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"Poeira intensa" do deserto do Saara é registrada por cientistas na Amazônia

Eventos ocorreram no primeiro trimestre deste ano e foram identificados por grupo de pesquisa vinculado ao governo brasileiro

Vista de um braço do Rio Caeté em área de manguezal na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu monitorada pelo projeto Mangues da Amazônia. Vista de um braço do Rio Caeté em área de manguezal na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu monitorada pelo projeto Mangues da Amazônia.  - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Pesquisadores registraram, na Amazônia, três eventos intensos de poeira vinda do deserto do Saara, na África, no primeiro trimestre deste ano. A descoberta foi feita pelo projeto científico Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 km da capital Manaus.

A distância entre a África e a América é de mais de 5 mil km, e o tempo do percurso das partículas pode levar entre uma e duas semanas. O transporte transatlântico das partículas do Saara até a floresta ocorre quando os ventos convergem na Zona de Convergência Intertropical.

De acordo com os pesquisadores, os episódios ocorreram entre 13 e 18 de janeiro, 31 de janeiro e 03 de fevereiro, e 26 de fevereiro e 03 de março. As concentrações atingiram valores que são de 4 a 5 vezes mais altos que a média registrada na estação chuvosa da floresta, que é de 4 μg/m³ de PM2.5 (unidade de medida que se refere a partículas menores que 2,5μm de diâmetro).

Desta vez, o índice obtido ficou entre entre 15 e 20 μg/m³. O fenômeno é comum entre dezembro e março, mas em níveis menores.

A poeira do Saara é carregada pelas correntes de ar na troposfera livre, podendo atingir até 5 km de altitude por conta das tempestades com fortes ventos no deserto. Dependendo da circulação atmosférica e das condições meteorológicas, as partículas podem ser depositadas a milhares de quilômetros de distância.

“No primeiro semestre do ano, a atmosfera na Amazônia é geralmente dominada por partículas de origem natural, com emissões da própria floresta. Comumente, as concentrações são muito baixas. As perturbações causadas pelo transporte de poeira são bastante visíveis na série temporal”, explica Rafael Valiati, doutorando em física atmosférica no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).

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“O que já se sabe é que o potássio e o fósforo da poeira mineral contribuem, no longo prazo, para a manutenção da fertilidade do solo, que em geral é muito pobre”, afirma Carlos Alberto Quesada, coordenador do ATTO pelo lado brasileiro, que também destaca que os efeitos do fenômenos estão sendo estudados.

A torre possui 325 metros de altura e é instalada no meio da floresta, com uma infraestrutura que conta com sistemas sofisticados, capaz de avaliar diversos aspectos da composição atmosférica — propriedades físicas, tamanho das partículas e composição química. O ATTO é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA).

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