Ingresso para parque de Noronha segue padrões internacionais, dizem especialistas
No último fim de semana, presidente Jair Bolsonaro disse ser um "roubo" valor de entrada. Ministro fará vistoria nesta quinta-feira (17)
Com uma das maiores biodiversidades do Brasil, o arquipélago de Fernando de Noronha, a 545 km do Recife, apresenta também uma série de regras e restrições de acesso para controle do fluxo de turistas nas áreas de conservação ambiental. Uma dessas normas é a cobrança de ingresso para quem visita o Parque Nacional Marinho, criticada no último fim de semana pelo presidente Jair Bolsonaro. Especialistas ouvidas pela Folha de Pernambuco disseram que a medida é comum em diversos países e segue padrões internacionais.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente afirmou ser um “roubo” os valores da entrada, que custa R$ 106 para brasileiros e R$ 212 para estrangeiros, por dez dias. Após a declaração, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou que fará uma vistoria no local nesta quinta-feira (17), acompanhado do presidente do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Homero de Giorge Cerqueira, e de representantes da EcoNoronha, empresa responsável pelos passeios e pela manutenção da estrutura do parque.
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De acordo com a diretora executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, Angela Kuczach, a cobrança do ingresso faz parte de uma série de ações que garantem não só a preservação do espaço natural, mas uma estrutura adequada aos próprios turistas. Desde 2012, quando a EcoNoronha começou a gerir a entrada no parque, o número de visitantes cresceu mais de 60%. “Para prestar esse serviço, a empresa teve que passar por um edital, que exige uma série de condicionantes. Foram feitas obras de infraestrutura, acessibilidade”, afirma. “E Fernando de Noronha é um destino caro. Não é essa taxa que vai fazer o visitante desistir de entrar”.
Há, ao todo, 73 parques nacionais no país. Desses, 16, incluindo o de Noronha, cobram entrada para visitantes. "Nos Estados Unidos, Chile, Europa, em vários países da África, você tem essa cobrança. Quando você investe em unidades de conservação, promove toda uma cadeia de pousadas, passeios, transporte, que gera renda. É nesse cenário que Fernando de Noronha deve estar", defende Kuczach.
Impacto humano
Em Noronha, outras áreas além do Parque Nacional têm restrição de acesso com o intuito de proteger a fauna e a flora existentes no arquipélago. Apesar de não haver dados consolidados, o Plano de Manejo para a área, levantado pelo ICMBio, cita mais de 400 espécies de plantas e cerca de 100 de algas marinhas. “Nós precisamos de organizações fortes para seguir os padrões internacionais de conservação. A gestão ambiental denota custos”, afirma a professora de Gestão e Impacto da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Soraya El-Deir.
Coordenadora de cinco projetos de pesquisa no arquipélago, a professora explica que um fluxo muito alto de pessoas nesses espaços gera um grande impacto. Segundo ela, alguns dos estudos desenvolvidos por lá já detectam ameaças à biodiversidade da região. “Há uma espécie de lagarto, a Mabuya, que está sob ameaça porque serve de alimento para gatos trazidos por pessoas que vão morar na ilha”, conta. “Isso serviu de base para um projeto de esterilização desses gatos para evitar um desequilíbrio ambiental”.
Também a diversidade de plantas tem diminuído. “Outra pesquisa diz respeito a uma planta invasora, a leucena, que germina muito rápido e gera muitas sementes. Quando nasce, ela libera um veneno, que chamamos de substância alelopática e que mata as outras plantas pela raiz. Isso faz com que toda uma floresta tenha apenas essa espécie de planta. É o que está acontecendo na [baía do] Sueste”, conta.
Além da cobrança do ingresso, há várias restrições para a entrada nas praias de Atalaia, Sueste, Leão e Sancho. “Em Atalaia, os visitantes só podem passar até 30 minutos na água e também só pode entrar um grupo de 30 pessoas por vez. Isso é para não gerar estresse aos animais. Em Sueste e no Sancho, a praia é aberta apenas nos horários em que os tubarões normalmente não se alimentam. Há muitas medidas de segurança que os turistas nem percebem”, explica Soraya El-Deir.
Veja como funciona a entrada em outros parques pelo mundo:
Yosemite National Park (Califórnia)
Localizado a 260 km de São Francisco, é conhecido pelas encostas e pela cachoeira Yosemite, a maior do continente americano. A diária custa U$ 15 (R$ 56) por pessoa, US$ 35 (R$ 131) por veículo e R$ 30 (R$ 112) para quem vai de moto. O pacote anual vale US$ 70 (R$ 263).
Torres del Paine (Chile)
Com passeios operados pela iniciativa privada, tem mais de 227 mil hectares de espaço de conservação. Assim como o Parque Nacional Marinho, cobra taxas diferentes para chilenos e turistas estrangeiros. Para a população local, por dia, para adultos, o ingresso custa 6000 pesos (R$ 33,09) e, para os visitantes de outros países, 21 mil pesos (R$ 115).
Banff National Park (Canadá)
Mais antigo do país, o espaço fica na província de Alberta e é patrimônio da Unesco. Para entrar, a diária é de 9,88 dólares canadenses (R$ 28). Grupos familiares pagam 19,60 dólares canadenses, o que seria em torno de R$ 56.

