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Opinião

Poemas de Natal: humanismo e esperança

O espírito de Natal também se eterniza nas manifestações artísticas produzidas em torno do divino e místico significado refletido no nascimento de Jesus Cristo, exprimindo, em variadas linguagens e representações, mensagens de tolerância, otimismo, humildade, alegria, amor, paz e esperança no aperfeiçoamento ético e espiritual da humanidade, despertando, em cada cristão, reflexões sobre a efetiva necessidade de por em prática os ensinamentos do Messias. Fiquemos, então, com a beleza dos versos de alguns grandes poetas sobre tão magnífico acontecimento:

1 - Manuel Bandeira, “Canto de Natal”: “O nosso menino/Nasceu em Belém./Nasceu tão-somente/Para querer bem.//Nasceu sobre as palhas/O nosso menino./Mas a mãe sabia/Que ele era divino.//Vem para sofrer/A morte na cruz,/O nosso menino./Seu nome é Jesus.//Por nós ele aceita/O humano destino:/Louvemos a glória/De Jesus menino.”

2 - Gonçalves Dias, “Hino dos Reis Magos”: “Entre pobreza e miséria,/Em singela habitação/É nascido o Deus-Menino/Para a nossa salvação.//Povos e reis, adorai-o,/É nascido o Redentor:/Vem viver, sofrer na terra,/Vem morrer por nosso amor.//Deixou a corte celeste/E as galas ricas dos céus,/Quem entre os homens é Homem,/Quem entre os anjos é Deus.//Povos e reis, adorai-o,/É nascido o Redentor:(...).//Lá das partes do Oriente,/Deixando os domínios seus,/Vêm os Magos por as coroas, aos pés do MeninoDeus.// (...).//Vêm oferecer os presentes/Que a Arábia Feliz produz./Louvor a Deus nas alturas,/Louvor na terra a Jesus. (...).”

3 - Olavo Bilac, “Natal”: “No ermo agreste, da noite e do presépio um hino/De esperança pressaga enchia o céu, com o vento.../As árvores: ‘Serás sol e o orvalho!’ O armento:/ ‘Terás a glória!’ E o luar: ‘Vencerás o destino!’// E o pão: ‘Darás o pão da terra e o pão divino!’/E a água: ‘Trarás alívio ao mártir e ao sedento!’/E a palha: ‘Dobrarás a cerviz do opulento!’/E o teto: ‘Elevarás do opróbrio o pequenino.’//E os reis: ‘Rei, no teu reino, entrarás entre palmas!’/E os pastores: ‘Pastor, chamarás os eleitos!’/E a estrela: ‘Brilharás, como Deus, sobre as almas!’//Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,/Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos;/Sendo pobre, temia; e sendo mãe, chorava.”

4 - Ariano Suassuna, “o Presépio e nós - poema de Natal”: “- Um Burro: um Ser dividido entre Jumento e Cavalo. - Como nós: Cegos, sonhando o sonho do Potroalado! - Um Boi: Aspas para cima e os cascos no Chão fincados. - Como nós, cuja Esperança arde em Solo devastado. - Um Anjo: a Chama sem jaça, Lua e Solpacificado. - Nosso Êxtase é como o dele, mais o Estremeço orgiástico. - Um Santo: o que, neste Mundo, mais se sente um Desterrado. - É um de nós! Foi na Carne, Estrela turva, engendrado. - Eis a Torre-de-Marfim, puro Sangue imaculado! - É nossa, a bruna Mulher vestida de Sol-queimado! - E o Cristo - esse Dom que prova que o Sonho nos foi doado. - É nosso o Filho do Homem, Profeta e crucificado, Trompa, estandarte e Coroa do nosso Sangue marcado, Cordeiro e cometa estranho, Estrela do meu Rebanho, Sol-claro do nosso Gado!”

5 - São José de Anchieta, “O Presépio”: “É delicioso percorrer com a mente todas as fases do nascimento, engolfar-se pelas ruas desta Cidade de Deus. Admirar o solar que acolheu o Senhor, o palácio em que habitou o Cristo-Rei, a branda almofada em que repousou menino, as sagradas companheiras e servas da Mãe, os cantos e melodias que acalentaram o Divino Infante... Nasce em Belém, abrigado em velha choupana: nu, a nua terra lhe acolhe o nascimento. Transforma-se em berço a manjedoura: de um lado um boi, de outro, um jumentinho. Silenciosamente, um venerando ancião embebe o olhar em seu rosto. Exulta a jovem Mãe, solta tenros vagidos a criancinha, rejubila o céu em melodias nunca ouvidas. E tu, ó minha alma, aí entorpecida! Por que não visitas esse palácio maravilhoso, esse sagrado abrigo? Vamos, que não te expulsará do limiar o duro porteiro, nem te fechará à face as portas. Não tem porta o casebre, pouso ótimo dos brutos: os frios tem por ela franca entrada. Entrarás num tugúrio miserando de teto enfumaçado, numa cabana coberta de caniços.”

6 - António Manuel Couto Viana, “Natal cada Natal”: “Quando na mais sublime dor,/A mulher dá a luz,/Há sempre um Anjo Anunciador/A murmurar-lhe ao coração - Jesus!//Cada criança é o Céu que vem/Pra nos remir do pecado/E as palhas d’oiro de Belém/Espalham-se no berço, como um Sol espelhado.//Por sobre o lar presepial o brilho/Da estrela abre o convite dos portais:/ - Vinde adorar a floração do filho/No alvoroço da raiz dos pais.

7 - Vinícius de Moraes, “Poema de Natal”: “Para isso fomos feitos:/Para lembrar e ser lembrados/Para chorar e fazer chorar/Para enterrar os nossos mortos -/Por isso temos braços longos para os adeuses/Mãos para colher o que foi dado/Dedos para cavar a terra.//Assim será a nossa vida://Uma tarde sempre a esquecer/Uma estrela a se apagar na treva/Um caminho entre dois túmulos -/Por isso precisamos velar/Falar baixo, pisar leve, ver/A noite dormir em silêncio.//Não há muito o que dizer://Uma canção sobre um berço/Um verso, talvez, de amor/Uma prece por quem se vai -/Mas que essa hora não esqueça/E por ela os nossos corações/Se deixem, graves e simples.//Pois para isso fomos feitos:/Para a esperança no milagre/Para a participação da poesia/Para ver a face da morte -/De repente nunca mais esperaremos.../Hoje a noite é jovem; da morte, apenas/Nascemos, imensamente.”

Feliz Natal!



Pós.grad. em Direito. Superv.jurídico no TRF/5ª Região
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