Sáb, 06 de Dezembro

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Pepe Mujica teve luta ao lado de guerrilheiros na ditadura uruguaia retratada em filme; relembre

Ex-presidente morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, vítima de um tumor no esôfago

O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica  - Foto: Pablo Porciuncula/AFP

O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, vítima de um tumor no esôfago diagnosticado no ano passado. Recentemente, ele afirmou que o câncer havia se espalhado para outros órgãos de seu corpo.

O político, que é uma das grandes referências para a esquerda latino-americana e lutou contra a ditadura uruguaia, de 1973 a 1985, teve parte de sua história retratada no filme “Uma noite de 12 anos”, dirigido pelo hispano-uruguaio Álvaro Brechner.

Política à parte, trata-se de uma história de sobrevivência que arrancou lágrimas e aplausos por onde passou. No Festival de Veneza, por exemplo, a obra foi ovacionada por quase meia hora.


“Uma noite de 12 anos” tem violência e dor. Mas também tem companheirismo, dignidade e a percepção dos valores fundamentais que nos fazem humanos. Entre os momentos mais emocionantes está a alegria de dois dos presos quando conseguem se comunicar com batidas na parede e descobrem que estão vivos. E, acredite, há espaço até para humor e ironia.

Coprodução entre Uruguai, Argentina, Espanha e França, o longa é baseado no livro “Memórias do calabouço”, escrito por Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro.

Junto com Mujica, eles eram guerrilheiros do movimento Tupamaros quando foram presos — ou melhor, feitos reféns, como lhes diz o carcereiro, sublinhando “Perderam a guerra, agora são uns condenados”.

— Nós nos agarramos à vida como uma planta trepadeira se agarra à parede. Se era necessário comer moscas, que para nós eram como passas com asas, comíamos moscas — disse Rosencof, na apresentação do filme em Buenos Aires. O escritor é interpretado pelo argentino Chino Darín (filho do ator Ricardo Darín).

Mujica é vivido pelo espanhol Antonio de la Torre. E Huidobro, que foi senador e ministro da Defesa anos mais tarde, mas morreu em 2016, é encarnado pelo uruguaio Alfonso Tort.

O diretor trabalhou sete anos no filme para, segundo ele, “explorar a capacidade do ser humano de conquistar seu próprio espírito”.

— Mesmo em situações dolorosas, temos de saber que há uma liberdade interna que não pode ser destruída. Isso nos dá esperanças — afirmou Brechner, que manteve longas conversas com os personagens reais para entender como eles fizeram para não se entregar. — Muitos me perguntam como eles não morreram. Não sei. O que fiz foi um estudo sobre os limites do ser humano.


Sozinhos, em calabouços onde não entrava um raio de sol, os três passaram anos lidando com maus tratos, escassez de comida e, principalmente, o desafio de não perder a razão.

— O que mais busquei não foi tanto saber quem ele era e sim pensar no que sentiria uma pessoa que passou 12 anos num calabouço, em condições desumanas — contou o ator Alfonso Tort, que emagreceu 20 quilos para o papel.

Sem acesso a livros ou a qualquer forma de conexão com o mundo, os presos apelaram para diversas estratégias em sua cruzada antiloucura. Desde roubar pedaços de jornal jogados no lixo para saber o que estava acontecendo no mundo até escrever poemas para oficiais que queriam conquistar uma mulher.

— Queriam nos enlouquecer. Triunfamos, não ficamos loucos, pelo menos não totalmente — brincou Mujica, que admitiu ter ouvido vozes e até acreditado que os militares tinham colocado um microfone em sua cabeça. Na última semana, o filme foi o mais visto nos cinemas uruguaios, apesar das muitas críticas que são feitas à ação armada dos tupamaros.

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