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Afeganistão

Poucas mulheres e muito medo nas ruas de Cabul

As mulheres ficaram proibidas de trabalhar e de sair sem um acompanhante masculino. As acusadas de adultério eram açoitados e apedrejadas até a morte. As meninas não puderam mais ir à escola

17.ago.2021 - Membros do Taleban circulam armados por uma área de comércio popular em Cabul, no Afeganistão17.ago.2021 - Membros do Taleban circulam armados por uma área de comércio popular em Cabul, no Afeganistão - Foto: Hoshang Hashimi/AFP

Poucas mulheres e muito medo nas ruas de Cabul
Reportagem religião | conflito | família | Afeganistão associado a x x
Cabul, Afeganistão | AFP | terça-feira 17/08/2021 - 12:52 UTC-3 | 484 palavras

Por David FOX

Havia poucas mulheres nas ruas de Cabul nesta terça-feira (17), e os homens trocaram suas roupas ocidentais pelo tradicional traje afegão. Respira-se medo e receio em um Afeganistão sob um novo regime do Talibã.

Dois dias depois da volta dos talibãs ao poder, a vida cotidiana foi reativada na capital afegã, e alguns se aventuraram a sair de suas casas, mas com grande cautela.

Aparentemente, por precaução, as pessoas começaram a mudar seus hábitos, antecipando uma volta ao mesmo tipo de regime fundamentalista que conheceram no governo talibãs de 1996 a 2001. 

"O medo está aí", disse o gerente de uma mercearia, que pediu para não ser identificado.

Jogos, música, fotografias e televisão foram, então, proibidos. Ladrões tiveram suas mãos cortadas, assassinos foram executados em público, e se matava homossexuais. 

As mulheres ficaram proibidas de trabalhar e de sair sem um acompanhante masculino. As acusadas de adultério eram açoitados e apedrejadas até a morte. As meninas não puderam mais ir à escola. 

Os homens eram obrigados a usar longas barbas, comparecer às orações sob pena de serem açoitados e tinham de usar o traje tradicional, o shalwar kameez. 

O Ministério para a Promoção da Virtude e da Supressão do Vício fez o terror reinar. 

Até esta terça-feira ainda não havia sinais de que os talibãs vão impor a mesma versão ultraconservadora da lei islâmica de 20 anos atrás. Ainda assim, ninguém parecia disposto a correr o risco.

- Patrulhas nas ruas -
"Os talibãs estão patrulhando a cidade em pequenos comboios. Não incomodam ninguém, mas é claro que as pessoas estão com medo", disse um empresário à AFP, em Cabul, nesta terça.

A televisão estatal agora transmite, principalmente, programas islâmicos pré-gravados. 

A Tolo TV, primeira emissora privada do país, que fez muito sucesso nas últimas duas décadas com seus programa de jogos, novelas e shows de talentos, deixou de veicular seus programas regulares para dar lugar a uma série turca sobre o Império Otomano. 

Transmitiu, no entanto, um noticiário, em que uma apresentadora entrevista uma autoridade talibã.

Na terça-feira, os talibãs anunciaram uma anistia geral para todos os funcionários públicos, pedindo-lhes que voltassem ao trabalho, "com confiança". 

Os policiais encarregados do trânsito da capital reapareceram nas ruas, mas o movimento não era tão intenso como de costume.

Suhail Shaheen, um porta-voz dos talibãs, disse na noite de segunda-feira (16) que as mulheres não precisam temer: "Seu direito à educação também está protegido".

Os talibãs continuam sendo imprecisos, porém, sobre como pretendem governar o Afeganistão. E, hoje, nas ruas, seu comportamento variava.

"Alguns são amáveis e não dão problemas. Mas outros são duros (...) empurram e gritam com você sem motivo", relatou um homem que tentava chegar ao seu escritório, passando por um posto de controle talibã.

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