurar um médico, ele suspendeu as atividades por um período e depois retomou a rotina de antes. O que ele não esperava era que, cerca de seis meses depois, teria outra lesão, desta vez na região interna da coxa. Só então ele foi a um profissional e passou a ser acompanhado por um fisioterapeuta para se recuperar por completo. "Atualmente, sempre me alongo antes de qualquer atividade e respeitando os limites do meu corpo", afirma.

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a prática de exercícios físicos intensos sem o tempo de recuperação adequado provoca alterações negativas em estruturas vitais do organismo como coração, fígado e sistema nervoso central.

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Já é de conhecimento dos profissionais de saúde que esse tipo de treinamento intenso sem intervalos necessários leva à síndrome do overtraining, desencadeando sintomas como depressão, insônia, irritabilidade, queda na imunidade, perda de apetite e de peso. Mas a novidade desse estudo é que os prejuízos vão além da queda do rendimento.

O levantamento mostrou que há alterações negativas em órgãos vitais. Além disso, o desequilíbrio entre o excesso de exercício físico e o período destinado à recuperação está associado a uma inflamação em músculos esqueléticos, sangue, hipotálamo, coração e fígado. Para chegar a esse resultado, foram feitos testes com camundongos, submetidos a diferentes práticas de overtraining, a exemplo de corrida no plano, na subida e na descida, durante oito semanas.

O coração apresentou sinais de fibrose e também sinais moleculares de hipertrofia patológica. O fígado teve aumento da gordura que ocorre, por exemplo, em doenças como diabetes e obesidade. A inflamação no hipotálamo foi associada à diminuição do apetite e do peso corporal dos camundongos.

Personal trainer há nove anos, Amanda Rodrigues lembra que o exercício físico feito de forma regular e moderada, sob orientação de um profissional de educação física, é uma estratégia extremamente eficiente para a prevenção e tratamento de diversas patologias. Contudo, ela ressalta que é preciso respeitar um período adequado de recuperação, que varia muito em relação a sessões de treinamento e ao nível inicial de condicionamento do praticante. De forma geral, os especialistas no assunto dizem que um período entre 24 horas e 48 horas é suficiente para a recuperação.

Personal trainer Amanda Rodrigues

Personal trainer Amanda Rodrigues - Foto: Jose Britto/Folha de Pernambuco

Amanda orienta que é preciso estar atento a todo sinal e sintoma. "O nosso corpo fala. Se existe algum desconforto e passa a ser persistente, se você percebeu que existe uma queda de apetite sem motivo aparente ou se você está tendo dificuldade para dormir, atenção a tudo isso. O descanso faz parte de todo e qualquer resultado. É importantíssimo que você respeite e leve em consideração as orientações do profissional de educação física, pois elas vão ter impacto direto no seu resultado", ressalta.

Quem começou a sentir na pele os primeiros sinais causados pelo overtraining foi a estudante universitária Maria Augusta Casanova, 27. Ao fazer treinos de pernas três vezes por semana, ela não conseguia descansar o suficiente para refazer a série de exercícios para os membros inferiores. Em um intervalo de apenas duas semanas, começou a sentir muita dor muscular e fadiga.

"Como se meu corpo não tivesse tempo de se recuperar para que eu pudesse treinar novamente", detalha. Ao perceber os sintomas, ela falou com a personal trainer, que passou uma nova sequencia de exercícios. "É essencial o acompanhamento de um profissional de educação física, pois ele é capacitado para atender à necessidade de cada pessoa."

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