Seg, 22 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Opinião

Rumos, desafios e incertezas

Mesmo já tendo iniciado o ano de 2022, os primeiros dias estão prenhes de incertezas, bem maiores do que as que, corriqueiramente, costumamos ter a cada início de ano. O lado ruim é que, em grande parte, os rumos e os desafios desse recomeço ainda estão umbilical e delicadamente ligados à crise sanitária deflagrada com a pandemia e alastrados com as variantes e com a terrível gripe que assola o País.

Aquele conhecido jargão popular que diz “saúde é o que interessa; o resto não tem pressa”, nunca foi tão pertinente com o presente, ressalvando-se que nem todo o resto pode esperar.

Início de ano não é nada fácil para quem sustenta o País, que são os contribuintes que, honestamente, pagam seus tributos. Com os dois últimos anos tendo agravado os já crônicos problemas de desemprego, de renda e da economia, o abalo só aumenta, não só na já sofrida saúde físico-mental, mas na financeira. Conseguir pagar as contas, comer e morar, não são só proezas, mas privilégios de um número de pessoas que cada vez mais só decresce. Diante dessa situação, embora algumas políticas sociais do tipo “assistencialista” não sejam consenso, atualmente são inevitáveis, já que chegou o tempo em que as pessoas estão, verdadeiramente, morrendo de fome.

O desafio, porém, não se tornou maior somente devido ao surgimento e à propagação das indesejáveis doenças respiratórias, mas devido à notória falha de gestão ao lidar com coisas simples e óbvias, como a vacinação de crianças dos 5 aos 12 anos, travada no plano federal. Certamente, esse entrave desarrazoado poderá acarretar maior comprometimento futuro, com a propagação e a letalidade causadas pelo Covid. Submeter a questão à consulta pública, enquanto a autarquia federal, com a legitimidade da palavra, já autorizara a vacinação, é “dose”.

Enquanto isso as incertezas só vêm aumentando, não sendo surpresa se, daqui a pouco, houver necessidade de voltarmos às medidas de isolamento. Se o Ministério da Saúde permanecer com essa postura, os governos estaduais e municipais não terão alternativa, a não ser resguardar as crianças, com o retorno das aulas remotas. Pelo andar do barco, não dá para esperar muito, no plano federal, já que ainda esteve em discussão uma estéril audiência pública, com uma previsão de início de vacinação para a segunda quinzena de janeiro.

Urge que o Governo Federal reveja essa política de desincentivo à vacinação para que se possa dar andamento às outras áreas da vida que também precisam ser retomadas.
Saúde é o que interessa, mas o resto (que dela depende), também.


*Defensor Público do Estado de Pernambuco e professor

- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação.

Veja também

Newsletter