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Saiba como funciona teste psicométrico que fez mãe perder guarda de filhos na Dinamarca

Exame tem sido criticado por não levar em conta certas diferenças culturais e linguísticas entre o país e a Groenlândia, território dinamarquês autônomo

Mãe é reprovada em teste e perde tutela de filhos, na Dinamarca, por meio de criticada lei Mãe é reprovada em teste e perde tutela de filhos, na Dinamarca, por meio de criticada lei  - Foto: Reprodução

A Dinamarca aplica polêmicos testes psicométricos para medir a competência parental e proteger crianças — o que pode levar à retirada da guarda de crianças de alguns pais. Segundo o jornal britânico The Guardian, os filhos de pais groenlandeses que vivem no país, no entanto, têm muito mais probabilidade de serem colocados sob cuidados, após resultado destes testes, do que os de pais dinamarqueses. Um relatório de 2022 aponta que 5,6% das crianças de origem groenlandesa que vivem na Dinamarca são acolhidas, em comparação com apenas 1% das crianças de origem dinamarquesa.

O teste, oficialmente denominado forældrekompetenceundersøgelse (FKU), tem sido criticado por não levar em conta certas diferenças culturais e linguísticas entre o país e a Groenlândia, território dinamarquês autônomo.

 

Segundo a Agência Social e da Habitação, órgão vinculado ao governo local, trata-se de um exame de competência parental, que é um "teste psicológico de uma criança e dos pais com o objetivo de descobrir as necessidades individuais da criança e as competências dos pais para atender as necessidades".

"Podem existir várias razões concretas para que seja iniciada uma investigação sobre competência parental, por exemplo, quando o município tem de fazer uma escolha de medidas de acordo com a lei da criança [...]. Os exames de competência parental devem ser sempre realizados por um psicólogo licenciado", explica a entidade.

Segundo o órgão, as diretrizes usadas nestes testes são "orientações profissionais e indicativas que podem ser lidas na íntegra ou utilizadas como obra de referência" e foram elaboradas em conjunto com instituições como a Associação de Líderes Infantis e Culturais, a Associação Dinamarquesa de Psicólogos, a Associação Dinamarquesa de Conselheiros Sociais, a Associação Nacional de Municípios e o Ministério dos Assuntos Sociais e do Interior.

Segundo o Guardian, autoridades dinamarquesas defendem que o exame "está longe de ser a única ferramenta usada para avaliar se uma criança deve ou não ser removida de seus pais". Os críticos do exame apontam que ele não foi adaptado para pais de ascendência não dinamarquesa e, por isso, "não deve ser usado em seus casos".

“Os testes não levam em conta potenciais barreiras linguísticas ou diferenças culturais. Isso coloca os pais groenlandeses em risco de serem avaliados erroneamente em casos de colocação de crianças”, disse Louise Holck, diretora do Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos.

A rede de TV americana ABC aponta que um relatório de 2022 do Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos alertou que pontuações baixas nos testes poderiam ser uma representação imprecisa da capacidade cognitiva de um pai groenlandês. Recentemente, o teste de competência parental recebeu mais críticas depois que um bebê foi tirado de sua mãe groenlandesa.

Keira Alexandra Kronvold, de 38 anos, cuja primeira língua é o Kalaallisut, fez o teste em dinamarquês durante a gravidez, língua em que não é fluente. Poucas horas depois do parto, em 7 de novembro, as autoridades dinamarquesas chegaram ao hospital para lhe tirar a filha recém-nascida por ter sido reprovada no FKU. A mulher, agora, só pode visitar a criança uma vez por semana e sob supervisão.

Kronvold fez o teste do FKU em 2014, antes do nascimento de seu segundo filho e novamente enquanto estava grávida de sua terceira filha. Depois do ocorrido, ela disse ao Guardian que nesta última ocasião lhe disseram que era para ver se ela era “suficientemente civilizada”. O jornal diz que, após o primeiro teste, ela foi separada definitivamente do filho de oito meses e da filha de nove anos.

Não se sabe ao certo até que ponto os resultados dos exames influenciaram na decisão, mas acredita-se que eles tenham sido um dos motivos pelos quais, poucas horas depois de dar à luz sua terceira filha, o bebê lhe foi retirado.

— As autoridades levaram minha filha embora como se ela fosse uma mera estatística, sem entender que meu amor e minha tradição eram mais importantes do que qualquer resultado de exame — disse ela.

Na sequência do caso de Kronvold, ativistas apelaram para que os groenlandeses deixem de ser submetidos a esse tipo de testes.

"O ministro da Criança da Gronelândia, Aqqaluaq Egede, realizou uma reunião urgente na semana passada com a ministra dinamarquesa dos Assuntos Sociais e Habitação, Sophie Hæstorp Andersen. Egede disse mais tarde que a ministra dinamarquesa tinha prometido ordenar aos municípios que parassem de usar o teste. Mas a declaração, emitida na última quarta-feira, não chegou a uma proibição total", explicou o Guardian.

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